Undine é um conto de fadas alemão escrito por Friederich de la Motte Fouqué, publicado em 1811.
O livro se tornou tão popular, que já em 1814 estreou a opera homônima, do compositor E. T. A. Hoffman. O próprio Fouqué foi quem fez a adaptação do livro para o libretto. Ao longo da história, esse conto foi traduzido para muitos idiomas distintos e vem, desde então, inspirando vários compositores, como Tchaikovsky, Ravel e Debussy, assim como escritores e artistas plásticos.
O ballet Ondine, coreografado por Jules Perrot na música de Cesare Pugni e cenário de William Grieve, estreou em 22 de Junho de 1843, no Queen’s Theatre, em Londres. No elenco principal estavam Fanny Cerrito (Ondine), Jules Perrot (Mattéo), Mme Copère (Hydrola), Mlle Guy-Stephan (Giannina).
No dia da estreia, Pugni dedicou a partitura à Duquesa de Cambridge, Princesa Augusta, Patrona das Artes de Londres.
Para a criação da coreografia, Perrot usou apenas a trama principal, ou seja, o amor de uma Náiade, que podemos de uma forma grotesca chamar de Sereia, por um mortal, que já estava comprometido. Fora isso, tudo que foi possível ser modificado no enredo original do livro, foi modificado. A ação foi transferida das águas do rio Danúbio para a ensolarada Sicília, uma ilha no mar mediterrâneo (Itália). O aristocrata Sir Huldbrand foi transformado no pobre pescador Mattéo, e a amada do aristocrata, Bertalda, foi transformada na órfã Giannina.
Ondine (3 atos e 6 cenas)*
*O libreto é uma tradução livre, feita por mim, tirada do livro “Cesare Pugni: Music from Five Ballets”, da Cambridge Scholars Publishing (2012), editado e introduzido por Robert Ignatius Letellier.
Cena 1:
Na costa da Sicília, na Itália, pescadores se preparam para o festival de Nossa Senhora (Madonna). Mattéo, um pescador, está presente com a sua noiva, Giannina. Ele fica para trás para puxar a sua rede e nela vem a ninfa aquática, a náiade Ondine, que se apaixona por ele. Ela tenta atrair Mattéo para uma rocha alta, de onde se joga para a água, chamando-o para segui-la, mas algumas pessoas da vila se intrometem bem na hora, e salvam o pescador.
Cena 2:
Em sua cabana, Mattéo relata a sua aventura para a sua noiva, Giannina. Uma rajada de vento abre a janela e Ondine entra, visível apenas para Mattéo. Ela atrapalha a dança de Giannina e eventualmente pula para a janela, olhando para o mar e convidando Mattéo para segui-la. Ela resolve mostrar a ele um pouco do seu mundo em sonho.
Cena 3:
m uma caverna submarina, Ondine aparece em meio a um grupo de ninfas e dança um pas de six. Hydrola, a rainha dos Mares, adverte Ondine sobre se relacionar com os mortais, mas a Náiade, arrancando uma rosa, se mostra preparada para assumir a mortalidade, caso isso seja necessário, a fim de ganhar o belo pescador adormecido.
Cena 4:
No Santuário de Nossa Senhora, os habitantes da cidade dançam a tarantella. Todos se ajoelham e rezam em frente ao Sino de Véspera (no sentindo dos sinos que tocam na véspera das festividades). Ondine surge de uma fonte e atrai a atenção de Mattéo, que a persegue através da multidão ajoelhada. Giannina o trás de volta para os sentidos e ele vai buscar o seu barco. Ondine atrai Giannina para a água e toma a sua forma. Como resultado de ter assumido a forma mortal, Ondine pode ver a sua sombra pela primeira vez refletida sob a luz do luar, perseguindo-a com fascinação e dançando com ela com grande alegria. Mattéo leva Ondine para longe, enquanto Giannina é carregada pelas Náiades para o palácio da rainha Hydrola.
Cena 5:
Ondine dorme na cama de Giannina e ignora a advertência de Hydrola. Ela recusa-se a abandonar a sua mortalidade, apesar de estar enfraquecida e exausta. Mattéo e sua mãe entram, e ele e Ondine dançam o Pas de la rose flétrie, uma tarantella onde Ondine insiste em superar o seu cansaço, para a preocupação de Mattéo.
Cena 6:
Durante a procissão de casamento, Ondine quase não se aguenta em pé. Hydrola e as náiades fazem um último esforço em tentar salvar Ondine. A Rainha das águas restaurou a vida de Giannina e agora a guia. Mattéo se surpreende e fica feliz ao ver seu verdadeiro amor, enquanto Ondine retoma a sua forma imortal e é carregada triunfalmente para o seu lar, embaixo das águas do mar.
“O Ballet tornou-se famoso pela concepção genérica de cenas tipo a do Pas de l´Ombre. Foi elogiado por seu décor magnifico, mas é sentido que não é igual a Giselle (The Times, 23 de Janeiro de 1845″*). A música de Pugni foi descrita como “singularmente apropriada, bastante descritiva, e acrescenta um charme para a perfeição do ballet… o acompanhamento musical que descreve a ascensão e queda das ondas é eminentemente característico e bonito: a própria ondulação do fluxo, e o som corrente da vazante sobre a costa pedregosa, são ouvidos e satisfazem por completo os ouvidos”.
Em 1847, Paul Taglione apresenta “Coralia, ou The Inconstant Knight (O Cavaleiro Inconstante)”, também inspirado no conto Undine, de Fouqué, e música do mesmo compositor, Cesare Pugni. A estreia se deu no mesmo teatro: “Her Majesty’s Theatre”, em Londres.
Quando Jules Perrot vai trabalhar na Rússia, Pugni o acompanha. E em 11 de Fevereiro de 1851, estréia a nova versão de Ondine sob o título de “Naïad et le pêncheur” (A Náiade e o Pescador), com Carlota Grisi. Pugni revisou por completo a sua partitura e acrescentou novas partes.
Em 23 de Julho foi apresentada uma noite de Gala ao ar livre, no palácio de verão de São Petersburgo, “Peterhoff”, em comemoração ao aniversário da filha do Imperador Nikolai I, Olga Nikolaevna. Perrot utilizou uma plataforma especialmente construída sobre as águas do lago, no Ozersky Pavillion, e as Náiades deslizaram para a plataforma em barcos construídos em forma de conchas. O cenário natural de árvores, juntamente com um bom tempo e uma bela lua que brilhou na cena, fez um evento singular, memorável na história do ballet.
Litografia representando a noite de Gala no palácio de verão de São Petersburgo, Julho de 1851. La naïade et le pêcheur.
Marius Petipa remontou esse ballet algumas vezes, e em 1867 o fez para a bailarina Ekaterina Vazem, em trabalho com Pugni, que compôs novas variações especialmente para a bailarina.Em 1874, para a bailarina Eugenia Sokolova, com revisões musicais de Ludwig Minkus. Em 1892 foi a vez de Anna Johansson brilhar no papel da ninfa aquática com revisão musical de Riccardo Drigo.
O neto de Cesare Pugni, Alexandr Shiryaev (um dos criadores do método de dança caráter), remontou o ballet, que ficou 2 anos em cartaz. O papel foi dançado por Anna Pavlova, Tamara Karsavina, Mathilde Kshessinskaya e Mikhail Fokine. Em 1921, Shiryaev remonta o ballet para o Instituto Coreográfico de Leningrado (hoje, Academia Vaganova), Em 1984, foi apresentada uma suíte usando coreografias da versão original de Perrot, em homenagem aos 80 anos de Pyotr (Peter) Gusev, que fez o trabalho de remontagem.
Em 16 de Março de 2006, Pierre Lacotte estreia a remontagem do original de Perrot, com partitura unindo a música de Pugni de 1843 e1851, no Teatro Mariisnky, com Evegnya Obratsova no papel de Ondine.
Em 27 de Outubro de 1958, Sir Frederick Ashton estreia o seu ballet Ondine, também inspirado no mesmo romance. A música original foi composta por Hans Werner Henze.O ballet foi criado para Margot Fonteyn.
Fato Curioso:
Segundo a Enciclopédia Russa de Ballet e algumas outras fontes na internet, o pas de six e a dança com a sombra foram criações da própria Fanny Cerrito, a primeira Ondine da história.
1984, remontagem de Pyotr Gusev:
Parte 1:
Parte 2:
Parte 3:
Ondine remontado por Pierre Lacotte:
Parte 1:
Parte 2:
Parte 3:
Parte 4:
Ondine de Frederick Ashton:
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