Representantes de cento e tantos países vindos para o encontro da Rio + 20 discursaram longamente nos pódios como políticos, defendendo suas próprias imagens e tentando manter-se equilibrados na fina corda bamba dos seus preciosos cargos.
Usaram palavras cuidadosamente calculadas para em vozes impostadas não dizer sim nem não (muito pelo contrario) e principalmente usaram do pensamento, do qual nós humanos nos orgulhamos, para falar da natureza, que em realidade já não conhecemos, e cuja língua não é essa, e sim o silêncio.
Instagram: Carol Lancelloti
Reunidos como junta médica confiante nos seus diplomas ao redor da paciente Terra, lançamos do alto da nossa arrogância os mais díspares diagnósticos todos errados, vindos da nossa mente egóica.
Nem por um momento desconfiamos que o que nos parece enfermidade pode ser a forma mais natural de expressar-se de um ser vivo.
Todo e qualquer movimento da Terra que não nos beneficie automaticamente consideramos doença, porque não atende nossas mais primarias e supérfluas necessidades.
Esquecemos que o encontro não era para falar e sim para escutar, ouvir o incessante grito da natureza que só o silêncio permite alcançar.
Acreditamos, então, piamente no concilio das nossas calculadas palavras e nos esquecemos da alma para justamente nos referirmos à natureza, que é principalmente alma.
Dessa forma, foi-lhes dada a todos os habitantes da Terra a possibilidade de falarem, mas não assegurada a de serem ouvidos.
Curiosamente, no amanhecer do último dia da reunião de líderes no Rio, num dos albergues do evento, encontraram morto (possivelmente do coração) na sua rede de dormir, o líder indígena Ismael Karajá (Ismael, nome do anjo protetor do Brasil, segundo a cultura espírita).
Orgulhosos, altivos e intocáveis como estrelas siliconadas do cinema americano, felizes por tantas horas de holofotes disponíveis, mandatários dos mais variados níveis desfilaram em suas limusines poluidoras acompanhadas por esquadras de batedores também poluidores, e voltaram em seus aviões mais poluidores ainda a seus países, satisfeitos com tanto gasto inútil e certos de ter feito nada a não ser garantir a continuidade das suas próprias mediocridades.
Isso sim, falaram, falaram, falaram muito, parecera que para não ouvir o grito de tantos seres que lhes alertavam desde fora da redoma protetora de tudo aquilo que eles, do alto dos seus palácios de governo, não conseguem ver. Parecera que para não ouvir o grito silencioso da Terra, que nos diz: “vocês também são a natureza, vocês são minha carne, vocês são eu”.
Por: Luis Arrieta é bailarino, natural de Buenos Aires, e iniciou sua carreira de coreógrafo em 1977. Desde então, assinou mais de uma centena de coreografias, trabalhando com os mais variados temas e gêneros musicais, junto a diversas companhias internacionais da Europa e das Américas.