Neste dia 24 de Junho de 2014 Agripina Yakovlevna Vaganova completaria 125 anos de idade.
Infelizmente nossa expectativa de vida não chegou tão longe… Seria maravilhoso que esse gênio pudesse estar entre nós. Pensando em comemorar de alguma forma essa data tão especial para nós amantes do ballet clássico, resolvi fazer esse pequeno texto falando um pouco mais dessa que para mim é a grande dama da dança clássica no mundo.
(Vaganova, Czarina das variações)
Canceriana do último decanato (nasceu em junho de 1879), filha de um porteiro do Teatro Mariinsky (YakovVaganov),Vaganova desde muito pequena sonhava com os palcos. Aos 9 anos entrou para a Escola Imperial de Ballet (em São Petersburgo na Russia), ficando mais próxima de realizar seu sonho. Graduou-se nessa escola sob os cuidados de Eugeniia Sokolova em 1897. Decidida, inteligente e sempre disposta a se superar, ela foi conquistando seus professores ao longo dos anos que permaneceu na escola e, logo após sua graduação, foi aceita no Ballet Mariinsky. Nessa companhia, Vaganova dançou por aproximadamente duas décadas.
Seus anos na companhia não foram fáceis. Seu sonho de crescer e chegar ao posto de prima ballerina por vezes parecia impossível. Pernas grossas demais, cabeça grande e figura pequena tornavam sua trajetória ainda mais difícil. O Grande Márius Petipa praticamente não se importava com Vaganova. Quando fazia alguma referência a ela como bailarina, incluía palavras como: “Terrível e horrível”. Em alguns dos seus diários, ele fez comentários bastante ofensivos sobre a figura dela em cena. O fato é que Vaganova seguiu sua carreira e se tornou a melhor bailarina que podia ser. Ganhou extra oficialmente da crítica especializada o título de “ Czarina das variações”. Até os dias atuais muitas pessoas referem-se às variações do grandpas de deux de D. Quixote, do pas de trois do ato das sombras de La Bayadère, do pas de trois de Paquita como solos de Vaganova.
Rainha das Dríades (D. Quixote), Rainha das águas (O Cavalinho Corcunda), estavam entre os papéis que Vaganova mais interpretou. Em 1915, um ano antes de se aposentar, Agripina Yaklovevna Vaganova recebeu o título de Prima Ballerina. Mulher que enxergava à frente de seu tempo, jamais deixava escapar a oportunidade de aprender com os colegas mais velhos, fosse nos palcos ou nas aulas. Sempre muito crítica consigo mesma, era capaz de perceber a insuficiência da sua técnica e em um dos seus diários disse o seguinte: “ Era evidente que eu não progredia. E essa consciência era horrível. Foi aqui que começaram para mim os tormentos de insatisfação, tanto comigo mesma e com o sistema de ensino”.(VAGANOVA, Agripina Yakovlevna. Fundamentos da Dança Clássica (Tradução Ana Silva e Silvério) – 1ª ed. – Curitiba – Appris, 2013.)
Com o final de sua carreira como bailarina em 1916, dedicou-se à carreira de pedagoga de ballet clássico. A partir de então Vaganova concentrou todos os seus esforços para recriar a forma de ensinar ballet clássico. Por volta de 1918 ela começou a dar aula de ballet no estúdio de Al Volyn e ali começou a rever toda a pedagogia da metodologia da escola russa antiga! O seu desejo de compreender a ciência da dança ficava cada vez mais claro. Incansavelmente estudava a anatomia humana, a cinesiologia de cada passo, o melhor andamento musical, como e quando aprender cada movimento e a importância de aprendê-lo na sua forma correta. Poder colocar em prática seus estudos foi a parte determinante para o sucesso do mesmo.
Todos os pontos tendenciosos da escola russa antiga foram revistos e refeitos e, aos poucos,Vaganova criava a codificação de seu método que revolucionaria todo o sistema de ensino de ballet clássico no mundo.
(Por Fabio Matheus – Pós-Graduado em Repertório Clássico e Metodologia de Ensino na Kennedy (EUA). Graduou-se em Ballet Clássico na San Francisco Ballet School. Desde 2006 faz parte do júri e pedagogos do IBC Varna, Bulgaria)