O encontro entre a dança, a fotografia e o urbano com um toque de brasilidade.
Em meu último post, apresentei ensaios fotográficos internacionais que abordam o balé em meios urbanos, trazendo a poética desse encontro ao público. Hoje, trago mais um projeto fotográfico com essa mesma proposta, mas com uma diferença: este é nacional!
O Bailarina Projétil, idealizado pela bailarina Taís Alves, explora a beleza urbana típica de nosso país junto às curvas naturais das bailarinas brasileiras, o que o tornou um projeto plural, coletivo e único.
Candai Calmon — Porto da Barra — Salvador, BA
Para uma abordagem e apresentação mais completa e profunda do projeto, convidamos a Taís para uma entrevista especial ao blog da Loja Ana Botafogo. Confira abaixo!
LAB: Como surgiu a ideia de fazer o Bailarina Projétil?
De uma brincadeira. Antes de ser projeto, era um movimento pessoal um tanto irônico, com a hashtag #Projétildebailarina , repensando a página do Ballerina Project (pela qual sou encantada). Tirava fotos amadoras minhas em locais públicos e inspiradores (como todo bailarino costuma fazer em seu cotidiano, rs) como a página do Ballerina, que se propõe a registrar, em imagens, bailarinas em ambientes inesperados, criando experiências visuais singulares, inspiradoras e poéticas, tudo isso com poses simples e trazendo uma relação forte com o ambiente. Eu olhava pra foto e pensava: “Não é nenhuma foto do Ballerina Project, mas eu gostei”. Daí surgiu a ‘brincadeira irônica’ #ProjétilDeBailarina . Então, o movimento era justamente em contraponto à página, pontuando a diferença de corpo e ambiente sem perder a técnica e a beleza do movimento em qualidade. Com qual intuito? Nós brasileiros, dentro da técnica clássica, por muito tempo sofremos esse “bullying estético corpóreo” (hoje em dia um pouco menos, com alguns profissionais contemporâneos que têm reformulado o olhar sobre a técnica), era uma forma de expurgar aquilo de dentro, alçando voz em ação… “Impossível viver sonhando a utopia”. Com as fotos, naturalmente fiz uma contraposição aos corpos europeus, valorizando a variedade brasileira de corpos e raças. Essa simples exposição de verdade artística, rendeu muitas mensagens inbox, de pessoas desejando que houvesse realmente uma página no Facebook. E foi assim que decidi aderir aos pedidos e colocar em prática, movendo “o mundo” brasileiro comigo rumo à promoção e valorização do que é nosso.
LAB: Como foi o processo de adaptação até chegar ao Bailarina Projétil?
Logo quando decidi aderir aos pedidos e criar a página, comecei a mandar mensagens inbox para bailarinas profissionais que conhecia, movimentando a proposta com fotos amadoras, mesmo. Muitas toparam de primeira, e me ajudaram a mobilizar a página com fotos de celular, de câmera comum. Com isso, fomos propagando, passando de um em um, até ser surpreendida com fotos de garotas do Rio de Janeiro. O projeto virou um projétil, de fato, alcançando pessoas e atingindo o alvo de transformar a visão enrijecida. Logo, logo, a ideia foi se expandindo e fotógrafos fizeram questão de participar. Com isso, além de convidar bailarinas, abrimos espaço para fotógrafos que aderissem à proposta. O resultado deu nisso aí, olhares e corpos diferentes. Coisa linda de se ver.
Jackeline Leal — Praça Cívica — Goiânia, GO
LAB: É possível identificar que o Bailarina Projétil adquiriu uma essência própria, diferente do Ballerina Project. Como você define esta essência?
Repensando o Ballerina Project é que surgiu o Bailarina Projétil. Mas, não queria ser igual. Nem conseguiria. Pois o que trago comigo enquanto história de corpo e cultura é completamente diferente de Dane Shitagi, idealizador da página do Ballerina. Além do quê, a ideia do Bailarina Projétil é agregar, alçar a voz no olhar de vários fotógrafos em variados corpos e ambientes, que não sou eu quem determino, inclusive contamos também com a ajuda de moradores e pessoas que não tem ligação alguma com a arte para indicar esses locais que dizem sobre nós. A partir disso, o projeto se torna de todos, e não de uma única pessoa. O Bailarina Projétil só funciona porque existe uma comunidade de colaboração, se unindo e contando a história de cada um. Essa é a grande essência e o motor do projeto.
Lara Louise Medrado — Ponta de Humaitá — Salvador, BA
LAB: Nota-se que o Bailarina Projétil vem passando por um processo de expansão, abrangendo fotos de outros estados como Goiás, São Paulo e Alagoas. O que tem sido feito para essa expansão? Atingir bailarinas de outros estados para participarem do projeto já fazia parte dos planos?
Nada programado. As pessoas se mobilizaram. Goiás foi um caso a parte, porque eu morei lá por um ano, o interessante é que o Bailarina Projétil já era conhecido lá, então não foi difícil promover #açãoprojétil. Fiquei muito feliz. Atingir outros estados já fazia parte dos planos, a ideia é justamente essa, por não ser um projeto pra uma localidade só. Porque Brasil não é só um lugar, são todos os lugares do país. Pra deixar a marca do nosso corpo e história, precisamos dessa expansão. Hoje temos uma representante do projeto em São Paulo, Deise Gabrielle. Aqui em Salvador conto com a ajuda de Melissa Figueiredo e Candai Calmon. Pretendemos levantar um representante por estado.
Lara Pithon — Ribeira — Salvador, BA
LAB: Qual a sua relação com o balé clássico? O que o balé significa para você?
Sou bailarina profissional, formada pelo método da Royal Academy. O balé clássico pra mim é usado como ferramenta. Uma técnica fundamental para inserção no mercado da maioria das cias brasileiras.
Maria Mariana — Santos, SP
LAB: De forma geral, como tem sido o retorno do público perante o projeto?
Muito positivo e colaborativo! Todos, como uma corrente, apoiam o projeto. É lindo ver as mensagens inbox parabenizando a iniciativa, as pessoas se mobilizando para tirar fotos exclusivamente para a proposta da página, todos perguntando de que forma participar do projeto. Até os homens pedem pra ter um projeto pra eles ou que abramos exceções para fotos deles, rs. É muito gratificante ver a identificação do público. Mais lindo ainda é ver um público que não tem costume de ir ao teatro, ou que não tenha ligação alguma com a arte, compartilhar e curtir nosso trabalho. É um resultado de inserção que tanto nós, artistas, queríamos.
Safira Sacramento — Praça Municipal — Salvador, BA
LAB: Como as bailarinas que não fazem parte da equipe do Bailarina Projétil podem contribuir com o mesmo?
O Bailarina Projétil não tem uma equipe fixa, nós selecionamos as bailarinas para as fotos originais da página a partir do perfil técnico corpóreo maduro da bailarina. Bailarinas de todo o Brasil podem enviar fotos para avaliarmos. Agora, todas podem participar, pra isso temos o espaço do #sextafeiracaseira. É só tirar fotos por aí, promovendo #açãoprojétil, e nos enviar por inbox; estas passarão por avaliação e, cabendo nos critérios da página, serão postadas. Quais critérios? A foto tem que ser num ambiente aberto; e mais do que pose, precisa haver uma ligação com o ambiente. A ideia é movimentar todos a mostrar a sua cara no mundo clássico e contar nossa história de brasilidade.
Taís Alves — Mahi Mahi — Salvador, BA (a idealizadora!)
O Bailarina Projétil está disponível em diversas redes socias — Facebook, Twitter, Instagram, Tumblr — e conta com todas nós, bailarinas de corpo e alma, para movimentar ainda mais o projeto. Tanto é que já fiz minha foto como bailarina projétil!
Tainá Corongiu – Jardins do Museu da República — Rio de Janeiro, RJ
E vocês? O que estão esperando para incorporarem a #BailarinaProjétilque há em vocês e tirarem muitas fotos legais por aí? Escolham o cenário preferido de sua cidade e venham fazer parte desse movimento também!
Por Tainá Corongiu – publicitária, baiana, ex-bailarina e eterna apaixonada pela dança.