No Visões da Dança de hoje temos o depoimento de um bailarino muito querido e admirado por nós do #5seis7oito, o Yoshi Suzuki. Vamos conferir?
Minha mãe sempre me fala que aos 5 anos perguntou para mim e minha irmã qual atividade gostaríamos de fazer depois dos estudos, minha resposta foi o ballet, então fomos comprar uma sunga, óculos de mergulho, uma touca e iniciei as aulas de natação hahahahahaha! Não me lembro muito desse período mas tenho vagas lembranças na escola olhando as meninas fazendo aulas de dança, sempre gostei. Aos 10 anos falei novamente para minha mãe que queria dançar, então me inscrevi nas aulas de sapateado, 2 anos depois comecei as aulas de Jazz, e aos 14 anos decidi fazer um curso de Jazz que ofereciam em um dos festivais competitivos na minha Cidade (Ribeirão Preto), no final do curso o professor veio falar com a minha mãe, disse que tinha talento porem precisava fazer aulas de ballet para aprimoramento, foi então que comecei a frequentar as aulas de ballet que tanto queria. Fiz a primeira audição para bailarinos da SPCD, isso foi em 2008, na época quase desisti do meu sonho, já havia participado de alguns concursos para bolsa de estudos em escolas fora do país mas sempre era excluído por ser muito baixo, estava pensando em todo o investimento que minha mãe e família tiveram para que continuasse dançando até então e minha decisão foi que se não conseguisse contrato eu abriria mão da dança, duvido que conseguiria hahahahaha, no final da audição recebi um contrato como bailarino, mais do que imaginava, esperava o de aspirante.
Sempre fiz pequenos solos na SPCD, e aos poucos, com muito estudo, algumas frustrações e esforço fui aprendendo o que é trabalhar em uma companhia de dança, a verdade é que enquanto somos estudantes o mundo da dança é uma maravilha, não que o profissional não seja, porém muitas outras coisas entram em consideração no momento que isso vira sua profissão, como qualquer profissão eu acredito, porém a dança depende muito dos seus sentimentos, somos artistas e em alguns períodos de nossa carreira isso pode ser um êxtase ou muito frustrante. Alguns dias depois de estreiar o papel principal na remontagem de La Sylphide no ano de 2014 tive uma reunião com a diretora da SPCD Inês Bogéa e fui promovido para Solista, o cargo mais alto de um bailarino nessa Cia. A rotina na São Paulo Companhia de Dança não é fácil, não temos um coreógrafo residente nem uma hierarquia definida os elencos, então sempre passamos por mais de 4 audições de elenco no ano para cada novo ballet, é bom porque nos mantemos sempre em forma almejando as oportunidades, mas matar um leão por dia não é fácil. O que mais gosto na SPCD é o repertório que dançamos, temos uma oportunidade única no Brasil de dançar tanto ballets consagrados do século XVIII XIV e XX, coreografias de grandes coreógrafos da atualidade e de coreógrafos Brasileiros, como sempre dançamos técnicas diferentes em um mesmo programa os bailarinos da SPCD se tornam muito flexíveis e rápidos para se adaptar as diferentes linguagens da dança.
Minha rotina começa as 10hs com a aula de ballet, e seguimos com ensaios até as 17:00hs depois temos o horário até as 19:00hs para diversas atividades como aprimoramento técnico, fisioterapia, musculação, ou reuniões.
Penso futuramente em trabalhar fora do País sim, desde que seja em um lugar que traga novos desafios e eu me sinta bem! Sou muito feliz e realizando com o projeto da SPCD, a companhia é pioneira no que faz no Brasil, é uma instituição que tem além da parte de circulação de espetáculos uma grande responsabilidade educativa e de formação de platéia, além de um projeto de memória importantíssimo produzindo documentários sobre a história da dança no país, acho importante e me sinto responsável em fazer parte da construção da dança no país, acho uma pena grandes bailarinos abandonarem seu pais por falta de recursos ou qualidade de vida, e gostaria que isso começasse a mudar. Tenho vontade de experimentar viver fora do meu país, mas no momento meus planos no Brasil são maiores. Dancei em teatros maravilhosos ao longo de minha carreira, com ótima infra-estrutura, lugares lindos fora do pais, espetáculos muito importantes, que vão ficar na minha memória para sempre, mas foi no Brasil em que tive espetáculos muito significativos emocionalmente, quando tive a estréia de dois ballets que sempre sonhei em fazer, La Sylphide e Le Espectre de la Rose, realizei dois dos meus sonhos aqui em São Paulo, foram espetáculos muito emocionantes para mim.
La Sylphide
Le Espectre de la Rose
Porém, o mais marcante foi a primeira vez que dancei para meus avós em 2010, deixei de conviver com eles muito cedo quando foram morar no Japão junto com parte da minha família, meu contato com eles era mínimo, e sempre se preocupavam com a profissão que escolhi para minha vida, sabia que eles não compreenderiam até que me vissem dançar, dançar ao invés de explicar, dançar o que eu gostaria que eles entendessem. Sobre o meu futuro tenho muitas idéias, sempre ligadas a dança, não me vejo distante dela, tenho muito prazer em passar o que aprendo para os outros, tenho um lado que me liga muito ao estudo de como a dança evoluiu para chegar no que é hoje, gostaria de aprofundar esse tema um dia também, estou cursando paralelamente ao meu trabalho licenciatura em Ciências Sociais, acho importante que o bailarino esteja sempre se reciclando, passamos a vida aprendendo, reestruturando, se reinventando. Vou aproveitar esse espaço para agradecer a galera do blog 5seis7oito pelo convite, fico muito feliz em contar um pouco da minha vida para todos vocês, e também para fazer uma reflexão sobre o ensino da dança no Brasil, o que mais me preocupa aqui é formação de novos bailarinos, tenho visto muitas escolas se preocuparem em formar bailarinos que ganhem prêmios em festivais de dança em vez de pensar na formação pessoal e profissional do aluno,professores e diretores de escolas devem pensar sempre nos princípios de lecionar, lembrar que na mão de vocês estão jovens que precisam aprender a se desenvolver como adultos preparados para o mundo físico e social, prêmios não formam bailarinos, a carreira de um bailarino vai muito além de um prêmio, a vida profissional pode ser maravilhosa mas não é fácil, o futuro bailarino deve aprender que a sua carreira não e feita apenas de competições, muito menos de medalhas, ele tem que ter prazer em ensaiar e se desafiar, saber que vai escutar muito “não”, aprender que existe uma hierarquia que deve ser respeitada, aprender a conviver bem em uma sociedade, o convívio é muito importante dentro de uma companhia, aprender a ser corrigido, ter humildade e saber que é um trabalho de dedicação (que as vezes pode não ser reconhecida) por toda a vida.
Que depoimento incrível não acham? Obrigada Yoshi, foi um prazer ter sua história e seus pensamentos compartilhados conosco. Muito sucesso, você é incrível!
Espero que tenham gostado.
Um big beijo e até a próxima!❤