Em meados de outubro de 2015, recebi um carinhoso convite para escrever no blog da Ana Botafogo. Fiquei muito contente, porque além de ser uma excelente bailarina, também é uma pessoa muito querida e nem consigo imaginar o que seria da minha geração se não crescêssemos vendo a Ana pelos palcos brasileiros.
O convite partiu de outra pessoa, também muito estimada, que é a Lu Fernandes, da Loja Ana Botafogo, na ocasião em que fui procura-la para a confecção da malha do figurino para o evento de lançamento do meu livro “Victória, uma saga italiana no interior do Rio Grande”. Este livro foi minha primeira obra literária, sou bailarina e atriz, e minha formação primeira, que vem desde os quatro anos de idade, é a dança.
Cresci com ela… A Dança…
Fui criança, pré-adolescente, adolescente, adulta com ela, nunca a abandonei e nunca me abandonou, mesmo nos momentos de questionamentos, essa arte dignificante sempre me ajudou a superar limitações e vencer dificuldades. E com certeza, estará comigo até o fim dos meus dias…
A dança me proporcionou ensinamentos que até hoje norteiam minhas escolhas de vida, e faço questão de citar a dedicação e o primor. Tenho um carinho muito especial por esta arte, que é capaz de ensinar o que as palavras não conseguem expressar, que é capaz de educar, resgatar, integrar, conscientizar, fortalecer, dignificar… Enfim… São muitas e inúmeras as qualidades da arte de dançar; de expressar-se e comunicar-se através do corpo, do movimento…
Tudo o que aprendemos com essa arte maravilhosa, permanece registrado, inscrito no corpo, no histórico de vida. E dentre tantos benéficos ensinamentos, além do conhecimento da própria estrutura corporal e suas possibilidades, cito o autoconhecimento, a superação de desafios, o desenvolvimento da criatividade, a expressão, a comunicação, a percepção da dignidade, e especialmente o aprimoramento e a disciplina.
Acredito que Dançar é muito mais que uma forma de se mover ou exercitar. Dançar é um modo de ver e se relacionar com o mundo. Quem dança vê o mundo através dos olhos de um corpo que dança! E este é, sem dúvida, o maior aprendizado desta bela e profunda arte. Então…
Retomando o tema do convite para escrever no blog, preparei este modesto artigo em agradecimento ao carinho. Boa dança das palavras para nós!
A Dança é a linguagem do corpo e o idioma da alma!
Muito antes de conhecer as palavras, o ser humano primitivo já sabia dançar. Seus corpos moviam-se em expressão da coletividade, evocando as forças da natureza e louvando o que lhes era inexplicável. A dança do primitivo humano convocava o poder da tribo, dos ancestrais, da terra, do céu e das águas, fazia parte da preparação dos guerreiros, das celebrações às colheitas, do ensinamento das crianças, da súplica na tentativa de aplacar a fúria da morte e das guerras…
A dança participa da vida desde a origem da evolução humana. Expressa, através do corpo, o que não pode ser compreendido somente com as palavras. O movimento é a amplitude da subjetividade, no instante exato em que o invisível torna-se sensorialmente compreensível. É a expressão do corpo ecoando conteúdos que extrapolam os limites da fala. Expressa a cultura dos povos, retrata os momentos políticos, sociais, históricos… Proporciona o diálogo entre o indivíduo e a coletividade, estabelece conexões, trocas, percepções, compreensões… Proporciona saúde, conhecimento, consciência, questionamento, reflexões, catarses… Sensibiliza, entusiasma, desperta a alegria e a vitalidade. Vivifica! Vivo Fica!
É capaz de dar voz a toda uma nação. Um povo que não dança é um povo silenciado em sua expressão.
Felizes aqueles que dançam e cultivam a arte de comunicar-se além das palavras.
“A Dança proporciona respiro à existência!”
Autoria: Ana Guasque – é bailarina e atriz formada pela Escola de Arte Dramática da USP, em São Paulo. Participou das novelas Boogie Oogie, Sete Vidas e Totalmente Demais na Rede Globo de Televisão. Duas vezes indicada ao Prêmio Açorianos de Melhor Bailarina no RS; foi bailarina da Ânima Cia de Dança, de Eva Schul. Seus mais recentes espetáculos foram “Sobre Ancas”, com direção de Cláudia Palma, e “Valsa em Pedaços”, de própria direção, ambos realizados em São Paulo. Em 2015, Ana Lançou o livro “Victória, uma saga italiana no interior do Rio Grande”, sua primeira obra literária, com a parceria da atriz Rosi Campos. Ana reside no Rio de Janeiro, onde se dedica à carreira de atriz e bailarina; também faz parte de um grupo de cinema coordenado pelo ator Paulo José. Dedica a vida à arte com amor e entrega, e agora também escreverá para o blog da Ana Botafogo.