Giselle, ou Les Wilis

Giselle é, pro­va­vel­mente, o mais famoso bal­let do período Romântico.

Assim como Hamlet, Giselle é um clás­sico: não é ape­nas impor­tante his­to­ri­ca­mente, tam­bém é bom (…). Pessoas vão assis­tir Giselle e bai­la­ri­nas representando-a, pela mesma razão que vão assis­tir a novas repre­sen­ta­ções de Hamlet: o tra­ba­lho é tão bom, que sem­pre des­co­bri­mos algo que não havía­mos visto antes…” (Balanchine)

Carlota Grisi, Giselle. 1841.

História

Heinrich Heine (1797–1856) foi um poeta, nove­lista, jor­na­lista e crí­tico lite­rá­rio ale­mão. Ele é bas­tante conhe­cido por suas poe­sias líri­cas para Lieders (can­ções) de Schumann e Schubert.  Heine tinha uma visão e opi­niões radi­cais sobre a polí­tica, o que fez com que auto­ri­da­des ale­mãs proi­bis­sem boa parte de seus tra­ba­lhos. Em 1831, ele se mudou para a França, onde pas­sou os últi­mos 25 anos de sua vida.  Em 1835, ele lan­çou “De l’Allemagne”.

Théophile Gautier (1811–1872) foi poeta, dra­ma­turgo, nove­lista, jor­na­lista e crí­tico de arte fran­cês. Considerado por Edwin Denby (um dos mais influ­en­tes crí­ti­cos ame­ri­ca­nos de dança do séc. XX) — o melhor crí­tico de bal­let de todos os tem­pos. Gautier se sen­tiu ins­pi­rado por uma pas­sa­gem de “De l’Allemangne”, e escre­veu para Heine:

Meu que­rido Henri Heine,

Enquanto folhe­ava o seu belo livro De l’Allemagne há algu­mas sema­nas atrás, me depa­rei com uma pas­sa­gem char­mosa (tem ape­nas que abrir o volume ao acaso). Era a pas­sa­gem em que você fala de espí­ri­tos em ves­ti­dos bran­cos com bai­nha, que estão per­pe­tu­a­mente aba­ti­dos, fadas cujos pés de cetim mar­cam o teto da câmara nup­cial, as Wilis, bran­cas como a neve, que dan­çam impi­e­do­sa­mente durante toda a noite, e que as apa­ri­ções mara­vi­lho­sas são encon­tra­das nas mon­ta­nhas Hartz e nas mar­gens do Ilse, vis­lum­bra­das em uma névoa, banha­das pelo luar ale­mão – e eu disse em voz alta, “Que belo bal­let alguém pode­ria fazer disso”…!

Em um excesso de entu­si­asmo, eu peguei uma linda folha grande de papel branco e escrevi no topo com letras gran­des: LES WILIS, bal­let. Então come­cei a rir e joguei o papel fora sem pas­sar disso, dizendo para mim mesmo que era impos­sí­vel tra­du­zir tudo aquilo em ter­mos tea­trais, a poe­sia noturna ene­vo­ada, o mundo fan­tasma volup­tu­o­sa­mente sinis­tro, todos os efei­tos da lenda que têm tão pouco em comum com os nos­sos cos­tu­mes. Naquela noite no Opéra, minha cabeça ainda cheia de suas idéias, encon­trei virando um cor­re­dor, o homem de grande inte­li­gên­cia (Saint-Georges) quem, adi­ci­o­nando muito dele mesmo, sabia exa­ta­mente como infun­dir um bal­let com toda a fan­ta­sia e todo o capri­cho de Le Diable Amoureux, de Cazotte, o grande poeta que inven­tou Hoffmann em mea­dos do Século XVIII, de acordo com a Encilopédia com­pleta. Contei-lhe a lenda das Wilis. Três dias depois, o bal­let Giselle foi con­cluído e aceito. Ao final da semana, Adolphe Adam havia com­posto a música, o cená­rio estava quase con­cluído e os ensaios entra­ram em pleno andamento.”

O bal­let Sílfide, feito 9 anos antes, por Felipo Taglioni (12 Março de 1832), influ­en­ciou o libreto desde o iní­cio. Ou seja, o gênero român­tico no bal­let estava se con­so­li­dando. Um estilo que cele­bra a ima­gi­na­ção, os sonhos, a natu­reza, o sobre­na­tu­ral, o romance e a tragédia.

A ideia das Wilis vem do conto de Heine, enquanto a ideia de uma con­de­na­ção por dança, Saint-Georges tirou de um poema de Victor Hugo. Fontes diver­gem sobre o nome do poema, mas ao meu ver, a ideia vem de “Les Fantômes”, onde pode­mos encon­trar a frase: “Ela amava muito dan­çar, e foi isso que a matou”.

Nesta época, os can­de­la­bros foram subs­ti­tuí­dos pela luz de gás, o que per­mi­tia que as luzes fos­sem regu­la­das durante o espe­tá­culo. Fios e rol­da­nas per­mi­tiam car­re­gar bai­la­ri­nos ao redor do palco, dando a impres­são que eles esta­vam voando.

Gautier que­ria Carlotta Grisi no papel prin­ci­pal. Para ele, ela unia a poe­sia de Taglioni com o fogo e a cora­gem de Fanny Elssler. Gautier mos­trou o libreto para o pro­fes­sor de bal­let Jules Perrot, marido de Grisi. Perrot levou o libreto para o com­po­si­tor Adolphe Adam, que mos­trou para o dire­tor do Opéra, Léon Pillet, que apro­vou o libreto de Giselle.

Jean Coralli, mes­tre sênior de bal­let do Opéra de Paris, foi encar­re­gado da pro­du­ção. Embora Perrot tenha sido auto­ri­zado a criar as par­tes de Grisi, Perrot não rece­beu nenhum cré­dito em pro­gra­mas ou car­ta­zes pelas suas con­tri­bui­ções. Provavelmente, isto ocor­reu por razões finan­cei­ras. Como cola­bo­ra­dor, Perrot teria direito a uma parte dos royal­ties. É pos­sí­vel que Perrot tenha con­cor­dado com isso na espe­rança de ser nome­ado mes­tre de bal­let do Opéra.

Auguste Bournonville estava pas­sando por Paris durante a cri­a­ção de Giselle, e ficou com Perrot e Grisi durante várias sema­nas. Acredita-se que ele tenha dado con­sul­to­ria para Perrot durante este período.

O bal­let teve a sua estreia em 28 de Junho de 1841 no Opéra de Paris. Foi pre­ce­dida pelo Terceiro Ato da ópera Moisés, de Rossine. Carlotta Grisi no papel de Giselle, Lucien Petipa (irmão mais novo de Marius Petipa) como Albrecht, o pró­prio Jean Coralli como Hilarion e Adèle Dumilâtre como Myrtha. O cená­rio foi uma cri­a­ção de Pierre Ciceri e os cos­tu­mes por Paul Lormier.

Adèle Dumilâtre como Myrtha

Em 12 de Março de 1842, o bal­let foi apre­sen­tado em Londres no “Her Majesty’s Theatre”, com Grisi e Perrot nos papéis prin­ci­pais e Louise Fleury como Myrtha. No ano seguinte à estreia, o bal­let foi apre­sen­tado em São Petersburgo, no Teatro Bolshoi, remon­tado por Titus, com Elena Andreyanova como Giselle. Em 1848, Jules Perrot chega à Rússia e remonta Giselle, e nesta pro­du­ção, Marius Petipa repre­sen­tou Albrecht. Na Itália, ele estreou no Teatro alla Scala, em 17 de Janeiro de 1843, core­o­gra­fado por A.Cortesi e música de N. Bajetti.

Nos Estados Unidos, o bal­let estreou no Howard Atheneum, Boston, em 1º de Janeiro de 1846, com Mary Ann Lee e George Washigton Smith.

Não con­se­gui encon­trar a data da pri­meira repre­sen­ta­ção de Giselle no Brasil. Busquei notí­cias em perió­di­cos atra­vés do site da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. As ocor­rên­cias mais anti­gas são todas da década de 1950.  Dentre elas, uma Crítica feita por Oswald de Oliveira para o jor­nal Fon-Fon, de 1951. Ele escre­veu sobre o bal­let apre­sen­tado na tem­po­rada do ano ante­rior (1950), remon­tado por Serge Lifar, com Tamara Toumanova no papel prin­ci­pal. No mesmo ano, no perió­dico “Diário da Noite”, fala-se de Toumanova se apre­sen­tando em São Paulo.

As ver­sões moder­nas são base­a­das na ver­são de Marius Petipa, de 1884. Hoje em dia, não se pode mais sepa­rar onde está o tra­ba­lho de Petipa e o ori­gi­nal Perrot/Coralli.  A ver­são dan­çada hoje pelo Mariinsky bal­let é a mais pró­xima da ver­são dei­xada por Petipa. Muitos dizem que ela foi muito pouco modi­fi­cada. A ver­são de Petipa está escrita no livro de Stepanov: Método de Notação Coreográfica.

Giselle saiu do reper­tó­rio do Ópera de Paris em 1867. Só retor­nou com Diagilev e os Ballets Russes em 1910, com Karsavina e Nijinski nos papéis principais.

Libretto:

Embora o enredo do bal­let seja sem­pre o mesmo, o libreto é par­ci­al­mente modi­fi­cado, depen­dendo da ver­são que está sendo pro­du­zida. Pode ser mais curta, estar de acordo com um pen­sa­mento da época, ou outras razões. Trago aqui, um libreto que abrange as ver­sões mais dan­ça­das e res­pei­ta­das desse ballet.

Ballet fan­tás­tico em 2 atos.

Personagens:

Giselle: Jovem camponesa.

Albrecht: Duque da Silesia que finge ser um sim­ples fazen­deiro cha­mado “Loys”.

Hilarion: Camponês, pro­te­tor da flo­resta, apai­xo­nado por Giselle.

Wilfrid: o escu­deiro do Duque.

Bertha / Berthe: Mãe de Giselle.

Príncipe de Courtland.

Bathilde / Bathilda: Filha do Príncipe de Courtland, noiva de Albrecht.

Myrtha: Rainha das Wilis.

Zulma: Uma Wili.

Moyna / Monna: Uma Wili.

 

Existe uma lenda nos paí­ses esla­vos, sobre dan­ça­ri­nas notur­nas, cha­ma­das de “Wilis”. As Wilis são noi­vas mor­tas na vés­pera do casa­mento, cuja alma não con­se­gue des­can­sar nas sepul­tu­ras. À meia-noite, elas levan­tam do túmulo e se encon­tram. Qualquer rapaz que cruze o cami­nho delas é for­çado a dan­çar até a morte. Elas estão ves­ti­das de noiva, arranjo de flo­res na cabeça e anel no dedo.

Ato I: O palco retrata os vales enso­la­ra­dos da Alemanha. Ao fundo, vinhas nas mon­ta­nhas e uma estrada que con­duz ao vale. Hoje é bem mais comum ver um cas­telo ao fundo, pro­va­vel­mente do Príncipe de Courtland. À esquerda, a casa de Berthe e Giselle. À direita, a cabana de Loys (o Duque Albrecht dis­far­çado de camponês).

Cena 1: Amanhece o dia da colheita. Os Camponeses, em festa, vão para os vinhedos.

Cena 2: Entra Hilarion. Observa, como que pro­cu­rando por alguém. Com amor olha para a casa de Giselle, e com ódio olha para a cabana de Loys. A porta da cabana de Loys abre mis­te­ri­o­sa­mente e Hilarion se esconde para olhar o que acon­te­cerá. Ou, tam­bém pode ser que Hilarion vai embora e o Duque Albrecht (Loys) e o seu escu­deiro WIlfrid che­gam e vão para den­tro da cabana.

Cena 3: De den­tro da cabana, saem Albrecht  e o seu escu­deiro, Wilfrid. Albrecht per­gunta a Wilfrid como ele está ves­tido, dis­far­çado de cam­po­nês. O escu­deiro tenta con­ven­cer o duque a não fazer o que ele está pla­ne­jando, mas este aponta para a casa de Giselle dizendo que lá mora a bela jovem a quem ele ama, e dá uma ordem para o escu­deiro se reti­rar. Wilfrid, deva­gar, curva-se res­pei­to­sa­mente e vai embora.

Hilarion fica sur­preso ao ver um nobre ele­gante se cur­var de tal forma diante de um sim­ples cam­po­nês. Na sua cabeça sur­gem sus­pei­tas que ele ten­tará des­ven­dar. (Isso acon­tece na ver­são onde Hilarion não sai do palco antes da entrada de Albrecht e seu escudeiro)

Cena 4: Loys vai até a casa de Giselle e bate na porta. Ela sai. Loys demons­tra o seu amor por ela. Ela pega uma flor para fazer mal me quer – bem me quer. O resul­tado é mal me quer. Ela joga a flor no chão e se afasta. Ele pega a flor, retira uma pétala e leva para ela ver, dizendo que ela havia con­tado errado. Ela acredita.

Hilarion vai até eles e cen­sura Giselle pelo seu modo de agir. Ela diz a Hilarion que ama Loys e vira o rosto. Hilarion se ajo­e­lha diante de Giselle e insiste no seu amor. Albrecht tira Hilarion de perto de Giselle. Hilarion pega uma adaga e ame­aça Albrecht, que sem pen­sar, coloca as mãos no qua­dril, lugar de onde saca­ria a espada. Hilarion fica ainda mais des­con­fi­ado com essa ação tão auto­má­tica de sacar uma espada (ape­nas ricos tinham espadas).

Cena 5: Entram garo­tas, ami­gas de Giselle, que vie­ram chamá-la  para o tra­ba­lho. Giselle quer dan­çar e chama suas ami­gas para acompanhá-la. Elas lar­gam suas ces­tas e come­çam a dan­çar. Giselle, no meio da dança, troca carí­cias com Albrecht. Berthe sai da casa.

Cena 6: Berthe encon­tra Giselle e per­gunta o que ela estava fazendo. Giselle res­ponde que estava dan­çando. Bertha alerta a sua filha sobre o que pode acon­te­cer se ela ficar dan­çando. Pega em seu cora­ção e diz que isso pode repre­sen­tar a sua morte, dando a enten­der que Giselle tem o cora­ção fraco.

As cam­po­ne­sas pegam as suas ces­tas e seguem para o tra­ba­lho da colheita.Todos saem. Berthe leva a sua filha para casa. Ela vai, mas man­dando bei­jos no ar para Albrecht, que fica sozi­nho em cena, pensativo.

De longe, ouve-se o som de uma cor­neta. Wilfrid vem avi­sar ao Duque que os nobres estão a cami­nho. Eles saem.

Cena 7: Hilarion apa­rece, pensa e, com cui­dado para que nin­guém o veja, resolve entrar secre­ta­mente na cabana de Loys.

Cena 8: Chegam os nobres, den­tre eles: O Príncipe de Courtland e a sua filha, prin­cesa Bathilde, vin­dos da caça. Chegam tam­bém os cam­po­ne­ses. Os nobres estão can­sa­dos e com sede. O encar­re­gado da caça aponta para a casa de Berthe e vai bater a sua porta. Berthe sai e o encar­re­gado da caça lhe pede um lugar para des­canso e algo para beber. Berthe pede aos cam­po­ne­ses que bus­quem uma mesa e cadei­ras, e pede à Giselle que traga uma jarra com bebida.

Giselle traz e faz de tudo para rece­ber bem os nobres visi­tan­tes. Chama-lhes para sen­tar, serve a bebida. Giselle fica admi­rando os tra­jes de Bathilde. Bathilde pergunta-lhe o que ela faz. Ela diz que tra­ba­lha e que adora dan­çar, demos­trando um pouco da sua dança. Giselle tam­bém conta à prin­cesa que é noiva e irá se casar. Bathilde demons­tra inte­resse em conhe­cer o noivo, Giselle olha ao redor, mas não vê Loys. A prin­cesa conta que tam­bém está noiva e pre­sen­teia a cam­po­nesa com um colar que tira do pró­prio pescoço.

O Príncipe está muito can­sado para con­ti­nuar a caça, então vai para a casa de Berthe des­can­sar, com a sua filha. Berthe e Giselle tam­bém vão para casa. Todos saem. O res­pon­sá­vel pela caça, antes de sair, deixa pen­du­rada a cor­neta do lado de fora da casa de Berthe, para que o Príncipe chame os nobres ao acordar.

Cena 9: Hilarion sai da cabana de Albrecht com a espada do Duque, que encon­trou lá den­tro, e vai bater na casa de Giselle, mas ao notar a cor­neta pen­du­rada, com­para os bra­sões e agora tem cer­teza de quem Loys é de ver­dade. Hilarion decide espe­rar para reve­lar a ver­dade na frente de todos. Ele, então, esconde a espada em um canto.

Cena 10: Os cam­po­ne­ses retor­nam da colheita com um car­ri­nho de madeira repleto de uva. Decidem cha­mar Giselle para a festa. Colocam uma coroa de flo­res na sua cabeça. Albrecht rea­pa­rece após veri­fi­car que nenhum nobre estava por perto. Após a dança, os dois heróis se beijam.

Cena 11: Hilarion não con­se­gue segu­rar o seu ciúme e conta à Giselle quem é Loys, mos­trando a espada. Albrecht nega. Hilarion, então, sopra a cor­neta. Albrecht, com raiva, pega a espada e corre para ata­car Hilarion.

Cena 12: Ao som do cha­mado, os nobres retor­nam e o Príncipe e a prin­cesa saem da casa de Berthe. Eles vêem Albrecht e lhe per­gun­tam sobre os tra­jes que ele está ves­tindo. Ele se des­culpa e beija a mão de sua ver­da­deira noiva, Bathilde.

Cena 13: Giselle entra no meio dos dois e per­gunta à Bathilde o que está acon­te­cendo. Giselle lhe diz que aquele é seu noivo. Bathilde diz o mesmo. Giselle então joga o colar que ganhou da prin­cesa no chão e corre em dire­ção a sua casa, caindo nos bra­ços de sua mãe, que tenta consolá-la.

Giselle enlou­quece. Ela vê a espada, pega, diz para todos fica­rem longe dela e então tenta se matar com a espada, mas é impe­dida por Hilarion/ ou pela sua mãe. Ela começa a relem­brar a dança que fez com Loys.  Em seu último sus­piro, ela olha para Albrecht, depois cai morta.

Albrecht pega e espada e quer ata­car Hilarion, mas Wilfrid, seu escu­deiro, o detém. Wilfrid o leva embora. Fica uma mul­ti­dão ao redor da jovem morta. Berthe chora a morte da filha segu­rando o seu corpo.

Ato II:

O palco mos­tra uma flo­resta às mar­gens de um lago. Entre o frio e a umi­dade, jun­cos, flo­res e plan­tas sil­ves­tres, plan­tas aquá­ti­cas, álamos e sal­guei­ros, com uma folha­gem pálida que desce para a terra. À esquerda, sob o cipreste, uma cruz branca de már­more, na qual está escrito Giselle. O túmulo está imerso entre grama e flo­res. A luz azul da lua ilu­mina essa ima­gem fria e nebulosa.

Cena 1: Hilarion chora ajo­e­lhado na sepul­tura de Giselle. Entram alguns caça­do­res que bus­cam um lugar con­ve­ni­ente para colo­car arma­di­lhas para presas.

Cena 2: Ao fundo se escuta o bada­lar de sinos. Deu meia-noite, a hora que, segundo a lenda, as Wilis saem de seus túmu­los para dan­çar. Ouve-se uma música fan­tás­tica, todos ficam apa­vo­ra­dos e cor­rem para todos os lados. Aparecem faís­cas por todos os lados. Eles saem.

Cena 3: O junco se afasta deva­gar e de den­tro das plan­tas úmidas, surge Myrtha, rai­nha das Wilis – uma som­bra trans­pa­rente e pálida. Com a sua apa­ri­ção, começa a sur­gir luz em todos os luga­res, ilu­mi­nando a flo­resta e afas­tando as som­bras notur­nas. Isso acon­tece sem­pre que as Wilis apa­re­cem. Nos ombros bran­cos de Myrtha, tre­mem duas asas trans­pa­ren­tes, sob as quais, a Wili pode se escon­der, como se fosse um cober­tor de gás.

A visão fan­tas­ma­gó­rica não fica parada nenhum minuto. Voa por todos os lados, olhando o seu reino, que pos­sui todas as noi­tes. Ela se banha nas águas do lago, se pen­dura e balança nos galhos de sal­gueiro. Após a exe­cu­ção de sua dança, Myrtha que­bra um galho de ale­crim e toca com ele cada arbusto e árvore.

Cena 4: Ao toque do galho, as flo­res, arbus­tos e a grama se abrem, de onde saem as outras Wilis, que vêm rodear Myrtha, lite­ral­mente, como a abe­lha rai­nha. Myrtha espa­lha asas azuis sobre suas súdi­tas e lhes dá o sinal para a dança. Algumas Wilis dan­çam na frente de sua dama.

(*Tirado do libreto russo) – Primeiramente Monna, oda­lisca, apre­senta uma dança ori­en­tal. Após ela, Zulma, baya­dére, exe­cuta uma dança Hindu lenta. Depois duas fran­ce­sas dan­çam Minueto, depois delas, duas ale­mãs valsam.

Cena 5: Um feixe lumi­noso incide sobre o túmulo de Giselle. As flo­res que cres­cem nele endi­rei­tam o caule, levan­tam a “cabeça”, abrindo o cami­nho para uma som­bra branca que elas guardavam.

Giselle apa­rece, envolta em um manto leve. Ela vai até Myrtha, que a toca com o galho de ale­crim, o manto cai. Giselle se torna uma Wili. As asas cres­cem e apa­re­cem nela. Os pés escor­re­gam pelo chão, ela dança, ou melhor; flu­tua pelo chão, como suas irmãs, relem­brando a dança que fazia antes da morte.

Escuta-se um baru­lho. Todas as Wilis fogem e se escon­dem nos juncos.

Cena 6: Albrecht leva flo­res para o túmulo de Giselle. De repente, ele empa­li­dece e a sua aten­ção é cha­mada por uma apa­ri­ção. Albrecht fica sur­preso ao reco­nhe­cer Giselle, que olha para ele com amor.

Cena 7: O Duque tenta segu­rar sua amada, mas não con­se­gue. Ela lhe manda bei­jos, joga-lhe flo­res, mas quando o duque está certo de que con­se­guiu segurá-la, ela some. Albrecht, em deses­pero, quer dei­xar este lugar triste. Mas começa a tes­te­mu­nhar uma cena ter­rí­vel, da qual não con­se­gue des­viar o olhar.

Cena 8: Hilarion, pálido, trê­mulo e quase morto de medo, implora por pie­dade às Wilis, que o per­se­guem. Mas a rai­nha das Wilis, ao tocá-lo com seu galho, força-o a se levan­tar e repe­tir a dança, que começa a executar.

Hilarion, movido por um fei­tiço, dança con­tra a sua von­tade. Ele dança com uma Wili, e, ao pen­sar que a sua par­ceira está se can­sando, ela logo é subs­ti­tuída por outra, e assim suces­si­va­mente. No final, exausto e cheio de dores, Hilarion tenta fugir, mas as Wilis o cer­cam com sua dança, que vai se afu­ni­lando e ficando mais rápida. O fei­tiço o faz dan­çar, e nova­mente uma par­ceira subs­ti­tui outra.

Hilarion não está mais aguen­tando, então Myrtha, a rai­nha, dança com ele. Ele nova­mente passa por todas, até ser indu­zido ao abismo, ou ao lago, onde é jogado/ ou cai, e morre. As Wilis come­mo­ram até uma delas notar a pre­sença de Albrecht. O Duque é con­du­zido ao cen­tro da dança.

Cena 9: As Wilis ficam ani­ma­das com a nova vítima e o cer­cam. Mas, no momento em que Myrtha tocará Albrecht com seu galho mágico, obrigando-o a dan­çar, Giselle corre e segura a mão de sua rainha.

Cena 10: Giselle diz para Albrecht cor­rer, pois se ele come­çar a dan­çar irá mor­rer. Morrerá como Hilarion — ela com­pleta — apon­tando para o lago/abismo. Vendo a dúvida do seu amado, Giselle, então, pega a sua mão e o leva para a cruz, o sím­bolo sagrado é a única chance de salvação.

Myrtha e as Wilis os per­se­guem, mas com a pro­te­ção de Giselle, Albrecht con­se­gue che­gar até a cruz. As Wilis não con­se­guem ata­car Albrecht, uma força des­co­nhe­cida as afasta. A rai­nha quer vingar-se daquela que seques­trou a sua presa, então, ergue a sua mão sobre Giselle. As asas da heroína se abrem e ela começa uma dança gra­ci­osa e apai­xo­nada. Albrecht observa em pé, imó­vel, mas logo, o encanto e o fas­cí­nio da dança da Wili o atrai, invo­lun­ta­ri­a­mente, e é exa­ta­mente isso que Myrtha que­ria. Albrecht deixa a cruz – a sal­va­ção da morte – e vai até Giselle. Ela, apa­vo­rada, implora para que ele volte para lá, mas a rai­nha toca Giselle, e esta é obri­gada a con­ti­nuar a sua dança atra­ente. Isso é repe­tido mais de uma vez.

 

Finalmente, atraído pela pai­xão, Albrecht se afasta da cruz e vai até Giselle, que ainda tenta pará-lo. A essên­cia de Giselle vence mais uma vez, e eles come­çam uma dança aérea.

As Wilis entram na dança deles e os cercam.

Um can­saço mor­tal começa a tomar conta de Albrecht. Giselle vai até ele, com lágrima nos olhos, mas por um gesto da rai­nha, ela é obri­gada a voar nova­mente para longe. Mais um pouco e Albrecht morrerá.

De repente, começa a raiar o dia. A noite desa­pa­rece, e com ela, o fan­tás­tico e tem­pes­tu­oso baile das Wilis vai pene­trando nas entra­nhas da vege­ta­ção de onde veio. Com o raiar do dia, as flo­res notur­nas murcham.

Vendo isso, Giselle nova­mente se enche de espe­rança na sal­va­ção de Albrecht. Ela inclina-se sua­ve­mente sobre as mãos fra­cas do seu amado, e assim como suas irmãs, começa a sen­tir os efei­tos adver­sos do dia. Ela é arras­tada pelo seu des­tino ine­vi­tá­vel e aproxima-se do seu túmulo.

Albrecht, per­ce­bendo o que aguarda Giselle, a car­rega para longe da Sepultura. Ele se ajo­e­lha e a beija, como se dese­jasse entregar-lhe a sua pró­pria alma para que Giselle retorne à vida. Mas ela lhe mos­tra o sol bri­lhando, dizendo que é neces­sá­rio submeter-se ao seu des­tino e que devem se sepa­rar para sempre.

Albrecht fica só, cai de joe­lhos deso­lado (Hoje). Fim. Ou:

Cena 11: Ressoa o som da cor­neta. Albrecht a escuta com medo, Giselle com feli­ci­dade. Entra cor­rendo o fiel escu­deiro, Wilfrid. Ele guia o prín­cipe, Bathilde e uma comi­tiva nume­rosa. Ele os levou até Albrecht na espe­rança de que con­si­gam res­ga­tar o Duque. Albrecht corre até o seu escu­deiro e pede para ele parar — no momento que a vida de Giselle está desaparecendo.

Albrecht volta e observa com sur­presa e tris­teza. Ele vê que Giselle afunda mais e mais em seu túmulo. Giselle mos­tra Bathilde a Albrecht, dobrando os joe­lhos, faz um apelo, esten­dendo os bra­ços para ele. Giselle pede a seu amante que dê o seu amor e leal­dade àquela moça. Este era o seu último desejo, seu pedido.

Com um último pedido de per­dão, Giselle desa­pa­rece em meio às flo­res e grama, que a cobrem por definitivo.

Albrecht arranca algu­mas flo­res que aca­ba­ram de cobrir Giselle. Amorosamente, ele as leva até os lábios, beija e depois aperta con­tra o seu peito. Um pedido de Giselle para ele é sagrado. Ele cai enfra­que­cido nos bra­ços da comi­tiva, esten­dendo a sua mão para Bathilde. Fim.

Sequência da Partitura

Ato I

  • Nº1 — Introdução
  • Nº2 — Cena 1
  • Nº3 — Entrada de Albrecht
  • Nº4 — Entrada de Giselle
  • Nº5 — Cena dançante
  • Interpolação — Pas de deux para Maria Gorshenkova (Ludwig Minkus; 1884).
  • Nº6 — Cena de Hilarion
  • Nº7 — Regresso da colheita
  • Interpolação — Pas de cinq para Carlotta Grisi (Cesare Pugni; 1850)
  • Nº8 — Valsa
  • Nº9 — Cena dançante
  • Nº10 –  Berthe
  • Nº11 –  Cena: A caça Real
  • Nº12 –  Cena de Hilarion
  • Nº13 –  Marcha dos colhedores
  • Interpolação – Variação para Elena Cornalba, tam­bém conhe­cida como Pas Seul. (Riccardo Drigo, 1888).
  • Interpolação — Pas de deux para Nathalie Fitzjames, tam­bém conhe­cido como Peasant pas de deux.

– Tirado da obra “Souvenirs de Ratisbonne” de Johann Friedrich Franz Burgmüller, 1841:

a. Entrada

b. Andante

c. Variação

d. Variação

Interpolação – vari­a­ção femi­nina suple­men­tar. (Teatro Mariinsky. Riccardo Drigo?; do bal­let “Brincadeira de Cupido”; 1890)

e. Variação

f.Coda

  • Nº14 –  Galop générale
  • Nº15 –  Grand cena dra­má­tica: A lou­cura de Giselle

 

 

Ato II

  • Nº16 — Introdução e cena
  • Nº17 — Entrada e dança de Myrtha
  • Nº18 — Entrada das Wilis
  • Nº19 — Grand pas das Wilis
  • Nº20 — Entrada de Giselle
  • Nº21 — Entrada de Albrecht
  • Nº22 — Aparição de Giselle
  • Nº23 — A morte de Hilarion
  • Nº24 — Cena das Wilis
  • Nº25 — Grand pas d’action:

a. Grand adage

b. Variação de Giselle

c. Variação de Albrecht

Interpolação – Variação para Adèle Grantzow (Supostamente com­posta por Cesare Pugni; 1867)

d. Coda

  • Nº26 — Cena final

 

Sobre a Partitura

Giselle foi o pri­meiro bal­let com uma música intei­ra­mente com­posta para ele. Antes, as músi­cas dos mais famo­sos bal­lets eram melo­dias pré-existentes arran­ja­das, que usa­vam um con­junto de can­ções popu­la­res, reor­ga­ni­za­das e orques­tra­das em uma forma dan­çante. Foi um dois pri­mei­ros bal­lets a usar leit­mo­tifs – motivo musi­cal con­du­tor; um tema musi­cal que iden­ti­fica um per­so­na­gem. Como os temas de Albrecht e Giselle, de Hilarion e das Wilis. Os leit­mo­tifs tam­bém acon­te­cem na core­o­gra­fia. Giselle relem­bra a dança que fez com Albrecht, no iní­cio do bal­let, na cena da lou­cura e logo quando rea­pa­rece no segundo ato.

A música para o famoso “Peasant Pas de Deux” foi com­posta por Frédéric Burgmüller e acres­cen­tada na pri­meira apre­sen­ta­ção para agra­dar a um patrono rico, cuja amante era Nathalie Fitzjames, a dan­ça­rina que rece­beu o papel da menina cam­po­nesa. A sua colo­ca­ção no Ato I varia, assim como o número de bai­la­ri­nos que a dançam.

Ludwig Minkus fez várias mudan­ças na par­ti­tura para as pro­du­ções de São Petersburgo. A vari­a­ção de Giselle foi com­posta por ele e inse­rida na pro­du­ção de 1864. Ficou tão popu­lar, que foi adi­ci­o­nada à par­ti­tura ori­gi­nal de Adam.

Fatos Curiosos:

  • Segundo as memó­rias de Adam, o esboço da par­ti­tura de Giselle foi con­cluído em 8 dias, e a par­ti­tura com­pleta foi escrita em 3 sema­nas. Foram dados 2 meses para o ensaio da coreografia.
  • Gautier pen­sou desde o iní­cio em Grisi como Giselle, por quem era apai­xo­nado. Ela tinha 21 anos na época e tinha um rela­ci­o­na­mento com o pro­fes­sor e coreó­grafo Perrot. Théophile Gautier era casado com a can­tora Ernestina Grisi, irmã da bai­la­rina Carlotta.
  • Giselle se dife­ren­ciou dos outros bal­lets da era român­tica pelo fato da heroína prin­ci­pal ser uma jovem comum, e não uma cri­a­tura mis­te­ri­osa, embora no segundo ato, ela se torna um fantasma.
  • Segundo algu­mas fon­tes na inter­net, as Wilis solis­tas: Zulma e Monna, mor­re­ram por sui­cí­dio. Zulma, cuja vari­a­ção é base­ada em sal­tos, mor­reu ao pular de um abismo, e Monna, cuja vari­a­ção é cheia de Renversées, mor­reu ao se jogar em um rio com forte cor­ren­teza e repleto de redemoinhos.
  • Com a ver­são em ale­mão, o livro “De l’Allemagne” foi divi­dido em dois livros: Zur Geschichte der Religion und Philosophie in Deutschland (“Na História da Religião e  Filosofia na Alemanha”) e Die Romantische Schule (“A Escola Romântica”).
  • É conhe­cido que, nas suas reda­ções de bal­lets anti­gos, Petipa tirava tudo que ele con­si­de­rava supér­fluo. Então, pro­va­vel­mente, foi em sua reda­ção de 1884 (5 de Novembro), que ele eli­mi­nou a cena final.
  • A ver­são dan­çada pelo Teatro Municipal do Rio de Janeiro foi feita para o Royal Ballet de Londres, por Peter Wright, em 1961.
  • Elementos do libreto ori­gi­nal, que são rara­mente vis­tos hoje, são: uma cena mímica onde Giselle conta para Loys que teve um sonho em que ele estava apai­xo­nado por uma linda nobre (logo quando ela sai da casa e antes de fazer o bem-me-quer). A entrada de vários caça­do­res a cavalo, e uma pro­cis­são gran­di­osa para os cole­to­res de videi­ras no Ato I. No Ato II, hoje falta os caça­do­res jogando dados, no iní­cio do ato, e um encon­tro entre os cam­po­ne­ses e as Wilis. Albrecht tes­te­mu­nhando a morte de Hilarion, escon­dido de trás de uma árvore, e Bathilde retor­nando para res­ga­tar Albrecht, no final do ballet.
  • Parece que Gautier apoiou a idéia de Giselle mor­rer de uma ferida deri­vada da espada de Albrecht. Para a Rússia de Petipa, o sui­cí­dio era ina­de­quado. Portanto, ele esta­be­le­ceu a morte pelos efei­tos do cho­que emo­ci­o­nal e tris­teza em um cora­ção fraco.

Sobre Giselle de Mats Ek

Minha ver­são de Giselle é uma ten­ta­tiva de recon­tar a his­tó­ria. Para mim, Giselle — e isso tam­bém se aplica ao bal­let antigo – é sobre o amor. Amor, que na antiga ver­são vence a morte. Que difere da minha. Mas o amor con­ti­nua a ser a prin­ci­pal ques­tão.” (Mats Ek)

Mats Ek é um grande bai­la­rino e coreó­grafo Sueco. Nascido em 18 de Abril de 1945, em Malmö. Ele é filho do ator Andres Ek e da coreó­grafa Birgit Cullberg, ex-diretora do Cullberg Ballet, a quem ele substituiu.

Em 1982, ele estreia a sua ver­são de Giselle. Um bal­let con­tem­po­râ­neo, com 16 bai­la­ri­nos no total. Giselle apa­rece des­calça e com uma boina puxada sobre a testa. Alguns enten­dem essa Giselle como a “idi­ota da vila”, outros, mais como uma desa­jus­tada, que vê e ouve coi­sas que os outros não. Hilarion, seu noivo, a ama, mas é inca­paz de compreendê-la, e a man­tém presa em uma corda, como um animal.

Os aldeões são retra­ta­dos como um grupo de tra­ba­lha­do­res mise­rá­veis, à beira de uma revolta social.

Giselle é pura, espon­tâ­nea e natu­ral. Revelando para Albrecht o seu mundo interno, o jovem, recém-chegado na cidade, fica fas­ci­nado pela riqueza de sua ima­gi­na­ção e pela sua doçura. Bathilde ganha mais espaço na ver­são de Mats Ek do que tinha na ver­são tradicional.

A mãe de Giselle, Berthe, não aparece.

O segundo ato se passa no ambi­ente sur­real de um manicô­mio, que tem par­tes do corpo humano deco­rando as pare­des. Giselle passa por uma lobo­to­mia e é levada para a ala onde Myrtha é a enfer­meira encar­re­gada. As Wilis são paci­en­tes ves­ti­das de branco. São pre­sas con­de­na­das à frustação.

A figura de cai­pira hos­til de Hilarion se trans­forma em uma de com­pai­xão, quando ele vai visi­tar Giselle, espe­rando que não seja tarde demais para trazê-la de volta à rea­li­dade. Mas, assim como na ver­são tra­di­ci­o­nal, ela já estava em outro mundo.

No fim, Albrecht e Hilarion se recon­ci­liam. Ambos amam a mesma mulher, e ambos a per­dem. Albrecht é dei­xado sozi­nho, nu, no local onde ele conhe­ceu Giselle, e Hilarion o cobre com um cobertor.

Vídeos:

Versão tra­di­ci­o­nal:

Nureyev, Lynn Seymoure Monica Mason:

Teatro Alla Scala:

26 julho 2013

Giselle, ou Les Wilis

Por

Giselle é, pro­va­vel­mente, o mais famoso bal­let do período Romântico.

Assim como Hamlet, Giselle é um clás­sico: não é ape­nas impor­tante his­to­ri­ca­mente, tam­bém é bom (…). Pessoas vão assis­tir Giselle e bai­la­ri­nas representando-a, pela mesma razão que vão assis­tir a novas repre­sen­ta­ções de Hamlet: o tra­ba­lho é tão bom, que sem­pre des­co­bri­mos algo que não havía­mos visto antes…” (Balanchine)

Carlota Grisi, Giselle. 1841.

História

Heinrich Heine (1797–1856) foi um poeta, nove­lista, jor­na­lista e crí­tico lite­rá­rio ale­mão. Ele é bas­tante conhe­cido por suas poe­sias líri­cas para Lieders (can­ções) de Schumann e Schubert.  Heine tinha uma visão e opi­niões radi­cais sobre a polí­tica, o que fez com que auto­ri­da­des ale­mãs proi­bis­sem boa parte de seus tra­ba­lhos. Em 1831, ele se mudou para a França, onde pas­sou os últi­mos 25 anos de sua vida.  Em 1835, ele lan­çou “De l’Allemagne”.

Théophile Gautier (1811–1872) foi poeta, dra­ma­turgo, nove­lista, jor­na­lista e crí­tico de arte fran­cês. Considerado por Edwin Denby (um dos mais influ­en­tes crí­ti­cos ame­ri­ca­nos de dança do séc. XX) — o melhor crí­tico de bal­let de todos os tem­pos. Gautier se sen­tiu ins­pi­rado por uma pas­sa­gem de “De l’Allemangne”, e escre­veu para Heine:

Meu que­rido Henri Heine,

Enquanto folhe­ava o seu belo livro De l’Allemagne há algu­mas sema­nas atrás, me depa­rei com uma pas­sa­gem char­mosa (tem ape­nas que abrir o volume ao acaso). Era a pas­sa­gem em que você fala de espí­ri­tos em ves­ti­dos bran­cos com bai­nha, que estão per­pe­tu­a­mente aba­ti­dos, fadas cujos pés de cetim mar­cam o teto da câmara nup­cial, as Wilis, bran­cas como a neve, que dan­çam impi­e­do­sa­mente durante toda a noite, e que as apa­ri­ções mara­vi­lho­sas são encon­tra­das nas mon­ta­nhas Hartz e nas mar­gens do Ilse, vis­lum­bra­das em uma névoa, banha­das pelo luar ale­mão – e eu disse em voz alta, “Que belo bal­let alguém pode­ria fazer disso”…!

Em um excesso de entu­si­asmo, eu peguei uma linda folha grande de papel branco e escrevi no topo com letras gran­des: LES WILIS, bal­let. Então come­cei a rir e joguei o papel fora sem pas­sar disso, dizendo para mim mesmo que era impos­sí­vel tra­du­zir tudo aquilo em ter­mos tea­trais, a poe­sia noturna ene­vo­ada, o mundo fan­tasma volup­tu­o­sa­mente sinis­tro, todos os efei­tos da lenda que têm tão pouco em comum com os nos­sos cos­tu­mes. Naquela noite no Opéra, minha cabeça ainda cheia de suas idéias, encon­trei virando um cor­re­dor, o homem de grande inte­li­gên­cia (Saint-Georges) quem, adi­ci­o­nando muito dele mesmo, sabia exa­ta­mente como infun­dir um bal­let com toda a fan­ta­sia e todo o capri­cho de Le Diable Amoureux, de Cazotte, o grande poeta que inven­tou Hoffmann em mea­dos do Século XVIII, de acordo com a Encilopédia com­pleta. Contei-lhe a lenda das Wilis. Três dias depois, o bal­let Giselle foi con­cluído e aceito. Ao final da semana, Adolphe Adam havia com­posto a música, o cená­rio estava quase con­cluído e os ensaios entra­ram em pleno andamento.”

O bal­let Sílfide, feito 9 anos antes, por Felipo Taglioni (12 Março de 1832), influ­en­ciou o libreto desde o iní­cio. Ou seja, o gênero român­tico no bal­let estava se con­so­li­dando. Um estilo que cele­bra a ima­gi­na­ção, os sonhos, a natu­reza, o sobre­na­tu­ral, o romance e a tragédia.

A ideia das Wilis vem do conto de Heine, enquanto a ideia de uma con­de­na­ção por dança, Saint-Georges tirou de um poema de Victor Hugo. Fontes diver­gem sobre o nome do poema, mas ao meu ver, a ideia vem de “Les Fantômes”, onde pode­mos encon­trar a frase: “Ela amava muito dan­çar, e foi isso que a matou”.

Nesta época, os can­de­la­bros foram subs­ti­tuí­dos pela luz de gás, o que per­mi­tia que as luzes fos­sem regu­la­das durante o espe­tá­culo. Fios e rol­da­nas per­mi­tiam car­re­gar bai­la­ri­nos ao redor do palco, dando a impres­são que eles esta­vam voando.

Gautier que­ria Carlotta Grisi no papel prin­ci­pal. Para ele, ela unia a poe­sia de Taglioni com o fogo e a cora­gem de Fanny Elssler. Gautier mos­trou o libreto para o pro­fes­sor de bal­let Jules Perrot, marido de Grisi. Perrot levou o libreto para o com­po­si­tor Adolphe Adam, que mos­trou para o dire­tor do Opéra, Léon Pillet, que apro­vou o libreto de Giselle.

Jean Coralli, mes­tre sênior de bal­let do Opéra de Paris, foi encar­re­gado da pro­du­ção. Embora Perrot tenha sido auto­ri­zado a criar as par­tes de Grisi, Perrot não rece­beu nenhum cré­dito em pro­gra­mas ou car­ta­zes pelas suas con­tri­bui­ções. Provavelmente, isto ocor­reu por razões finan­cei­ras. Como cola­bo­ra­dor, Perrot teria direito a uma parte dos royal­ties. É pos­sí­vel que Perrot tenha con­cor­dado com isso na espe­rança de ser nome­ado mes­tre de bal­let do Opéra.

Auguste Bournonville estava pas­sando por Paris durante a cri­a­ção de Giselle, e ficou com Perrot e Grisi durante várias sema­nas. Acredita-se que ele tenha dado con­sul­to­ria para Perrot durante este período.

O bal­let teve a sua estreia em 28 de Junho de 1841 no Opéra de Paris. Foi pre­ce­dida pelo Terceiro Ato da ópera Moisés, de Rossine. Carlotta Grisi no papel de Giselle, Lucien Petipa (irmão mais novo de Marius Petipa) como Albrecht, o pró­prio Jean Coralli como Hilarion e Adèle Dumilâtre como Myrtha. O cená­rio foi uma cri­a­ção de Pierre Ciceri e os cos­tu­mes por Paul Lormier.

Adèle Dumilâtre como Myrtha

Em 12 de Março de 1842, o bal­let foi apre­sen­tado em Londres no “Her Majesty’s Theatre”, com Grisi e Perrot nos papéis prin­ci­pais e Louise Fleury como Myrtha. No ano seguinte à estreia, o bal­let foi apre­sen­tado em São Petersburgo, no Teatro Bolshoi, remon­tado por Titus, com Elena Andreyanova como Giselle. Em 1848, Jules Perrot chega à Rússia e remonta Giselle, e nesta pro­du­ção, Marius Petipa repre­sen­tou Albrecht. Na Itália, ele estreou no Teatro alla Scala, em 17 de Janeiro de 1843, core­o­gra­fado por A.Cortesi e música de N. Bajetti.

Nos Estados Unidos, o bal­let estreou no Howard Atheneum, Boston, em 1º de Janeiro de 1846, com Mary Ann Lee e George Washigton Smith.

Não con­se­gui encon­trar a data da pri­meira repre­sen­ta­ção de Giselle no Brasil. Busquei notí­cias em perió­di­cos atra­vés do site da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. As ocor­rên­cias mais anti­gas são todas da década de 1950.  Dentre elas, uma Crítica feita por Oswald de Oliveira para o jor­nal Fon-Fon, de 1951. Ele escre­veu sobre o bal­let apre­sen­tado na tem­po­rada do ano ante­rior (1950), remon­tado por Serge Lifar, com Tamara Toumanova no papel prin­ci­pal. No mesmo ano, no perió­dico “Diário da Noite”, fala-se de Toumanova se apre­sen­tando em São Paulo.

As ver­sões moder­nas são base­a­das na ver­são de Marius Petipa, de 1884. Hoje em dia, não se pode mais sepa­rar onde está o tra­ba­lho de Petipa e o ori­gi­nal Perrot/Coralli.  A ver­são dan­çada hoje pelo Mariinsky bal­let é a mais pró­xima da ver­são dei­xada por Petipa. Muitos dizem que ela foi muito pouco modi­fi­cada. A ver­são de Petipa está escrita no livro de Stepanov: Método de Notação Coreográfica.

Giselle saiu do reper­tó­rio do Ópera de Paris em 1867. Só retor­nou com Diagilev e os Ballets Russes em 1910, com Karsavina e Nijinski nos papéis principais.

Libretto:

Embora o enredo do bal­let seja sem­pre o mesmo, o libreto é par­ci­al­mente modi­fi­cado, depen­dendo da ver­são que está sendo pro­du­zida. Pode ser mais curta, estar de acordo com um pen­sa­mento da época, ou outras razões. Trago aqui, um libreto que abrange as ver­sões mais dan­ça­das e res­pei­ta­das desse ballet.

Ballet fan­tás­tico em 2 atos.

Personagens:

Giselle: Jovem camponesa.

Albrecht: Duque da Silesia que finge ser um sim­ples fazen­deiro cha­mado “Loys”.

Hilarion: Camponês, pro­te­tor da flo­resta, apai­xo­nado por Giselle.

Wilfrid: o escu­deiro do Duque.

Bertha / Berthe: Mãe de Giselle.

Príncipe de Courtland.

Bathilde / Bathilda: Filha do Príncipe de Courtland, noiva de Albrecht.

Myrtha: Rainha das Wilis.

Zulma: Uma Wili.

Moyna / Monna: Uma Wili.

 

Existe uma lenda nos paí­ses esla­vos, sobre dan­ça­ri­nas notur­nas, cha­ma­das de “Wilis”. As Wilis são noi­vas mor­tas na vés­pera do casa­mento, cuja alma não con­se­gue des­can­sar nas sepul­tu­ras. À meia-noite, elas levan­tam do túmulo e se encon­tram. Qualquer rapaz que cruze o cami­nho delas é for­çado a dan­çar até a morte. Elas estão ves­ti­das de noiva, arranjo de flo­res na cabeça e anel no dedo.

Ato I: O palco retrata os vales enso­la­ra­dos da Alemanha. Ao fundo, vinhas nas mon­ta­nhas e uma estrada que con­duz ao vale. Hoje é bem mais comum ver um cas­telo ao fundo, pro­va­vel­mente do Príncipe de Courtland. À esquerda, a casa de Berthe e Giselle. À direita, a cabana de Loys (o Duque Albrecht dis­far­çado de camponês).

Cena 1: Amanhece o dia da colheita. Os Camponeses, em festa, vão para os vinhedos.

Cena 2: Entra Hilarion. Observa, como que pro­cu­rando por alguém. Com amor olha para a casa de Giselle, e com ódio olha para a cabana de Loys. A porta da cabana de Loys abre mis­te­ri­o­sa­mente e Hilarion se esconde para olhar o que acon­te­cerá. Ou, tam­bém pode ser que Hilarion vai embora e o Duque Albrecht (Loys) e o seu escu­deiro WIlfrid che­gam e vão para den­tro da cabana.

Cena 3: De den­tro da cabana, saem Albrecht  e o seu escu­deiro, Wilfrid. Albrecht per­gunta a Wilfrid como ele está ves­tido, dis­far­çado de cam­po­nês. O escu­deiro tenta con­ven­cer o duque a não fazer o que ele está pla­ne­jando, mas este aponta para a casa de Giselle dizendo que lá mora a bela jovem a quem ele ama, e dá uma ordem para o escu­deiro se reti­rar. Wilfrid, deva­gar, curva-se res­pei­to­sa­mente e vai embora.

Hilarion fica sur­preso ao ver um nobre ele­gante se cur­var de tal forma diante de um sim­ples cam­po­nês. Na sua cabeça sur­gem sus­pei­tas que ele ten­tará des­ven­dar. (Isso acon­tece na ver­são onde Hilarion não sai do palco antes da entrada de Albrecht e seu escudeiro)

Cena 4: Loys vai até a casa de Giselle e bate na porta. Ela sai. Loys demons­tra o seu amor por ela. Ela pega uma flor para fazer mal me quer – bem me quer. O resul­tado é mal me quer. Ela joga a flor no chão e se afasta. Ele pega a flor, retira uma pétala e leva para ela ver, dizendo que ela havia con­tado errado. Ela acredita.

Hilarion vai até eles e cen­sura Giselle pelo seu modo de agir. Ela diz a Hilarion que ama Loys e vira o rosto. Hilarion se ajo­e­lha diante de Giselle e insiste no seu amor. Albrecht tira Hilarion de perto de Giselle. Hilarion pega uma adaga e ame­aça Albrecht, que sem pen­sar, coloca as mãos no qua­dril, lugar de onde saca­ria a espada. Hilarion fica ainda mais des­con­fi­ado com essa ação tão auto­má­tica de sacar uma espada (ape­nas ricos tinham espadas).

Cena 5: Entram garo­tas, ami­gas de Giselle, que vie­ram chamá-la  para o tra­ba­lho. Giselle quer dan­çar e chama suas ami­gas para acompanhá-la. Elas lar­gam suas ces­tas e come­çam a dan­çar. Giselle, no meio da dança, troca carí­cias com Albrecht. Berthe sai da casa.

Cena 6: Berthe encon­tra Giselle e per­gunta o que ela estava fazendo. Giselle res­ponde que estava dan­çando. Bertha alerta a sua filha sobre o que pode acon­te­cer se ela ficar dan­çando. Pega em seu cora­ção e diz que isso pode repre­sen­tar a sua morte, dando a enten­der que Giselle tem o cora­ção fraco.

As cam­po­ne­sas pegam as suas ces­tas e seguem para o tra­ba­lho da colheita.Todos saem. Berthe leva a sua filha para casa. Ela vai, mas man­dando bei­jos no ar para Albrecht, que fica sozi­nho em cena, pensativo.

De longe, ouve-se o som de uma cor­neta. Wilfrid vem avi­sar ao Duque que os nobres estão a cami­nho. Eles saem.

Cena 7: Hilarion apa­rece, pensa e, com cui­dado para que nin­guém o veja, resolve entrar secre­ta­mente na cabana de Loys.

Cena 8: Chegam os nobres, den­tre eles: O Príncipe de Courtland e a sua filha, prin­cesa Bathilde, vin­dos da caça. Chegam tam­bém os cam­po­ne­ses. Os nobres estão can­sa­dos e com sede. O encar­re­gado da caça aponta para a casa de Berthe e vai bater a sua porta. Berthe sai e o encar­re­gado da caça lhe pede um lugar para des­canso e algo para beber. Berthe pede aos cam­po­ne­ses que bus­quem uma mesa e cadei­ras, e pede à Giselle que traga uma jarra com bebida.

Giselle traz e faz de tudo para rece­ber bem os nobres visi­tan­tes. Chama-lhes para sen­tar, serve a bebida. Giselle fica admi­rando os tra­jes de Bathilde. Bathilde pergunta-lhe o que ela faz. Ela diz que tra­ba­lha e que adora dan­çar, demos­trando um pouco da sua dança. Giselle tam­bém conta à prin­cesa que é noiva e irá se casar. Bathilde demons­tra inte­resse em conhe­cer o noivo, Giselle olha ao redor, mas não vê Loys. A prin­cesa conta que tam­bém está noiva e pre­sen­teia a cam­po­nesa com um colar que tira do pró­prio pescoço.

O Príncipe está muito can­sado para con­ti­nuar a caça, então vai para a casa de Berthe des­can­sar, com a sua filha. Berthe e Giselle tam­bém vão para casa. Todos saem. O res­pon­sá­vel pela caça, antes de sair, deixa pen­du­rada a cor­neta do lado de fora da casa de Berthe, para que o Príncipe chame os nobres ao acordar.

Cena 9: Hilarion sai da cabana de Albrecht com a espada do Duque, que encon­trou lá den­tro, e vai bater na casa de Giselle, mas ao notar a cor­neta pen­du­rada, com­para os bra­sões e agora tem cer­teza de quem Loys é de ver­dade. Hilarion decide espe­rar para reve­lar a ver­dade na frente de todos. Ele, então, esconde a espada em um canto.

Cena 10: Os cam­po­ne­ses retor­nam da colheita com um car­ri­nho de madeira repleto de uva. Decidem cha­mar Giselle para a festa. Colocam uma coroa de flo­res na sua cabeça. Albrecht rea­pa­rece após veri­fi­car que nenhum nobre estava por perto. Após a dança, os dois heróis se beijam.

Cena 11: Hilarion não con­se­gue segu­rar o seu ciúme e conta à Giselle quem é Loys, mos­trando a espada. Albrecht nega. Hilarion, então, sopra a cor­neta. Albrecht, com raiva, pega a espada e corre para ata­car Hilarion.

Cena 12: Ao som do cha­mado, os nobres retor­nam e o Príncipe e a prin­cesa saem da casa de Berthe. Eles vêem Albrecht e lhe per­gun­tam sobre os tra­jes que ele está ves­tindo. Ele se des­culpa e beija a mão de sua ver­da­deira noiva, Bathilde.

Cena 13: Giselle entra no meio dos dois e per­gunta à Bathilde o que está acon­te­cendo. Giselle lhe diz que aquele é seu noivo. Bathilde diz o mesmo. Giselle então joga o colar que ganhou da prin­cesa no chão e corre em dire­ção a sua casa, caindo nos bra­ços de sua mãe, que tenta consolá-la.

Giselle enlou­quece. Ela vê a espada, pega, diz para todos fica­rem longe dela e então tenta se matar com a espada, mas é impe­dida por Hilarion/ ou pela sua mãe. Ela começa a relem­brar a dança que fez com Loys.  Em seu último sus­piro, ela olha para Albrecht, depois cai morta.

Albrecht pega e espada e quer ata­car Hilarion, mas Wilfrid, seu escu­deiro, o detém. Wilfrid o leva embora. Fica uma mul­ti­dão ao redor da jovem morta. Berthe chora a morte da filha segu­rando o seu corpo.

Ato II:

O palco mos­tra uma flo­resta às mar­gens de um lago. Entre o frio e a umi­dade, jun­cos, flo­res e plan­tas sil­ves­tres, plan­tas aquá­ti­cas, álamos e sal­guei­ros, com uma folha­gem pálida que desce para a terra. À esquerda, sob o cipreste, uma cruz branca de már­more, na qual está escrito Giselle. O túmulo está imerso entre grama e flo­res. A luz azul da lua ilu­mina essa ima­gem fria e nebulosa.

Cena 1: Hilarion chora ajo­e­lhado na sepul­tura de Giselle. Entram alguns caça­do­res que bus­cam um lugar con­ve­ni­ente para colo­car arma­di­lhas para presas.

Cena 2: Ao fundo se escuta o bada­lar de sinos. Deu meia-noite, a hora que, segundo a lenda, as Wilis saem de seus túmu­los para dan­çar. Ouve-se uma música fan­tás­tica, todos ficam apa­vo­ra­dos e cor­rem para todos os lados. Aparecem faís­cas por todos os lados. Eles saem.

Cena 3: O junco se afasta deva­gar e de den­tro das plan­tas úmidas, surge Myrtha, rai­nha das Wilis – uma som­bra trans­pa­rente e pálida. Com a sua apa­ri­ção, começa a sur­gir luz em todos os luga­res, ilu­mi­nando a flo­resta e afas­tando as som­bras notur­nas. Isso acon­tece sem­pre que as Wilis apa­re­cem. Nos ombros bran­cos de Myrtha, tre­mem duas asas trans­pa­ren­tes, sob as quais, a Wili pode se escon­der, como se fosse um cober­tor de gás.

A visão fan­tas­ma­gó­rica não fica parada nenhum minuto. Voa por todos os lados, olhando o seu reino, que pos­sui todas as noi­tes. Ela se banha nas águas do lago, se pen­dura e balança nos galhos de sal­gueiro. Após a exe­cu­ção de sua dança, Myrtha que­bra um galho de ale­crim e toca com ele cada arbusto e árvore.

Cena 4: Ao toque do galho, as flo­res, arbus­tos e a grama se abrem, de onde saem as outras Wilis, que vêm rodear Myrtha, lite­ral­mente, como a abe­lha rai­nha. Myrtha espa­lha asas azuis sobre suas súdi­tas e lhes dá o sinal para a dança. Algumas Wilis dan­çam na frente de sua dama.

(*Tirado do libreto russo) – Primeiramente Monna, oda­lisca, apre­senta uma dança ori­en­tal. Após ela, Zulma, baya­dére, exe­cuta uma dança Hindu lenta. Depois duas fran­ce­sas dan­çam Minueto, depois delas, duas ale­mãs valsam.

Cena 5: Um feixe lumi­noso incide sobre o túmulo de Giselle. As flo­res que cres­cem nele endi­rei­tam o caule, levan­tam a “cabeça”, abrindo o cami­nho para uma som­bra branca que elas guardavam.

Giselle apa­rece, envolta em um manto leve. Ela vai até Myrtha, que a toca com o galho de ale­crim, o manto cai. Giselle se torna uma Wili. As asas cres­cem e apa­re­cem nela. Os pés escor­re­gam pelo chão, ela dança, ou melhor; flu­tua pelo chão, como suas irmãs, relem­brando a dança que fazia antes da morte.

Escuta-se um baru­lho. Todas as Wilis fogem e se escon­dem nos juncos.

Cena 6: Albrecht leva flo­res para o túmulo de Giselle. De repente, ele empa­li­dece e a sua aten­ção é cha­mada por uma apa­ri­ção. Albrecht fica sur­preso ao reco­nhe­cer Giselle, que olha para ele com amor.

Cena 7: O Duque tenta segu­rar sua amada, mas não con­se­gue. Ela lhe manda bei­jos, joga-lhe flo­res, mas quando o duque está certo de que con­se­guiu segurá-la, ela some. Albrecht, em deses­pero, quer dei­xar este lugar triste. Mas começa a tes­te­mu­nhar uma cena ter­rí­vel, da qual não con­se­gue des­viar o olhar.

Cena 8: Hilarion, pálido, trê­mulo e quase morto de medo, implora por pie­dade às Wilis, que o per­se­guem. Mas a rai­nha das Wilis, ao tocá-lo com seu galho, força-o a se levan­tar e repe­tir a dança, que começa a executar.

Hilarion, movido por um fei­tiço, dança con­tra a sua von­tade. Ele dança com uma Wili, e, ao pen­sar que a sua par­ceira está se can­sando, ela logo é subs­ti­tuída por outra, e assim suces­si­va­mente. No final, exausto e cheio de dores, Hilarion tenta fugir, mas as Wilis o cer­cam com sua dança, que vai se afu­ni­lando e ficando mais rápida. O fei­tiço o faz dan­çar, e nova­mente uma par­ceira subs­ti­tui outra.

Hilarion não está mais aguen­tando, então Myrtha, a rai­nha, dança com ele. Ele nova­mente passa por todas, até ser indu­zido ao abismo, ou ao lago, onde é jogado/ ou cai, e morre. As Wilis come­mo­ram até uma delas notar a pre­sença de Albrecht. O Duque é con­du­zido ao cen­tro da dança.

Cena 9: As Wilis ficam ani­ma­das com a nova vítima e o cer­cam. Mas, no momento em que Myrtha tocará Albrecht com seu galho mágico, obrigando-o a dan­çar, Giselle corre e segura a mão de sua rainha.

Cena 10: Giselle diz para Albrecht cor­rer, pois se ele come­çar a dan­çar irá mor­rer. Morrerá como Hilarion — ela com­pleta — apon­tando para o lago/abismo. Vendo a dúvida do seu amado, Giselle, então, pega a sua mão e o leva para a cruz, o sím­bolo sagrado é a única chance de salvação.

Myrtha e as Wilis os per­se­guem, mas com a pro­te­ção de Giselle, Albrecht con­se­gue che­gar até a cruz. As Wilis não con­se­guem ata­car Albrecht, uma força des­co­nhe­cida as afasta. A rai­nha quer vingar-se daquela que seques­trou a sua presa, então, ergue a sua mão sobre Giselle. As asas da heroína se abrem e ela começa uma dança gra­ci­osa e apai­xo­nada. Albrecht observa em pé, imó­vel, mas logo, o encanto e o fas­cí­nio da dança da Wili o atrai, invo­lun­ta­ri­a­mente, e é exa­ta­mente isso que Myrtha que­ria. Albrecht deixa a cruz – a sal­va­ção da morte – e vai até Giselle. Ela, apa­vo­rada, implora para que ele volte para lá, mas a rai­nha toca Giselle, e esta é obri­gada a con­ti­nuar a sua dança atra­ente. Isso é repe­tido mais de uma vez.

 

Finalmente, atraído pela pai­xão, Albrecht se afasta da cruz e vai até Giselle, que ainda tenta pará-lo. A essên­cia de Giselle vence mais uma vez, e eles come­çam uma dança aérea.

As Wilis entram na dança deles e os cercam.

Um can­saço mor­tal começa a tomar conta de Albrecht. Giselle vai até ele, com lágrima nos olhos, mas por um gesto da rai­nha, ela é obri­gada a voar nova­mente para longe. Mais um pouco e Albrecht morrerá.

De repente, começa a raiar o dia. A noite desa­pa­rece, e com ela, o fan­tás­tico e tem­pes­tu­oso baile das Wilis vai pene­trando nas entra­nhas da vege­ta­ção de onde veio. Com o raiar do dia, as flo­res notur­nas murcham.

Vendo isso, Giselle nova­mente se enche de espe­rança na sal­va­ção de Albrecht. Ela inclina-se sua­ve­mente sobre as mãos fra­cas do seu amado, e assim como suas irmãs, começa a sen­tir os efei­tos adver­sos do dia. Ela é arras­tada pelo seu des­tino ine­vi­tá­vel e aproxima-se do seu túmulo.

Albrecht, per­ce­bendo o que aguarda Giselle, a car­rega para longe da Sepultura. Ele se ajo­e­lha e a beija, como se dese­jasse entregar-lhe a sua pró­pria alma para que Giselle retorne à vida. Mas ela lhe mos­tra o sol bri­lhando, dizendo que é neces­sá­rio submeter-se ao seu des­tino e que devem se sepa­rar para sempre.

Albrecht fica só, cai de joe­lhos deso­lado (Hoje). Fim. Ou:

Cena 11: Ressoa o som da cor­neta. Albrecht a escuta com medo, Giselle com feli­ci­dade. Entra cor­rendo o fiel escu­deiro, Wilfrid. Ele guia o prín­cipe, Bathilde e uma comi­tiva nume­rosa. Ele os levou até Albrecht na espe­rança de que con­si­gam res­ga­tar o Duque. Albrecht corre até o seu escu­deiro e pede para ele parar — no momento que a vida de Giselle está desaparecendo.

Albrecht volta e observa com sur­presa e tris­teza. Ele vê que Giselle afunda mais e mais em seu túmulo. Giselle mos­tra Bathilde a Albrecht, dobrando os joe­lhos, faz um apelo, esten­dendo os bra­ços para ele. Giselle pede a seu amante que dê o seu amor e leal­dade àquela moça. Este era o seu último desejo, seu pedido.

Com um último pedido de per­dão, Giselle desa­pa­rece em meio às flo­res e grama, que a cobrem por definitivo.

Albrecht arranca algu­mas flo­res que aca­ba­ram de cobrir Giselle. Amorosamente, ele as leva até os lábios, beija e depois aperta con­tra o seu peito. Um pedido de Giselle para ele é sagrado. Ele cai enfra­que­cido nos bra­ços da comi­tiva, esten­dendo a sua mão para Bathilde. Fim.

Sequência da Partitura

Ato I

  • Nº1 — Introdução
  • Nº2 — Cena 1
  • Nº3 — Entrada de Albrecht
  • Nº4 — Entrada de Giselle
  • Nº5 — Cena dançante
  • Interpolação — Pas de deux para Maria Gorshenkova (Ludwig Minkus; 1884).
  • Nº6 — Cena de Hilarion
  • Nº7 — Regresso da colheita
  • Interpolação — Pas de cinq para Carlotta Grisi (Cesare Pugni; 1850)
  • Nº8 — Valsa
  • Nº9 — Cena dançante
  • Nº10 –  Berthe
  • Nº11 –  Cena: A caça Real
  • Nº12 –  Cena de Hilarion
  • Nº13 –  Marcha dos colhedores
  • Interpolação – Variação para Elena Cornalba, tam­bém conhe­cida como Pas Seul. (Riccardo Drigo, 1888).
  • Interpolação — Pas de deux para Nathalie Fitzjames, tam­bém conhe­cido como Peasant pas de deux.

– Tirado da obra “Souvenirs de Ratisbonne” de Johann Friedrich Franz Burgmüller, 1841:

a. Entrada

b. Andante

c. Variação

d. Variação

Interpolação – vari­a­ção femi­nina suple­men­tar. (Teatro Mariinsky. Riccardo Drigo?; do bal­let “Brincadeira de Cupido”; 1890)

e. Variação

f.Coda

  • Nº14 –  Galop générale
  • Nº15 –  Grand cena dra­má­tica: A lou­cura de Giselle

 

 

Ato II

  • Nº16 — Introdução e cena
  • Nº17 — Entrada e dança de Myrtha
  • Nº18 — Entrada das Wilis
  • Nº19 — Grand pas das Wilis
  • Nº20 — Entrada de Giselle
  • Nº21 — Entrada de Albrecht
  • Nº22 — Aparição de Giselle
  • Nº23 — A morte de Hilarion
  • Nº24 — Cena das Wilis
  • Nº25 — Grand pas d’action:

a. Grand adage

b. Variação de Giselle

c. Variação de Albrecht

Interpolação – Variação para Adèle Grantzow (Supostamente com­posta por Cesare Pugni; 1867)

d. Coda

  • Nº26 — Cena final

 

Sobre a Partitura

Giselle foi o pri­meiro bal­let com uma música intei­ra­mente com­posta para ele. Antes, as músi­cas dos mais famo­sos bal­lets eram melo­dias pré-existentes arran­ja­das, que usa­vam um con­junto de can­ções popu­la­res, reor­ga­ni­za­das e orques­tra­das em uma forma dan­çante. Foi um dois pri­mei­ros bal­lets a usar leit­mo­tifs – motivo musi­cal con­du­tor; um tema musi­cal que iden­ti­fica um per­so­na­gem. Como os temas de Albrecht e Giselle, de Hilarion e das Wilis. Os leit­mo­tifs tam­bém acon­te­cem na core­o­gra­fia. Giselle relem­bra a dança que fez com Albrecht, no iní­cio do bal­let, na cena da lou­cura e logo quando rea­pa­rece no segundo ato.

A música para o famoso “Peasant Pas de Deux” foi com­posta por Frédéric Burgmüller e acres­cen­tada na pri­meira apre­sen­ta­ção para agra­dar a um patrono rico, cuja amante era Nathalie Fitzjames, a dan­ça­rina que rece­beu o papel da menina cam­po­nesa. A sua colo­ca­ção no Ato I varia, assim como o número de bai­la­ri­nos que a dançam.

Ludwig Minkus fez várias mudan­ças na par­ti­tura para as pro­du­ções de São Petersburgo. A vari­a­ção de Giselle foi com­posta por ele e inse­rida na pro­du­ção de 1864. Ficou tão popu­lar, que foi adi­ci­o­nada à par­ti­tura ori­gi­nal de Adam.

Fatos Curiosos:

  • Segundo as memó­rias de Adam, o esboço da par­ti­tura de Giselle foi con­cluído em 8 dias, e a par­ti­tura com­pleta foi escrita em 3 sema­nas. Foram dados 2 meses para o ensaio da coreografia.
  • Gautier pen­sou desde o iní­cio em Grisi como Giselle, por quem era apai­xo­nado. Ela tinha 21 anos na época e tinha um rela­ci­o­na­mento com o pro­fes­sor e coreó­grafo Perrot. Théophile Gautier era casado com a can­tora Ernestina Grisi, irmã da bai­la­rina Carlotta.
  • Giselle se dife­ren­ciou dos outros bal­lets da era român­tica pelo fato da heroína prin­ci­pal ser uma jovem comum, e não uma cri­a­tura mis­te­ri­osa, embora no segundo ato, ela se torna um fantasma.
  • Segundo algu­mas fon­tes na inter­net, as Wilis solis­tas: Zulma e Monna, mor­re­ram por sui­cí­dio. Zulma, cuja vari­a­ção é base­ada em sal­tos, mor­reu ao pular de um abismo, e Monna, cuja vari­a­ção é cheia de Renversées, mor­reu ao se jogar em um rio com forte cor­ren­teza e repleto de redemoinhos.
  • Com a ver­são em ale­mão, o livro “De l’Allemagne” foi divi­dido em dois livros: Zur Geschichte der Religion und Philosophie in Deutschland (“Na História da Religião e  Filosofia na Alemanha”) e Die Romantische Schule (“A Escola Romântica”).
  • É conhe­cido que, nas suas reda­ções de bal­lets anti­gos, Petipa tirava tudo que ele con­si­de­rava supér­fluo. Então, pro­va­vel­mente, foi em sua reda­ção de 1884 (5 de Novembro), que ele eli­mi­nou a cena final.
  • A ver­são dan­çada pelo Teatro Municipal do Rio de Janeiro foi feita para o Royal Ballet de Londres, por Peter Wright, em 1961.
  • Elementos do libreto ori­gi­nal, que são rara­mente vis­tos hoje, são: uma cena mímica onde Giselle conta para Loys que teve um sonho em que ele estava apai­xo­nado por uma linda nobre (logo quando ela sai da casa e antes de fazer o bem-me-quer). A entrada de vários caça­do­res a cavalo, e uma pro­cis­são gran­di­osa para os cole­to­res de videi­ras no Ato I. No Ato II, hoje falta os caça­do­res jogando dados, no iní­cio do ato, e um encon­tro entre os cam­po­ne­ses e as Wilis. Albrecht tes­te­mu­nhando a morte de Hilarion, escon­dido de trás de uma árvore, e Bathilde retor­nando para res­ga­tar Albrecht, no final do ballet.
  • Parece que Gautier apoiou a idéia de Giselle mor­rer de uma ferida deri­vada da espada de Albrecht. Para a Rússia de Petipa, o sui­cí­dio era ina­de­quado. Portanto, ele esta­be­le­ceu a morte pelos efei­tos do cho­que emo­ci­o­nal e tris­teza em um cora­ção fraco.

Sobre Giselle de Mats Ek

Minha ver­são de Giselle é uma ten­ta­tiva de recon­tar a his­tó­ria. Para mim, Giselle — e isso tam­bém se aplica ao bal­let antigo – é sobre o amor. Amor, que na antiga ver­são vence a morte. Que difere da minha. Mas o amor con­ti­nua a ser a prin­ci­pal ques­tão.” (Mats Ek)

Mats Ek é um grande bai­la­rino e coreó­grafo Sueco. Nascido em 18 de Abril de 1945, em Malmö. Ele é filho do ator Andres Ek e da coreó­grafa Birgit Cullberg, ex-diretora do Cullberg Ballet, a quem ele substituiu.

Em 1982, ele estreia a sua ver­são de Giselle. Um bal­let con­tem­po­râ­neo, com 16 bai­la­ri­nos no total. Giselle apa­rece des­calça e com uma boina puxada sobre a testa. Alguns enten­dem essa Giselle como a “idi­ota da vila”, outros, mais como uma desa­jus­tada, que vê e ouve coi­sas que os outros não. Hilarion, seu noivo, a ama, mas é inca­paz de compreendê-la, e a man­tém presa em uma corda, como um animal.

Os aldeões são retra­ta­dos como um grupo de tra­ba­lha­do­res mise­rá­veis, à beira de uma revolta social.

Giselle é pura, espon­tâ­nea e natu­ral. Revelando para Albrecht o seu mundo interno, o jovem, recém-chegado na cidade, fica fas­ci­nado pela riqueza de sua ima­gi­na­ção e pela sua doçura. Bathilde ganha mais espaço na ver­são de Mats Ek do que tinha na ver­são tradicional.

A mãe de Giselle, Berthe, não aparece.

O segundo ato se passa no ambi­ente sur­real de um manicô­mio, que tem par­tes do corpo humano deco­rando as pare­des. Giselle passa por uma lobo­to­mia e é levada para a ala onde Myrtha é a enfer­meira encar­re­gada. As Wilis são paci­en­tes ves­ti­das de branco. São pre­sas con­de­na­das à frustação.

A figura de cai­pira hos­til de Hilarion se trans­forma em uma de com­pai­xão, quando ele vai visi­tar Giselle, espe­rando que não seja tarde demais para trazê-la de volta à rea­li­dade. Mas, assim como na ver­são tra­di­ci­o­nal, ela já estava em outro mundo.

No fim, Albrecht e Hilarion se recon­ci­liam. Ambos amam a mesma mulher, e ambos a per­dem. Albrecht é dei­xado sozi­nho, nu, no local onde ele conhe­ceu Giselle, e Hilarion o cobre com um cobertor.

 

Vídeos:

Versão tra­di­ci­o­nal:

Nureyev, Lynn Seymoure Monica Mason:

 

Teatro Alla Scala:

ABT:

Ana Botafogo e Fernando Bujones em Giselle, 1984. Teatro Municipal do Rio de Janeiro:

Versão de Mats Ek:

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