5, 6, 7, 8… Voltamos às aulas!
Um novo ano se inicia e com ele novos desafios, novas coreografias, novas variações, novos festivais, novas dores, novas bolhas nos pés, algumas novas contusões, novas frustrações, mas também muitas novas alegrias. Assim foi, é e sempre será o dia-a-dia de toda bailarina ou bailarino clássico que faz desta arte o combustível de sua vida.
Sua rotina, repleta de altos e baixos, exige dela ou dele uma determinação única que a(o) faz superar a todo o momento suas limitações e medos, tornando-o um artista capaz de encantar multidões. Quem assiste a um espetáculo de ballet não tem a real dimensão das etapas de preparação que cada componente de um corpo de baile necessita para alcançar os palcos em sua mais bela forma. Pretendo aqui elucidar alguns pontos essenciais para que o público em geral e também os preciosos aspirantes a bailarinos possam compreender como uma série de questões práticas, além de toda técnica aprendida e trabalhada, fazem do ballet uma arte de excelência e magnitude sem igual até os dias de hoje.
Antes de expormos nossas ideias, que tal um pequeno resumo da trajetória do ballet clássico pelo mundo para compreendermos o seu contesto?
Há mais de 500 anos atrás, quando os chamados “ballets de corte” nasceram na Itália com seus espetáculos que uniam poesia, mímica, música e dança, proporcionados pelos nobres italianos, já possuía graciosos movimentos de cabeça, braços e tronco e pequenos e delicados movimentos de pernas e pés, pois os mesmos eram dificultados pelo vestuário feito com material e ornamentos pesados. Após 100 anos de popularidade, o Rei Luiz XIV, grande amante desta arte fundou a Academia Real de Ballet, Academia real de Música e 8 anos mais tarde, a escola Nacional de Ballet. Com isso a dança pode se tornar uma profissão e os espetáculos de ballet passaram dos salões para os teatros. Os profissionais desta área eram todos homens, que interpretavam também os papéis femininos durante os espetáculos.
Somente no fim do século XVII, a Escola de Dança passou a formar bailarinas mulheres, que logo se destacaram, mesmo tendo seus movimentos ainda limitados pelos complicados figurinos. No século XIX marcado pelo romantismo, o ballet passou por uma reconfiguração, onde os conhecidos heróis e heroínas cotidianos deram lugar aos personagens fictícios envolvidos em tramas mais românticas, enfatizando ainda mais a questão sentimental no desenvolvimento das histórias. Neste mesmo momento um elemento crucial é introduzido: os sapatos de ponta. Estes acabam dando à bailarina maior leveza e expressividade. A figura masculina passa a ser seu suporte e a dança ganha uma maior sensualidade.
Os figurinos agora feitos de saias de tule e collants começam a acentuar o corpo da bailarina e a necessidade de lapidar a técnica se torna relevante, pois o corpo está em maior evidência. Após a era enfraquecida do ballet francês, já no século XX a Rússia e seus virtuosos bailarinos passam a influenciar toda a Europa. Foi graças a Diaghilev que a força da dança ressurgiu no ocidente. Acreditando que ao ballet outras artes poderiam se unir, inovou dando oportunidade a novos e mais modernos coreógrafos e compositores, bem como enfatizou a presença e importância do corpo de baile dando mais destaque a ele em seus espetáculos. Era uma nova dança bem parecida com a de nossos dias: extremamente virtuosa, com um toque de poesia, modernidade e inovação.
Ao longo dos anos de sua criação, desenvolvimento e evolução, alguns fatores foram moldando o ballet clássico até possuir as especificidades de como o conhecemos hoje. Nesta pequena retrospectiva acima pudemos observar como o uso dos sapatos de ponta e de roupas mais leves deram ao ballet uma nova roupagem. Do ballet requintado das cortes italianas e francesas ao virtuosismo russo no palco, esta arte passou por relevantes mudanças.
É essencial esclarecermos algumas características próprias desta arte para que cada vez mais o público desperte o interesse em conhecê-lo e para aqueles que já o praticam possam incorporar com maior propriedade seus fundamentos. Mas isso é uma questão para uma próxima conversa.