Considerações – 13ª parte
Depois de muito tempo volto a tecer minhas considerações sobre os exercícios de uma aula de técnica do ballet clássico. Meu plano, nesta postagem, é continuar de onde parei na postagem que escrevi em 2013 e falar um pouco sobre os ronds de jambes executados na barra.
Os Rond de jambes, são os exercícios de circundução [1] dos membros inferiores que vão preparar o corpo para os movimentos circulares pertinentes à técnica do balé clássico. No rond de jambe à terre (circulação dos membros inferiores com os pés no chão), todo o membro inferior faz um movimento circular indo do degagé à frente e levando até o degagé atrás passando pelo degagé ao lado, desenhando assim um meio círculo. Neste sentido apresentado (da frente para atrás) chamamos na linguagem do ballet de en-dehors que nada mais é do que uma circulação no sentido para fora, em relação à perna da base. No sentido contrário chamamos de en dedans ou circulação no sentido para dentro, em relação à perna de base. Nunca é demais enfatizar que, neste caso, o conceito de en dehors e en dedans tem a ver com o sentido do movimento e não com o trabalho de rotação externa da coxa que é mantida sempre durante o treino do ballet.
Ainda com relação aos rond de jambes, deve-se ter atenção com a manutenção da pelve neutra para que a cabeça do fêmur possa deslizar no acetábulo livremente e assim a musculatura executar o exercício de forma correta. A tendência do aluno iniciante é mexer a pelve elevando-a junto com o movimento dos membros inferiores, o que deve ser corrigido imediatamente. Esses movimentos circulares vão, ao longo da aula, saindo do chão até os chamados grand rond de jambes nos quais os membros inferiores estão elevados acima de 90º. Mais tarde eles serão associados com outros movimentos mais elaborados como saltos e giros. Os grand rond de jambes são muito utilizados nos duetos clássicos, quando as bailarinas, apoiadas por seus parceiros executam esses grandes círculos em alturas superiores a 120º. Considero um lindo movimento que trabalha toda musculatura que cruza o quadril e atua na coxa.
Existem ainda os rond de jambes en l’air de côté, que são executados da seguinte forma: com o membro inferior elevado ao lado em total extensão da perna e com plantiflexão, somente a perna faz uma flexão executando um pequeno círculo e retorna à extensão, enquanto a coxa se mantém (o máximo possível) estática e em rotação externa. Esses movimentos, que são bem pequenos podem ser feitos no sentido en dehors e no sentido en dedans. Depois de dominado o movimento, pode-se evoluir para os duplos, pode-se elevar mais as pernas e ainda combinar com saltos.
Importante enfatizar que todas as prerrogativas que foram já mencionadas nas minhas postagens anteriores como manutenção da rotação externa constante, plantiflexão[2] sempre que os pés saírem do chão com eversão[3], pelve neutra, manutenção dos músculos abdominais para a postura correta do bailarino, estão mantidas em todos os exercícios.
Na próxima postagem, pretendo continuar falando sobre os exercícios da barra e seguir com o importantíssimo battements fondus.
[1] Circundução é um movimento que combina sucessivamente os movimentos de flexão. extensão, adução, abdução e no qual o extremo distal do segmento descreve um círculo. (KENDALL, McCREARY, PROVANCE, 1995, p. 14)
[2] Também chamado de flexão plantar, ponta de pé ou pé esticado.
[3] Combinação de pronação com a abdução do antepé. (KENDALL, McCREARY, PROVANCE, 1995, p. 22)