Giselle é, provavelmente, o mais famoso ballet do período Romântico.
“Assim como Hamlet, Giselle é um clássico: não é apenas importante historicamente, também é bom (…). Pessoas vão assistir Giselle e bailarinas representando-a, pela mesma razão que vão assistir a novas representações de Hamlet: o trabalho é tão bom, que sempre descobrimos algo que não havíamos visto antes…” (Balanchine)
Carlota Grisi, Giselle. 1841.
História
Heinrich Heine (1797–1856) foi um poeta, novelista, jornalista e crítico literário alemão. Ele é bastante conhecido por suas poesias líricas para Lieders (canções) de Schumann e Schubert. Heine tinha uma visão e opiniões radicais sobre a política, o que fez com que autoridades alemãs proibissem boa parte de seus trabalhos. Em 1831, ele se mudou para a França, onde passou os últimos 25 anos de sua vida. Em 1835, ele lançou “De l’Allemagne”.
Théophile Gautier (1811–1872) foi poeta, dramaturgo, novelista, jornalista e crítico de arte francês. Considerado por Edwin Denby (um dos mais influentes críticos americanos de dança do séc. XX) — o melhor crítico de ballet de todos os tempos. Gautier se sentiu inspirado por uma passagem de “De l’Allemangne”, e escreveu para Heine:
“Meu querido Henri Heine,
Enquanto folheava o seu belo livro De l’Allemagne há algumas semanas atrás, me deparei com uma passagem charmosa (tem apenas que abrir o volume ao acaso). Era a passagem em que você fala de espíritos em vestidos brancos com bainha, que estão perpetuamente abatidos, fadas cujos pés de cetim marcam o teto da câmara nupcial, as Wilis, brancas como a neve, que dançam impiedosamente durante toda a noite, e que as aparições maravilhosas são encontradas nas montanhas Hartz e nas margens do Ilse, vislumbradas em uma névoa, banhadas pelo luar alemão – e eu disse em voz alta, “Que belo ballet alguém poderia fazer disso”…!
“Em um excesso de entusiasmo, eu peguei uma linda folha grande de papel branco e escrevi no topo com letras grandes: LES WILIS, ballet. Então comecei a rir e joguei o papel fora sem passar disso, dizendo para mim mesmo que era impossível traduzir tudo aquilo em termos teatrais, a poesia noturna enevoada, o mundo fantasma voluptuosamente sinistro, todos os efeitos da lenda que têm tão pouco em comum com os nossos costumes. Naquela noite no Opéra, minha cabeça ainda cheia de suas idéias, encontrei virando um corredor, o homem de grande inteligência (Saint-Georges) quem, adicionando muito dele mesmo, sabia exatamente como infundir um ballet com toda a fantasia e todo o capricho de Le Diable Amoureux, de Cazotte, o grande poeta que inventou Hoffmann em meados do Século XVIII, de acordo com a Encilopédia completa. Contei-lhe a lenda das Wilis. Três dias depois, o ballet Giselle foi concluído e aceito. Ao final da semana, Adolphe Adam havia composto a música, o cenário estava quase concluído e os ensaios entraram em pleno andamento.”
O ballet Sílfide, feito 9 anos antes, por Felipo Taglioni (12 Março de 1832), influenciou o libreto desde o início. Ou seja, o gênero romântico no ballet estava se consolidando. Um estilo que celebra a imaginação, os sonhos, a natureza, o sobrenatural, o romance e a tragédia.
A ideia das Wilis vem do conto de Heine, enquanto a ideia de uma condenação por dança, Saint-Georges tirou de um poema de Victor Hugo. Fontes divergem sobre o nome do poema, mas ao meu ver, a ideia vem de “Les Fantômes”, onde podemos encontrar a frase: “Ela amava muito dançar, e foi isso que a matou”.
Nesta época, os candelabros foram substituídos pela luz de gás, o que permitia que as luzes fossem reguladas durante o espetáculo. Fios e roldanas permitiam carregar bailarinos ao redor do palco, dando a impressão que eles estavam voando.
Gautier queria Carlotta Grisi no papel principal. Para ele, ela unia a poesia de Taglioni com o fogo e a coragem de Fanny Elssler. Gautier mostrou o libreto para o professor de ballet Jules Perrot, marido de Grisi. Perrot levou o libreto para o compositor Adolphe Adam, que mostrou para o diretor do Opéra, Léon Pillet, que aprovou o libreto de Giselle.
Jean Coralli, mestre sênior de ballet do Opéra de Paris, foi encarregado da produção. Embora Perrot tenha sido autorizado a criar as partes de Grisi, Perrot não recebeu nenhum crédito em programas ou cartazes pelas suas contribuições. Provavelmente, isto ocorreu por razões financeiras. Como colaborador, Perrot teria direito a uma parte dos royalties. É possível que Perrot tenha concordado com isso na esperança de ser nomeado mestre de ballet do Opéra.
Auguste Bournonville estava passando por Paris durante a criação de Giselle, e ficou com Perrot e Grisi durante várias semanas. Acredita-se que ele tenha dado consultoria para Perrot durante este período.
O ballet teve a sua estreia em 28 de Junho de 1841 no Opéra de Paris. Foi precedida pelo Terceiro Ato da ópera Moisés, de Rossine. Carlotta Grisi no papel de Giselle, Lucien Petipa (irmão mais novo de Marius Petipa) como Albrecht, o próprio Jean Coralli como Hilarion e Adèle Dumilâtre como Myrtha. O cenário foi uma criação de Pierre Ciceri e os costumes por Paul Lormier.
Adèle Dumilâtre como Myrtha
Em 12 de Março de 1842, o ballet foi apresentado em Londres no “Her Majesty’s Theatre”, com Grisi e Perrot nos papéis principais e Louise Fleury como Myrtha. No ano seguinte à estreia, o ballet foi apresentado em São Petersburgo, no Teatro Bolshoi, remontado por Titus, com Elena Andreyanova como Giselle. Em 1848, Jules Perrot chega à Rússia e remonta Giselle, e nesta produção, Marius Petipa representou Albrecht. Na Itália, ele estreou no Teatro alla Scala, em 17 de Janeiro de 1843, coreografado por A.Cortesi e música de N. Bajetti.
Nos Estados Unidos, o ballet estreou no Howard Atheneum, Boston, em 1º de Janeiro de 1846, com Mary Ann Lee e George Washigton Smith.
Não consegui encontrar a data da primeira representação de Giselle no Brasil. Busquei notícias em periódicos através do site da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. As ocorrências mais antigas são todas da década de 1950. Dentre elas, uma Crítica feita por Oswald de Oliveira para o jornal Fon-Fon, de 1951. Ele escreveu sobre o ballet apresentado na temporada do ano anterior (1950), remontado por Serge Lifar, com Tamara Toumanova no papel principal. No mesmo ano, no periódico “Diário da Noite”, fala-se de Toumanova se apresentando em São Paulo.
As versões modernas são baseadas na versão de Marius Petipa, de 1884. Hoje em dia, não se pode mais separar onde está o trabalho de Petipa e o original Perrot/Coralli. A versão dançada hoje pelo Mariinsky ballet é a mais próxima da versão deixada por Petipa. Muitos dizem que ela foi muito pouco modificada. A versão de Petipa está escrita no livro de Stepanov: Método de Notação Coreográfica.
Giselle saiu do repertório do Ópera de Paris em 1867. Só retornou com Diagilev e os Ballets Russes em 1910, com Karsavina e Nijinski nos papéis principais.
Libretto:
Embora o enredo do ballet seja sempre o mesmo, o libreto é parcialmente modificado, dependendo da versão que está sendo produzida. Pode ser mais curta, estar de acordo com um pensamento da época, ou outras razões. Trago aqui, um libreto que abrange as versões mais dançadas e respeitadas desse ballet.
Ballet fantástico em 2 atos.
Personagens:
Giselle: Jovem camponesa.
Albrecht: Duque da Silesia que finge ser um simples fazendeiro chamado “Loys”.
Hilarion: Camponês, protetor da floresta, apaixonado por Giselle.
Wilfrid: o escudeiro do Duque.
Bertha / Berthe: Mãe de Giselle.
Príncipe de Courtland.
Bathilde / Bathilda: Filha do Príncipe de Courtland, noiva de Albrecht.
Myrtha: Rainha das Wilis.
Zulma: Uma Wili.
Moyna / Monna: Uma Wili.
Existe uma lenda nos países eslavos, sobre dançarinas noturnas, chamadas de “Wilis”. As Wilis são noivas mortas na véspera do casamento, cuja alma não consegue descansar nas sepulturas. À meia-noite, elas levantam do túmulo e se encontram. Qualquer rapaz que cruze o caminho delas é forçado a dançar até a morte. Elas estão vestidas de noiva, arranjo de flores na cabeça e anel no dedo.
Ato I: O palco retrata os vales ensolarados da Alemanha. Ao fundo, vinhas nas montanhas e uma estrada que conduz ao vale. Hoje é bem mais comum ver um castelo ao fundo, provavelmente do Príncipe de Courtland. À esquerda, a casa de Berthe e Giselle. À direita, a cabana de Loys (o Duque Albrecht disfarçado de camponês).
Cena 1: Amanhece o dia da colheita. Os Camponeses, em festa, vão para os vinhedos.
Cena 2: Entra Hilarion. Observa, como que procurando por alguém. Com amor olha para a casa de Giselle, e com ódio olha para a cabana de Loys. A porta da cabana de Loys abre misteriosamente e Hilarion se esconde para olhar o que acontecerá. Ou, também pode ser que Hilarion vai embora e o Duque Albrecht (Loys) e o seu escudeiro WIlfrid chegam e vão para dentro da cabana.
Cena 3: De dentro da cabana, saem Albrecht e o seu escudeiro, Wilfrid. Albrecht pergunta a Wilfrid como ele está vestido, disfarçado de camponês. O escudeiro tenta convencer o duque a não fazer o que ele está planejando, mas este aponta para a casa de Giselle dizendo que lá mora a bela jovem a quem ele ama, e dá uma ordem para o escudeiro se retirar. Wilfrid, devagar, curva-se respeitosamente e vai embora.
Hilarion fica surpreso ao ver um nobre elegante se curvar de tal forma diante de um simples camponês. Na sua cabeça surgem suspeitas que ele tentará desvendar. (Isso acontece na versão onde Hilarion não sai do palco antes da entrada de Albrecht e seu escudeiro)
Cena 4: Loys vai até a casa de Giselle e bate na porta. Ela sai. Loys demonstra o seu amor por ela. Ela pega uma flor para fazer mal me quer – bem me quer. O resultado é mal me quer. Ela joga a flor no chão e se afasta. Ele pega a flor, retira uma pétala e leva para ela ver, dizendo que ela havia contado errado. Ela acredita.
Hilarion vai até eles e censura Giselle pelo seu modo de agir. Ela diz a Hilarion que ama Loys e vira o rosto. Hilarion se ajoelha diante de Giselle e insiste no seu amor. Albrecht tira Hilarion de perto de Giselle. Hilarion pega uma adaga e ameaça Albrecht, que sem pensar, coloca as mãos no quadril, lugar de onde sacaria a espada. Hilarion fica ainda mais desconfiado com essa ação tão automática de sacar uma espada (apenas ricos tinham espadas).
Cena 5: Entram garotas, amigas de Giselle, que vieram chamá-la para o trabalho. Giselle quer dançar e chama suas amigas para acompanhá-la. Elas largam suas cestas e começam a dançar. Giselle, no meio da dança, troca carícias com Albrecht. Berthe sai da casa.
Cena 6: Berthe encontra Giselle e pergunta o que ela estava fazendo. Giselle responde que estava dançando. Bertha alerta a sua filha sobre o que pode acontecer se ela ficar dançando. Pega em seu coração e diz que isso pode representar a sua morte, dando a entender que Giselle tem o coração fraco.
As camponesas pegam as suas cestas e seguem para o trabalho da colheita.Todos saem. Berthe leva a sua filha para casa. Ela vai, mas mandando beijos no ar para Albrecht, que fica sozinho em cena, pensativo.
De longe, ouve-se o som de uma corneta. Wilfrid vem avisar ao Duque que os nobres estão a caminho. Eles saem.
Cena 7: Hilarion aparece, pensa e, com cuidado para que ninguém o veja, resolve entrar secretamente na cabana de Loys.
Cena 8: Chegam os nobres, dentre eles: O Príncipe de Courtland e a sua filha, princesa Bathilde, vindos da caça. Chegam também os camponeses. Os nobres estão cansados e com sede. O encarregado da caça aponta para a casa de Berthe e vai bater a sua porta. Berthe sai e o encarregado da caça lhe pede um lugar para descanso e algo para beber. Berthe pede aos camponeses que busquem uma mesa e cadeiras, e pede à Giselle que traga uma jarra com bebida.
Giselle traz e faz de tudo para receber bem os nobres visitantes. Chama-lhes para sentar, serve a bebida. Giselle fica admirando os trajes de Bathilde. Bathilde pergunta-lhe o que ela faz. Ela diz que trabalha e que adora dançar, demostrando um pouco da sua dança. Giselle também conta à princesa que é noiva e irá se casar. Bathilde demonstra interesse em conhecer o noivo, Giselle olha ao redor, mas não vê Loys. A princesa conta que também está noiva e presenteia a camponesa com um colar que tira do próprio pescoço.
O Príncipe está muito cansado para continuar a caça, então vai para a casa de Berthe descansar, com a sua filha. Berthe e Giselle também vão para casa. Todos saem. O responsável pela caça, antes de sair, deixa pendurada a corneta do lado de fora da casa de Berthe, para que o Príncipe chame os nobres ao acordar.
Cena 9: Hilarion sai da cabana de Albrecht com a espada do Duque, que encontrou lá dentro, e vai bater na casa de Giselle, mas ao notar a corneta pendurada, compara os brasões e agora tem certeza de quem Loys é de verdade. Hilarion decide esperar para revelar a verdade na frente de todos. Ele, então, esconde a espada em um canto.
Cena 10: Os camponeses retornam da colheita com um carrinho de madeira repleto de uva. Decidem chamar Giselle para a festa. Colocam uma coroa de flores na sua cabeça. Albrecht reaparece após verificar que nenhum nobre estava por perto. Após a dança, os dois heróis se beijam.
Cena 11: Hilarion não consegue segurar o seu ciúme e conta à Giselle quem é Loys, mostrando a espada. Albrecht nega. Hilarion, então, sopra a corneta. Albrecht, com raiva, pega a espada e corre para atacar Hilarion.
Cena 12: Ao som do chamado, os nobres retornam e o Príncipe e a princesa saem da casa de Berthe. Eles vêem Albrecht e lhe perguntam sobre os trajes que ele está vestindo. Ele se desculpa e beija a mão de sua verdadeira noiva, Bathilde.
Cena 13: Giselle entra no meio dos dois e pergunta à Bathilde o que está acontecendo. Giselle lhe diz que aquele é seu noivo. Bathilde diz o mesmo. Giselle então joga o colar que ganhou da princesa no chão e corre em direção a sua casa, caindo nos braços de sua mãe, que tenta consolá-la.
Giselle enlouquece. Ela vê a espada, pega, diz para todos ficarem longe dela e então tenta se matar com a espada, mas é impedida por Hilarion/ ou pela sua mãe. Ela começa a relembrar a dança que fez com Loys. Em seu último suspiro, ela olha para Albrecht, depois cai morta.
Albrecht pega e espada e quer atacar Hilarion, mas Wilfrid, seu escudeiro, o detém. Wilfrid o leva embora. Fica uma multidão ao redor da jovem morta. Berthe chora a morte da filha segurando o seu corpo.
Ato II:
O palco mostra uma floresta às margens de um lago. Entre o frio e a umidade, juncos, flores e plantas silvestres, plantas aquáticas, álamos e salgueiros, com uma folhagem pálida que desce para a terra. À esquerda, sob o cipreste, uma cruz branca de mármore, na qual está escrito Giselle. O túmulo está imerso entre grama e flores. A luz azul da lua ilumina essa imagem fria e nebulosa.
Cena 1: Hilarion chora ajoelhado na sepultura de Giselle. Entram alguns caçadores que buscam um lugar conveniente para colocar armadilhas para presas.
Cena 2: Ao fundo se escuta o badalar de sinos. Deu meia-noite, a hora que, segundo a lenda, as Wilis saem de seus túmulos para dançar. Ouve-se uma música fantástica, todos ficam apavorados e correm para todos os lados. Aparecem faíscas por todos os lados. Eles saem.
Cena 3: O junco se afasta devagar e de dentro das plantas úmidas, surge Myrtha, rainha das Wilis – uma sombra transparente e pálida. Com a sua aparição, começa a surgir luz em todos os lugares, iluminando a floresta e afastando as sombras noturnas. Isso acontece sempre que as Wilis aparecem. Nos ombros brancos de Myrtha, tremem duas asas transparentes, sob as quais, a Wili pode se esconder, como se fosse um cobertor de gás.
A visão fantasmagórica não fica parada nenhum minuto. Voa por todos os lados, olhando o seu reino, que possui todas as noites. Ela se banha nas águas do lago, se pendura e balança nos galhos de salgueiro. Após a execução de sua dança, Myrtha quebra um galho de alecrim e toca com ele cada arbusto e árvore.
Cena 4: Ao toque do galho, as flores, arbustos e a grama se abrem, de onde saem as outras Wilis, que vêm rodear Myrtha, literalmente, como a abelha rainha. Myrtha espalha asas azuis sobre suas súditas e lhes dá o sinal para a dança. Algumas Wilis dançam na frente de sua dama.
(*Tirado do libreto russo) – Primeiramente Monna, odalisca, apresenta uma dança oriental. Após ela, Zulma, bayadére, executa uma dança Hindu lenta. Depois duas francesas dançam Minueto, depois delas, duas alemãs valsam.
Cena 5: Um feixe luminoso incide sobre o túmulo de Giselle. As flores que crescem nele endireitam o caule, levantam a “cabeça”, abrindo o caminho para uma sombra branca que elas guardavam.
Giselle aparece, envolta em um manto leve. Ela vai até Myrtha, que a toca com o galho de alecrim, o manto cai. Giselle se torna uma Wili. As asas crescem e aparecem nela. Os pés escorregam pelo chão, ela dança, ou melhor; flutua pelo chão, como suas irmãs, relembrando a dança que fazia antes da morte.
Escuta-se um barulho. Todas as Wilis fogem e se escondem nos juncos.
Cena 6: Albrecht leva flores para o túmulo de Giselle. De repente, ele empalidece e a sua atenção é chamada por uma aparição. Albrecht fica surpreso ao reconhecer Giselle, que olha para ele com amor.
Cena 7: O Duque tenta segurar sua amada, mas não consegue. Ela lhe manda beijos, joga-lhe flores, mas quando o duque está certo de que conseguiu segurá-la, ela some. Albrecht, em desespero, quer deixar este lugar triste. Mas começa a testemunhar uma cena terrível, da qual não consegue desviar o olhar.
Cena 8: Hilarion, pálido, trêmulo e quase morto de medo, implora por piedade às Wilis, que o perseguem. Mas a rainha das Wilis, ao tocá-lo com seu galho, força-o a se levantar e repetir a dança, que começa a executar.
Hilarion, movido por um feitiço, dança contra a sua vontade. Ele dança com uma Wili, e, ao pensar que a sua parceira está se cansando, ela logo é substituída por outra, e assim sucessivamente. No final, exausto e cheio de dores, Hilarion tenta fugir, mas as Wilis o cercam com sua dança, que vai se afunilando e ficando mais rápida. O feitiço o faz dançar, e novamente uma parceira substitui outra.
Hilarion não está mais aguentando, então Myrtha, a rainha, dança com ele. Ele novamente passa por todas, até ser induzido ao abismo, ou ao lago, onde é jogado/ ou cai, e morre. As Wilis comemoram até uma delas notar a presença de Albrecht. O Duque é conduzido ao centro da dança.
Cena 9: As Wilis ficam animadas com a nova vítima e o cercam. Mas, no momento em que Myrtha tocará Albrecht com seu galho mágico, obrigando-o a dançar, Giselle corre e segura a mão de sua rainha.
Cena 10: Giselle diz para Albrecht correr, pois se ele começar a dançar irá morrer. Morrerá como Hilarion — ela completa — apontando para o lago/abismo. Vendo a dúvida do seu amado, Giselle, então, pega a sua mão e o leva para a cruz, o símbolo sagrado é a única chance de salvação.
Myrtha e as Wilis os perseguem, mas com a proteção de Giselle, Albrecht consegue chegar até a cruz. As Wilis não conseguem atacar Albrecht, uma força desconhecida as afasta. A rainha quer vingar-se daquela que sequestrou a sua presa, então, ergue a sua mão sobre Giselle. As asas da heroína se abrem e ela começa uma dança graciosa e apaixonada. Albrecht observa em pé, imóvel, mas logo, o encanto e o fascínio da dança da Wili o atrai, involuntariamente, e é exatamente isso que Myrtha queria. Albrecht deixa a cruz – a salvação da morte – e vai até Giselle. Ela, apavorada, implora para que ele volte para lá, mas a rainha toca Giselle, e esta é obrigada a continuar a sua dança atraente. Isso é repetido mais de uma vez.
Finalmente, atraído pela paixão, Albrecht se afasta da cruz e vai até Giselle, que ainda tenta pará-lo. A essência de Giselle vence mais uma vez, e eles começam uma dança aérea.
As Wilis entram na dança deles e os cercam.
Um cansaço mortal começa a tomar conta de Albrecht. Giselle vai até ele, com lágrima nos olhos, mas por um gesto da rainha, ela é obrigada a voar novamente para longe. Mais um pouco e Albrecht morrerá.
De repente, começa a raiar o dia. A noite desaparece, e com ela, o fantástico e tempestuoso baile das Wilis vai penetrando nas entranhas da vegetação de onde veio. Com o raiar do dia, as flores noturnas murcham.
Vendo isso, Giselle novamente se enche de esperança na salvação de Albrecht. Ela inclina-se suavemente sobre as mãos fracas do seu amado, e assim como suas irmãs, começa a sentir os efeitos adversos do dia. Ela é arrastada pelo seu destino inevitável e aproxima-se do seu túmulo.
Albrecht, percebendo o que aguarda Giselle, a carrega para longe da Sepultura. Ele se ajoelha e a beija, como se desejasse entregar-lhe a sua própria alma para que Giselle retorne à vida. Mas ela lhe mostra o sol brilhando, dizendo que é necessário submeter-se ao seu destino e que devem se separar para sempre.
Albrecht fica só, cai de joelhos desolado (Hoje). Fim. Ou:
Cena 11: Ressoa o som da corneta. Albrecht a escuta com medo, Giselle com felicidade. Entra correndo o fiel escudeiro, Wilfrid. Ele guia o príncipe, Bathilde e uma comitiva numerosa. Ele os levou até Albrecht na esperança de que consigam resgatar o Duque. Albrecht corre até o seu escudeiro e pede para ele parar — no momento que a vida de Giselle está desaparecendo.
Albrecht volta e observa com surpresa e tristeza. Ele vê que Giselle afunda mais e mais em seu túmulo. Giselle mostra Bathilde a Albrecht, dobrando os joelhos, faz um apelo, estendendo os braços para ele. Giselle pede a seu amante que dê o seu amor e lealdade àquela moça. Este era o seu último desejo, seu pedido.
Com um último pedido de perdão, Giselle desaparece em meio às flores e grama, que a cobrem por definitivo.
Albrecht arranca algumas flores que acabaram de cobrir Giselle. Amorosamente, ele as leva até os lábios, beija e depois aperta contra o seu peito. Um pedido de Giselle para ele é sagrado. Ele cai enfraquecido nos braços da comitiva, estendendo a sua mão para Bathilde. Fim.
Sequência da Partitura
Ato I
- Nº1 — Introdução
- Nº2 — Cena 1
- Nº3 — Entrada de Albrecht
- Nº4 — Entrada de Giselle
- Nº5 — Cena dançante
- Interpolação — Pas de deux para Maria Gorshenkova (Ludwig Minkus; 1884).
- Nº6 — Cena de Hilarion
- Nº7 — Regresso da colheita
- Interpolação — Pas de cinq para Carlotta Grisi (Cesare Pugni; 1850)
- Nº8 — Valsa
- Nº9 — Cena dançante
- Nº10 – Berthe
- Nº11 – Cena: A caça Real
- Nº12 – Cena de Hilarion
- Nº13 – Marcha dos colhedores
- Interpolação – Variação para Elena Cornalba, também conhecida como Pas Seul. (Riccardo Drigo, 1888).
- Interpolação — Pas de deux para Nathalie Fitzjames, também conhecido como Peasant pas de deux.
– Tirado da obra “Souvenirs de Ratisbonne” de Johann Friedrich Franz Burgmüller, 1841:
a. Entrada
b. Andante
c. Variação
d. Variação
Interpolação – variação feminina suplementar. (Teatro Mariinsky. Riccardo Drigo?; do ballet “Brincadeira de Cupido”; 1890)
e. Variação
f.Coda
- Nº14 – Galop générale
- Nº15 – Grand cena dramática: A loucura de Giselle
Ato II
- Nº16 — Introdução e cena
- Nº17 — Entrada e dança de Myrtha
- Nº18 — Entrada das Wilis
- Nº19 — Grand pas das Wilis
- Nº20 — Entrada de Giselle
- Nº21 — Entrada de Albrecht
- Nº22 — Aparição de Giselle
- Nº23 — A morte de Hilarion
- Nº24 — Cena das Wilis
- Nº25 — Grand pas d’action:
a. Grand adage
b. Variação de Giselle
c. Variação de Albrecht
Interpolação – Variação para Adèle Grantzow (Supostamente composta por Cesare Pugni; 1867)
d. Coda
- Nº26 — Cena final
Sobre a Partitura
Giselle foi o primeiro ballet com uma música inteiramente composta para ele. Antes, as músicas dos mais famosos ballets eram melodias pré-existentes arranjadas, que usavam um conjunto de canções populares, reorganizadas e orquestradas em uma forma dançante. Foi um dois primeiros ballets a usar leitmotifs – motivo musical condutor; um tema musical que identifica um personagem. Como os temas de Albrecht e Giselle, de Hilarion e das Wilis. Os leitmotifs também acontecem na coreografia. Giselle relembra a dança que fez com Albrecht, no início do ballet, na cena da loucura e logo quando reaparece no segundo ato.
A música para o famoso “Peasant Pas de Deux” foi composta por Frédéric Burgmüller e acrescentada na primeira apresentação para agradar a um patrono rico, cuja amante era Nathalie Fitzjames, a dançarina que recebeu o papel da menina camponesa. A sua colocação no Ato I varia, assim como o número de bailarinos que a dançam.
Ludwig Minkus fez várias mudanças na partitura para as produções de São Petersburgo. A variação de Giselle foi composta por ele e inserida na produção de 1864. Ficou tão popular, que foi adicionada à partitura original de Adam.
Fatos Curiosos:
- Segundo as memórias de Adam, o esboço da partitura de Giselle foi concluído em 8 dias, e a partitura completa foi escrita em 3 semanas. Foram dados 2 meses para o ensaio da coreografia.
- Gautier pensou desde o início em Grisi como Giselle, por quem era apaixonado. Ela tinha 21 anos na época e tinha um relacionamento com o professor e coreógrafo Perrot. Théophile Gautier era casado com a cantora Ernestina Grisi, irmã da bailarina Carlotta.
- Giselle se diferenciou dos outros ballets da era romântica pelo fato da heroína principal ser uma jovem comum, e não uma criatura misteriosa, embora no segundo ato, ela se torna um fantasma.
- Segundo algumas fontes na internet, as Wilis solistas: Zulma e Monna, morreram por suicídio. Zulma, cuja variação é baseada em saltos, morreu ao pular de um abismo, e Monna, cuja variação é cheia de Renversées, morreu ao se jogar em um rio com forte correnteza e repleto de redemoinhos.
- Com a versão em alemão, o livro “De l’Allemagne” foi dividido em dois livros: Zur Geschichte der Religion und Philosophie in Deutschland (“Na História da Religião e Filosofia na Alemanha”) e Die Romantische Schule (“A Escola Romântica”).
- É conhecido que, nas suas redações de ballets antigos, Petipa tirava tudo que ele considerava supérfluo. Então, provavelmente, foi em sua redação de 1884 (5 de Novembro), que ele eliminou a cena final.
- A versão dançada pelo Teatro Municipal do Rio de Janeiro foi feita para o Royal Ballet de Londres, por Peter Wright, em 1961.
- Elementos do libreto original, que são raramente vistos hoje, são: uma cena mímica onde Giselle conta para Loys que teve um sonho em que ele estava apaixonado por uma linda nobre (logo quando ela sai da casa e antes de fazer o bem-me-quer). A entrada de vários caçadores a cavalo, e uma procissão grandiosa para os coletores de videiras no Ato I. No Ato II, hoje falta os caçadores jogando dados, no início do ato, e um encontro entre os camponeses e as Wilis. Albrecht testemunhando a morte de Hilarion, escondido de trás de uma árvore, e Bathilde retornando para resgatar Albrecht, no final do ballet.
- Parece que Gautier apoiou a idéia de Giselle morrer de uma ferida derivada da espada de Albrecht. Para a Rússia de Petipa, o suicídio era inadequado. Portanto, ele estabeleceu a morte pelos efeitos do choque emocional e tristeza em um coração fraco.
Sobre Giselle de Mats Ek
“Minha versão de Giselle é uma tentativa de recontar a história. Para mim, Giselle — e isso também se aplica ao ballet antigo – é sobre o amor. Amor, que na antiga versão vence a morte. Que difere da minha. Mas o amor continua a ser a principal questão.” (Mats Ek)
Mats Ek é um grande bailarino e coreógrafo Sueco. Nascido em 18 de Abril de 1945, em Malmö. Ele é filho do ator Andres Ek e da coreógrafa Birgit Cullberg, ex-diretora do Cullberg Ballet, a quem ele substituiu.
Em 1982, ele estreia a sua versão de Giselle. Um ballet contemporâneo, com 16 bailarinos no total. Giselle aparece descalça e com uma boina puxada sobre a testa. Alguns entendem essa Giselle como a “idiota da vila”, outros, mais como uma desajustada, que vê e ouve coisas que os outros não. Hilarion, seu noivo, a ama, mas é incapaz de compreendê-la, e a mantém presa em uma corda, como um animal.
Os aldeões são retratados como um grupo de trabalhadores miseráveis, à beira de uma revolta social.
Giselle é pura, espontânea e natural. Revelando para Albrecht o seu mundo interno, o jovem, recém-chegado na cidade, fica fascinado pela riqueza de sua imaginação e pela sua doçura. Bathilde ganha mais espaço na versão de Mats Ek do que tinha na versão tradicional.
A mãe de Giselle, Berthe, não aparece.
O segundo ato se passa no ambiente surreal de um manicômio, que tem partes do corpo humano decorando as paredes. Giselle passa por uma lobotomia e é levada para a ala onde Myrtha é a enfermeira encarregada. As Wilis são pacientes vestidas de branco. São presas condenadas à frustação.
A figura de caipira hostil de Hilarion se transforma em uma de compaixão, quando ele vai visitar Giselle, esperando que não seja tarde demais para trazê-la de volta à realidade. Mas, assim como na versão tradicional, ela já estava em outro mundo.
No fim, Albrecht e Hilarion se reconciliam. Ambos amam a mesma mulher, e ambos a perdem. Albrecht é deixado sozinho, nu, no local onde ele conheceu Giselle, e Hilarion o cobre com um cobertor.
Vídeos:
Versão tradicional:
Nureyev, Lynn Seymoure Monica Mason:
Teatro Alla Scala:
Giselle é, provavelmente, o mais famoso ballet do período Romântico.
“Assim como Hamlet, Giselle é um clássico: não é apenas importante historicamente, também é bom (…). Pessoas vão assistir Giselle e bailarinas representando-a, pela mesma razão que vão assistir a novas representações de Hamlet: o trabalho é tão bom, que sempre descobrimos algo que não havíamos visto antes…” (Balanchine)
Carlota Grisi, Giselle. 1841.
História
Heinrich Heine (1797–1856) foi um poeta, novelista, jornalista e crítico literário alemão. Ele é bastante conhecido por suas poesias líricas para Lieders (canções) de Schumann e Schubert. Heine tinha uma visão e opiniões radicais sobre a política, o que fez com que autoridades alemãs proibissem boa parte de seus trabalhos. Em 1831, ele se mudou para a França, onde passou os últimos 25 anos de sua vida. Em 1835, ele lançou “De l’Allemagne”.
Théophile Gautier (1811–1872) foi poeta, dramaturgo, novelista, jornalista e crítico de arte francês. Considerado por Edwin Denby (um dos mais influentes críticos americanos de dança do séc. XX) — o melhor crítico de ballet de todos os tempos. Gautier se sentiu inspirado por uma passagem de “De l’Allemangne”, e escreveu para Heine:
“Meu querido Henri Heine,
Enquanto folheava o seu belo livro De l’Allemagne há algumas semanas atrás, me deparei com uma passagem charmosa (tem apenas que abrir o volume ao acaso). Era a passagem em que você fala de espíritos em vestidos brancos com bainha, que estão perpetuamente abatidos, fadas cujos pés de cetim marcam o teto da câmara nupcial, as Wilis, brancas como a neve, que dançam impiedosamente durante toda a noite, e que as aparições maravilhosas são encontradas nas montanhas Hartz e nas margens do Ilse, vislumbradas em uma névoa, banhadas pelo luar alemão – e eu disse em voz alta, “Que belo ballet alguém poderia fazer disso”…!
“Em um excesso de entusiasmo, eu peguei uma linda folha grande de papel branco e escrevi no topo com letras grandes: LES WILIS, ballet. Então comecei a rir e joguei o papel fora sem passar disso, dizendo para mim mesmo que era impossível traduzir tudo aquilo em termos teatrais, a poesia noturna enevoada, o mundo fantasma voluptuosamente sinistro, todos os efeitos da lenda que têm tão pouco em comum com os nossos costumes. Naquela noite no Opéra, minha cabeça ainda cheia de suas idéias, encontrei virando um corredor, o homem de grande inteligência (Saint-Georges) quem, adicionando muito dele mesmo, sabia exatamente como infundir um ballet com toda a fantasia e todo o capricho de Le Diable Amoureux, de Cazotte, o grande poeta que inventou Hoffmann em meados do Século XVIII, de acordo com a Encilopédia completa. Contei-lhe a lenda das Wilis. Três dias depois, o ballet Giselle foi concluído e aceito. Ao final da semana, Adolphe Adam havia composto a música, o cenário estava quase concluído e os ensaios entraram em pleno andamento.”
O ballet Sílfide, feito 9 anos antes, por Felipo Taglioni (12 Março de 1832), influenciou o libreto desde o início. Ou seja, o gênero romântico no ballet estava se consolidando. Um estilo que celebra a imaginação, os sonhos, a natureza, o sobrenatural, o romance e a tragédia.
A ideia das Wilis vem do conto de Heine, enquanto a ideia de uma condenação por dança, Saint-Georges tirou de um poema de Victor Hugo. Fontes divergem sobre o nome do poema, mas ao meu ver, a ideia vem de “Les Fantômes”, onde podemos encontrar a frase: “Ela amava muito dançar, e foi isso que a matou”.
Nesta época, os candelabros foram substituídos pela luz de gás, o que permitia que as luzes fossem reguladas durante o espetáculo. Fios e roldanas permitiam carregar bailarinos ao redor do palco, dando a impressão que eles estavam voando.
Gautier queria Carlotta Grisi no papel principal. Para ele, ela unia a poesia de Taglioni com o fogo e a coragem de Fanny Elssler. Gautier mostrou o libreto para o professor de ballet Jules Perrot, marido de Grisi. Perrot levou o libreto para o compositor Adolphe Adam, que mostrou para o diretor do Opéra, Léon Pillet, que aprovou o libreto de Giselle.
Jean Coralli, mestre sênior de ballet do Opéra de Paris, foi encarregado da produção. Embora Perrot tenha sido autorizado a criar as partes de Grisi, Perrot não recebeu nenhum crédito em programas ou cartazes pelas suas contribuições. Provavelmente, isto ocorreu por razões financeiras. Como colaborador, Perrot teria direito a uma parte dos royalties. É possível que Perrot tenha concordado com isso na esperança de ser nomeado mestre de ballet do Opéra.
Auguste Bournonville estava passando por Paris durante a criação de Giselle, e ficou com Perrot e Grisi durante várias semanas. Acredita-se que ele tenha dado consultoria para Perrot durante este período.
O ballet teve a sua estreia em 28 de Junho de 1841 no Opéra de Paris. Foi precedida pelo Terceiro Ato da ópera Moisés, de Rossine. Carlotta Grisi no papel de Giselle, Lucien Petipa (irmão mais novo de Marius Petipa) como Albrecht, o próprio Jean Coralli como Hilarion e Adèle Dumilâtre como Myrtha. O cenário foi uma criação de Pierre Ciceri e os costumes por Paul Lormier.
Adèle Dumilâtre como Myrtha
Em 12 de Março de 1842, o ballet foi apresentado em Londres no “Her Majesty’s Theatre”, com Grisi e Perrot nos papéis principais e Louise Fleury como Myrtha. No ano seguinte à estreia, o ballet foi apresentado em São Petersburgo, no Teatro Bolshoi, remontado por Titus, com Elena Andreyanova como Giselle. Em 1848, Jules Perrot chega à Rússia e remonta Giselle, e nesta produção, Marius Petipa representou Albrecht. Na Itália, ele estreou no Teatro alla Scala, em 17 de Janeiro de 1843, coreografado por A.Cortesi e música de N. Bajetti.
Nos Estados Unidos, o ballet estreou no Howard Atheneum, Boston, em 1º de Janeiro de 1846, com Mary Ann Lee e George Washigton Smith.
Não consegui encontrar a data da primeira representação de Giselle no Brasil. Busquei notícias em periódicos através do site da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. As ocorrências mais antigas são todas da década de 1950. Dentre elas, uma Crítica feita por Oswald de Oliveira para o jornal Fon-Fon, de 1951. Ele escreveu sobre o ballet apresentado na temporada do ano anterior (1950), remontado por Serge Lifar, com Tamara Toumanova no papel principal. No mesmo ano, no periódico “Diário da Noite”, fala-se de Toumanova se apresentando em São Paulo.
As versões modernas são baseadas na versão de Marius Petipa, de 1884. Hoje em dia, não se pode mais separar onde está o trabalho de Petipa e o original Perrot/Coralli. A versão dançada hoje pelo Mariinsky ballet é a mais próxima da versão deixada por Petipa. Muitos dizem que ela foi muito pouco modificada. A versão de Petipa está escrita no livro de Stepanov: Método de Notação Coreográfica.
Giselle saiu do repertório do Ópera de Paris em 1867. Só retornou com Diagilev e os Ballets Russes em 1910, com Karsavina e Nijinski nos papéis principais.
Libretto:
Embora o enredo do ballet seja sempre o mesmo, o libreto é parcialmente modificado, dependendo da versão que está sendo produzida. Pode ser mais curta, estar de acordo com um pensamento da época, ou outras razões. Trago aqui, um libreto que abrange as versões mais dançadas e respeitadas desse ballet.
Ballet fantástico em 2 atos.
Personagens:
Giselle: Jovem camponesa.
Albrecht: Duque da Silesia que finge ser um simples fazendeiro chamado “Loys”.
Hilarion: Camponês, protetor da floresta, apaixonado por Giselle.
Wilfrid: o escudeiro do Duque.
Bertha / Berthe: Mãe de Giselle.
Príncipe de Courtland.
Bathilde / Bathilda: Filha do Príncipe de Courtland, noiva de Albrecht.
Myrtha: Rainha das Wilis.
Zulma: Uma Wili.
Moyna / Monna: Uma Wili.
Existe uma lenda nos países eslavos, sobre dançarinas noturnas, chamadas de “Wilis”. As Wilis são noivas mortas na véspera do casamento, cuja alma não consegue descansar nas sepulturas. À meia-noite, elas levantam do túmulo e se encontram. Qualquer rapaz que cruze o caminho delas é forçado a dançar até a morte. Elas estão vestidas de noiva, arranjo de flores na cabeça e anel no dedo.
Ato I: O palco retrata os vales ensolarados da Alemanha. Ao fundo, vinhas nas montanhas e uma estrada que conduz ao vale. Hoje é bem mais comum ver um castelo ao fundo, provavelmente do Príncipe de Courtland. À esquerda, a casa de Berthe e Giselle. À direita, a cabana de Loys (o Duque Albrecht disfarçado de camponês).
Cena 1: Amanhece o dia da colheita. Os Camponeses, em festa, vão para os vinhedos.
Cena 2: Entra Hilarion. Observa, como que procurando por alguém. Com amor olha para a casa de Giselle, e com ódio olha para a cabana de Loys. A porta da cabana de Loys abre misteriosamente e Hilarion se esconde para olhar o que acontecerá. Ou, também pode ser que Hilarion vai embora e o Duque Albrecht (Loys) e o seu escudeiro WIlfrid chegam e vão para dentro da cabana.
Cena 3: De dentro da cabana, saem Albrecht e o seu escudeiro, Wilfrid. Albrecht pergunta a Wilfrid como ele está vestido, disfarçado de camponês. O escudeiro tenta convencer o duque a não fazer o que ele está planejando, mas este aponta para a casa de Giselle dizendo que lá mora a bela jovem a quem ele ama, e dá uma ordem para o escudeiro se retirar. Wilfrid, devagar, curva-se respeitosamente e vai embora.
Hilarion fica surpreso ao ver um nobre elegante se curvar de tal forma diante de um simples camponês. Na sua cabeça surgem suspeitas que ele tentará desvendar. (Isso acontece na versão onde Hilarion não sai do palco antes da entrada de Albrecht e seu escudeiro)
Cena 4: Loys vai até a casa de Giselle e bate na porta. Ela sai. Loys demonstra o seu amor por ela. Ela pega uma flor para fazer mal me quer – bem me quer. O resultado é mal me quer. Ela joga a flor no chão e se afasta. Ele pega a flor, retira uma pétala e leva para ela ver, dizendo que ela havia contado errado. Ela acredita.
Hilarion vai até eles e censura Giselle pelo seu modo de agir. Ela diz a Hilarion que ama Loys e vira o rosto. Hilarion se ajoelha diante de Giselle e insiste no seu amor. Albrecht tira Hilarion de perto de Giselle. Hilarion pega uma adaga e ameaça Albrecht, que sem pensar, coloca as mãos no quadril, lugar de onde sacaria a espada. Hilarion fica ainda mais desconfiado com essa ação tão automática de sacar uma espada (apenas ricos tinham espadas).
Cena 5: Entram garotas, amigas de Giselle, que vieram chamá-la para o trabalho. Giselle quer dançar e chama suas amigas para acompanhá-la. Elas largam suas cestas e começam a dançar. Giselle, no meio da dança, troca carícias com Albrecht. Berthe sai da casa.
Cena 6: Berthe encontra Giselle e pergunta o que ela estava fazendo. Giselle responde que estava dançando. Bertha alerta a sua filha sobre o que pode acontecer se ela ficar dançando. Pega em seu coração e diz que isso pode representar a sua morte, dando a entender que Giselle tem o coração fraco.
As camponesas pegam as suas cestas e seguem para o trabalho da colheita.Todos saem. Berthe leva a sua filha para casa. Ela vai, mas mandando beijos no ar para Albrecht, que fica sozinho em cena, pensativo.
De longe, ouve-se o som de uma corneta. Wilfrid vem avisar ao Duque que os nobres estão a caminho. Eles saem.
Cena 7: Hilarion aparece, pensa e, com cuidado para que ninguém o veja, resolve entrar secretamente na cabana de Loys.
Cena 8: Chegam os nobres, dentre eles: O Príncipe de Courtland e a sua filha, princesa Bathilde, vindos da caça. Chegam também os camponeses. Os nobres estão cansados e com sede. O encarregado da caça aponta para a casa de Berthe e vai bater a sua porta. Berthe sai e o encarregado da caça lhe pede um lugar para descanso e algo para beber. Berthe pede aos camponeses que busquem uma mesa e cadeiras, e pede à Giselle que traga uma jarra com bebida.
Giselle traz e faz de tudo para receber bem os nobres visitantes. Chama-lhes para sentar, serve a bebida. Giselle fica admirando os trajes de Bathilde. Bathilde pergunta-lhe o que ela faz. Ela diz que trabalha e que adora dançar, demostrando um pouco da sua dança. Giselle também conta à princesa que é noiva e irá se casar. Bathilde demonstra interesse em conhecer o noivo, Giselle olha ao redor, mas não vê Loys. A princesa conta que também está noiva e presenteia a camponesa com um colar que tira do próprio pescoço.
O Príncipe está muito cansado para continuar a caça, então vai para a casa de Berthe descansar, com a sua filha. Berthe e Giselle também vão para casa. Todos saem. O responsável pela caça, antes de sair, deixa pendurada a corneta do lado de fora da casa de Berthe, para que o Príncipe chame os nobres ao acordar.
Cena 9: Hilarion sai da cabana de Albrecht com a espada do Duque, que encontrou lá dentro, e vai bater na casa de Giselle, mas ao notar a corneta pendurada, compara os brasões e agora tem certeza de quem Loys é de verdade. Hilarion decide esperar para revelar a verdade na frente de todos. Ele, então, esconde a espada em um canto.
Cena 10: Os camponeses retornam da colheita com um carrinho de madeira repleto de uva. Decidem chamar Giselle para a festa. Colocam uma coroa de flores na sua cabeça. Albrecht reaparece após verificar que nenhum nobre estava por perto. Após a dança, os dois heróis se beijam.
Cena 11: Hilarion não consegue segurar o seu ciúme e conta à Giselle quem é Loys, mostrando a espada. Albrecht nega. Hilarion, então, sopra a corneta. Albrecht, com raiva, pega a espada e corre para atacar Hilarion.
Cena 12: Ao som do chamado, os nobres retornam e o Príncipe e a princesa saem da casa de Berthe. Eles vêem Albrecht e lhe perguntam sobre os trajes que ele está vestindo. Ele se desculpa e beija a mão de sua verdadeira noiva, Bathilde.
Cena 13: Giselle entra no meio dos dois e pergunta à Bathilde o que está acontecendo. Giselle lhe diz que aquele é seu noivo. Bathilde diz o mesmo. Giselle então joga o colar que ganhou da princesa no chão e corre em direção a sua casa, caindo nos braços de sua mãe, que tenta consolá-la.
Giselle enlouquece. Ela vê a espada, pega, diz para todos ficarem longe dela e então tenta se matar com a espada, mas é impedida por Hilarion/ ou pela sua mãe. Ela começa a relembrar a dança que fez com Loys. Em seu último suspiro, ela olha para Albrecht, depois cai morta.
Albrecht pega e espada e quer atacar Hilarion, mas Wilfrid, seu escudeiro, o detém. Wilfrid o leva embora. Fica uma multidão ao redor da jovem morta. Berthe chora a morte da filha segurando o seu corpo.
Ato II:
O palco mostra uma floresta às margens de um lago. Entre o frio e a umidade, juncos, flores e plantas silvestres, plantas aquáticas, álamos e salgueiros, com uma folhagem pálida que desce para a terra. À esquerda, sob o cipreste, uma cruz branca de mármore, na qual está escrito Giselle. O túmulo está imerso entre grama e flores. A luz azul da lua ilumina essa imagem fria e nebulosa.
Cena 1: Hilarion chora ajoelhado na sepultura de Giselle. Entram alguns caçadores que buscam um lugar conveniente para colocar armadilhas para presas.
Cena 2: Ao fundo se escuta o badalar de sinos. Deu meia-noite, a hora que, segundo a lenda, as Wilis saem de seus túmulos para dançar. Ouve-se uma música fantástica, todos ficam apavorados e correm para todos os lados. Aparecem faíscas por todos os lados. Eles saem.
Cena 3: O junco se afasta devagar e de dentro das plantas úmidas, surge Myrtha, rainha das Wilis – uma sombra transparente e pálida. Com a sua aparição, começa a surgir luz em todos os lugares, iluminando a floresta e afastando as sombras noturnas. Isso acontece sempre que as Wilis aparecem. Nos ombros brancos de Myrtha, tremem duas asas transparentes, sob as quais, a Wili pode se esconder, como se fosse um cobertor de gás.
A visão fantasmagórica não fica parada nenhum minuto. Voa por todos os lados, olhando o seu reino, que possui todas as noites. Ela se banha nas águas do lago, se pendura e balança nos galhos de salgueiro. Após a execução de sua dança, Myrtha quebra um galho de alecrim e toca com ele cada arbusto e árvore.
Cena 4: Ao toque do galho, as flores, arbustos e a grama se abrem, de onde saem as outras Wilis, que vêm rodear Myrtha, literalmente, como a abelha rainha. Myrtha espalha asas azuis sobre suas súditas e lhes dá o sinal para a dança. Algumas Wilis dançam na frente de sua dama.
(*Tirado do libreto russo) – Primeiramente Monna, odalisca, apresenta uma dança oriental. Após ela, Zulma, bayadére, executa uma dança Hindu lenta. Depois duas francesas dançam Minueto, depois delas, duas alemãs valsam.
Cena 5: Um feixe luminoso incide sobre o túmulo de Giselle. As flores que crescem nele endireitam o caule, levantam a “cabeça”, abrindo o caminho para uma sombra branca que elas guardavam.
Giselle aparece, envolta em um manto leve. Ela vai até Myrtha, que a toca com o galho de alecrim, o manto cai. Giselle se torna uma Wili. As asas crescem e aparecem nela. Os pés escorregam pelo chão, ela dança, ou melhor; flutua pelo chão, como suas irmãs, relembrando a dança que fazia antes da morte.
Escuta-se um barulho. Todas as Wilis fogem e se escondem nos juncos.
Cena 6: Albrecht leva flores para o túmulo de Giselle. De repente, ele empalidece e a sua atenção é chamada por uma aparição. Albrecht fica surpreso ao reconhecer Giselle, que olha para ele com amor.
Cena 7: O Duque tenta segurar sua amada, mas não consegue. Ela lhe manda beijos, joga-lhe flores, mas quando o duque está certo de que conseguiu segurá-la, ela some. Albrecht, em desespero, quer deixar este lugar triste. Mas começa a testemunhar uma cena terrível, da qual não consegue desviar o olhar.
Cena 8: Hilarion, pálido, trêmulo e quase morto de medo, implora por piedade às Wilis, que o perseguem. Mas a rainha das Wilis, ao tocá-lo com seu galho, força-o a se levantar e repetir a dança, que começa a executar.
Hilarion, movido por um feitiço, dança contra a sua vontade. Ele dança com uma Wili, e, ao pensar que a sua parceira está se cansando, ela logo é substituída por outra, e assim sucessivamente. No final, exausto e cheio de dores, Hilarion tenta fugir, mas as Wilis o cercam com sua dança, que vai se afunilando e ficando mais rápida. O feitiço o faz dançar, e novamente uma parceira substitui outra.
Hilarion não está mais aguentando, então Myrtha, a rainha, dança com ele. Ele novamente passa por todas, até ser induzido ao abismo, ou ao lago, onde é jogado/ ou cai, e morre. As Wilis comemoram até uma delas notar a presença de Albrecht. O Duque é conduzido ao centro da dança.
Cena 9: As Wilis ficam animadas com a nova vítima e o cercam. Mas, no momento em que Myrtha tocará Albrecht com seu galho mágico, obrigando-o a dançar, Giselle corre e segura a mão de sua rainha.
Cena 10: Giselle diz para Albrecht correr, pois se ele começar a dançar irá morrer. Morrerá como Hilarion — ela completa — apontando para o lago/abismo. Vendo a dúvida do seu amado, Giselle, então, pega a sua mão e o leva para a cruz, o símbolo sagrado é a única chance de salvação.
Myrtha e as Wilis os perseguem, mas com a proteção de Giselle, Albrecht consegue chegar até a cruz. As Wilis não conseguem atacar Albrecht, uma força desconhecida as afasta. A rainha quer vingar-se daquela que sequestrou a sua presa, então, ergue a sua mão sobre Giselle. As asas da heroína se abrem e ela começa uma dança graciosa e apaixonada. Albrecht observa em pé, imóvel, mas logo, o encanto e o fascínio da dança da Wili o atrai, involuntariamente, e é exatamente isso que Myrtha queria. Albrecht deixa a cruz – a salvação da morte – e vai até Giselle. Ela, apavorada, implora para que ele volte para lá, mas a rainha toca Giselle, e esta é obrigada a continuar a sua dança atraente. Isso é repetido mais de uma vez.
Finalmente, atraído pela paixão, Albrecht se afasta da cruz e vai até Giselle, que ainda tenta pará-lo. A essência de Giselle vence mais uma vez, e eles começam uma dança aérea.
As Wilis entram na dança deles e os cercam.
Um cansaço mortal começa a tomar conta de Albrecht. Giselle vai até ele, com lágrima nos olhos, mas por um gesto da rainha, ela é obrigada a voar novamente para longe. Mais um pouco e Albrecht morrerá.
De repente, começa a raiar o dia. A noite desaparece, e com ela, o fantástico e tempestuoso baile das Wilis vai penetrando nas entranhas da vegetação de onde veio. Com o raiar do dia, as flores noturnas murcham.
Vendo isso, Giselle novamente se enche de esperança na salvação de Albrecht. Ela inclina-se suavemente sobre as mãos fracas do seu amado, e assim como suas irmãs, começa a sentir os efeitos adversos do dia. Ela é arrastada pelo seu destino inevitável e aproxima-se do seu túmulo.
Albrecht, percebendo o que aguarda Giselle, a carrega para longe da Sepultura. Ele se ajoelha e a beija, como se desejasse entregar-lhe a sua própria alma para que Giselle retorne à vida. Mas ela lhe mostra o sol brilhando, dizendo que é necessário submeter-se ao seu destino e que devem se separar para sempre.
Albrecht fica só, cai de joelhos desolado (Hoje). Fim. Ou:
Cena 11: Ressoa o som da corneta. Albrecht a escuta com medo, Giselle com felicidade. Entra correndo o fiel escudeiro, Wilfrid. Ele guia o príncipe, Bathilde e uma comitiva numerosa. Ele os levou até Albrecht na esperança de que consigam resgatar o Duque. Albrecht corre até o seu escudeiro e pede para ele parar — no momento que a vida de Giselle está desaparecendo.
Albrecht volta e observa com surpresa e tristeza. Ele vê que Giselle afunda mais e mais em seu túmulo. Giselle mostra Bathilde a Albrecht, dobrando os joelhos, faz um apelo, estendendo os braços para ele. Giselle pede a seu amante que dê o seu amor e lealdade àquela moça. Este era o seu último desejo, seu pedido.
Com um último pedido de perdão, Giselle desaparece em meio às flores e grama, que a cobrem por definitivo.
Albrecht arranca algumas flores que acabaram de cobrir Giselle. Amorosamente, ele as leva até os lábios, beija e depois aperta contra o seu peito. Um pedido de Giselle para ele é sagrado. Ele cai enfraquecido nos braços da comitiva, estendendo a sua mão para Bathilde. Fim.
Sequência da Partitura
Ato I
- Nº1 — Introdução
- Nº2 — Cena 1
- Nº3 — Entrada de Albrecht
- Nº4 — Entrada de Giselle
- Nº5 — Cena dançante
- Interpolação — Pas de deux para Maria Gorshenkova (Ludwig Minkus; 1884).
- Nº6 — Cena de Hilarion
- Nº7 — Regresso da colheita
- Interpolação — Pas de cinq para Carlotta Grisi (Cesare Pugni; 1850)
- Nº8 — Valsa
- Nº9 — Cena dançante
- Nº10 – Berthe
- Nº11 – Cena: A caça Real
- Nº12 – Cena de Hilarion
- Nº13 – Marcha dos colhedores
- Interpolação – Variação para Elena Cornalba, também conhecida como Pas Seul. (Riccardo Drigo, 1888).
- Interpolação — Pas de deux para Nathalie Fitzjames, também conhecido como Peasant pas de deux.
– Tirado da obra “Souvenirs de Ratisbonne” de Johann Friedrich Franz Burgmüller, 1841:
a. Entrada
b. Andante
c. Variação
d. Variação
Interpolação – variação feminina suplementar. (Teatro Mariinsky. Riccardo Drigo?; do ballet “Brincadeira de Cupido”; 1890)
e. Variação
f.Coda
- Nº14 – Galop générale
- Nº15 – Grand cena dramática: A loucura de Giselle
Ato II
- Nº16 — Introdução e cena
- Nº17 — Entrada e dança de Myrtha
- Nº18 — Entrada das Wilis
- Nº19 — Grand pas das Wilis
- Nº20 — Entrada de Giselle
- Nº21 — Entrada de Albrecht
- Nº22 — Aparição de Giselle
- Nº23 — A morte de Hilarion
- Nº24 — Cena das Wilis
- Nº25 — Grand pas d’action:
a. Grand adage
b. Variação de Giselle
c. Variação de Albrecht
Interpolação – Variação para Adèle Grantzow (Supostamente composta por Cesare Pugni; 1867)
d. Coda
- Nº26 — Cena final
Sobre a Partitura
Giselle foi o primeiro ballet com uma música inteiramente composta para ele. Antes, as músicas dos mais famosos ballets eram melodias pré-existentes arranjadas, que usavam um conjunto de canções populares, reorganizadas e orquestradas em uma forma dançante. Foi um dois primeiros ballets a usar leitmotifs – motivo musical condutor; um tema musical que identifica um personagem. Como os temas de Albrecht e Giselle, de Hilarion e das Wilis. Os leitmotifs também acontecem na coreografia. Giselle relembra a dança que fez com Albrecht, no início do ballet, na cena da loucura e logo quando reaparece no segundo ato.
A música para o famoso “Peasant Pas de Deux” foi composta por Frédéric Burgmüller e acrescentada na primeira apresentação para agradar a um patrono rico, cuja amante era Nathalie Fitzjames, a dançarina que recebeu o papel da menina camponesa. A sua colocação no Ato I varia, assim como o número de bailarinos que a dançam.
Ludwig Minkus fez várias mudanças na partitura para as produções de São Petersburgo. A variação de Giselle foi composta por ele e inserida na produção de 1864. Ficou tão popular, que foi adicionada à partitura original de Adam.
Fatos Curiosos:
- Segundo as memórias de Adam, o esboço da partitura de Giselle foi concluído em 8 dias, e a partitura completa foi escrita em 3 semanas. Foram dados 2 meses para o ensaio da coreografia.
- Gautier pensou desde o início em Grisi como Giselle, por quem era apaixonado. Ela tinha 21 anos na época e tinha um relacionamento com o professor e coreógrafo Perrot. Théophile Gautier era casado com a cantora Ernestina Grisi, irmã da bailarina Carlotta.
- Giselle se diferenciou dos outros ballets da era romântica pelo fato da heroína principal ser uma jovem comum, e não uma criatura misteriosa, embora no segundo ato, ela se torna um fantasma.
- Segundo algumas fontes na internet, as Wilis solistas: Zulma e Monna, morreram por suicídio. Zulma, cuja variação é baseada em saltos, morreu ao pular de um abismo, e Monna, cuja variação é cheia de Renversées, morreu ao se jogar em um rio com forte correnteza e repleto de redemoinhos.
- Com a versão em alemão, o livro “De l’Allemagne” foi dividido em dois livros: Zur Geschichte der Religion und Philosophie in Deutschland (“Na História da Religião e Filosofia na Alemanha”) e Die Romantische Schule (“A Escola Romântica”).
- É conhecido que, nas suas redações de ballets antigos, Petipa tirava tudo que ele considerava supérfluo. Então, provavelmente, foi em sua redação de 1884 (5 de Novembro), que ele eliminou a cena final.
- A versão dançada pelo Teatro Municipal do Rio de Janeiro foi feita para o Royal Ballet de Londres, por Peter Wright, em 1961.
- Elementos do libreto original, que são raramente vistos hoje, são: uma cena mímica onde Giselle conta para Loys que teve um sonho em que ele estava apaixonado por uma linda nobre (logo quando ela sai da casa e antes de fazer o bem-me-quer). A entrada de vários caçadores a cavalo, e uma procissão grandiosa para os coletores de videiras no Ato I. No Ato II, hoje falta os caçadores jogando dados, no início do ato, e um encontro entre os camponeses e as Wilis. Albrecht testemunhando a morte de Hilarion, escondido de trás de uma árvore, e Bathilde retornando para resgatar Albrecht, no final do ballet.
- Parece que Gautier apoiou a idéia de Giselle morrer de uma ferida derivada da espada de Albrecht. Para a Rússia de Petipa, o suicídio era inadequado. Portanto, ele estabeleceu a morte pelos efeitos do choque emocional e tristeza em um coração fraco.
Sobre Giselle de Mats Ek
“Minha versão de Giselle é uma tentativa de recontar a história. Para mim, Giselle — e isso também se aplica ao ballet antigo – é sobre o amor. Amor, que na antiga versão vence a morte. Que difere da minha. Mas o amor continua a ser a principal questão.” (Mats Ek)
Mats Ek é um grande bailarino e coreógrafo Sueco. Nascido em 18 de Abril de 1945, em Malmö. Ele é filho do ator Andres Ek e da coreógrafa Birgit Cullberg, ex-diretora do Cullberg Ballet, a quem ele substituiu.
Em 1982, ele estreia a sua versão de Giselle. Um ballet contemporâneo, com 16 bailarinos no total. Giselle aparece descalça e com uma boina puxada sobre a testa. Alguns entendem essa Giselle como a “idiota da vila”, outros, mais como uma desajustada, que vê e ouve coisas que os outros não. Hilarion, seu noivo, a ama, mas é incapaz de compreendê-la, e a mantém presa em uma corda, como um animal.
Os aldeões são retratados como um grupo de trabalhadores miseráveis, à beira de uma revolta social.
Giselle é pura, espontânea e natural. Revelando para Albrecht o seu mundo interno, o jovem, recém-chegado na cidade, fica fascinado pela riqueza de sua imaginação e pela sua doçura. Bathilde ganha mais espaço na versão de Mats Ek do que tinha na versão tradicional.
A mãe de Giselle, Berthe, não aparece.
O segundo ato se passa no ambiente surreal de um manicômio, que tem partes do corpo humano decorando as paredes. Giselle passa por uma lobotomia e é levada para a ala onde Myrtha é a enfermeira encarregada. As Wilis são pacientes vestidas de branco. São presas condenadas à frustação.
A figura de caipira hostil de Hilarion se transforma em uma de compaixão, quando ele vai visitar Giselle, esperando que não seja tarde demais para trazê-la de volta à realidade. Mas, assim como na versão tradicional, ela já estava em outro mundo.
No fim, Albrecht e Hilarion se reconciliam. Ambos amam a mesma mulher, e ambos a perdem. Albrecht é deixado sozinho, nu, no local onde ele conheceu Giselle, e Hilarion o cobre com um cobertor.
Vídeos:
Versão tradicional:
Nureyev, Lynn Seymoure Monica Mason:
Teatro Alla Scala:
ABT:
Ana Botafogo e Fernando Bujones em Giselle, 1984. Teatro Municipal do Rio de Janeiro:
Versão de Mats Ek: