Quem de nós nunca desejou viajar pelo mundo para acompanhar as estreias dos novos ballets ou das remontagens dos grandes clássicos, encenadas pelas melhores e mais tradicionais companhias do mundo?
Nicolas Le Riche no “Bolero” de Maurice Béjart, durante a sua despedida do Teatro do Ópera de Paris, no último dia 9 de julho.
Quem nunca amargou uma pontinha de tristeza ao ver, nos cadernos de cultura, a estreia do seu ballet favorito, estrelado por alguém que você adora, a milhares de milhas de distância te fazendo sentir “excluído”…
No que diz respeito às artes cênicas: o amadurecimento da tecnologia wireless; o aumento da capacidade de transmissão e recepção de dados pela internet e a digitalização dos equipamentos nas salas de cinema, que permitiram a recepção e a exibição quase em tempo realde som e imagem com alta qualidade, via satélite ou “streaming”, viabilizaram ações de difusão e de promoção impensáveis até bem pouco tempo atrás.
Embora não seja mais uma novidade, a transmissão de espetáculos ao vivo, pela internet ou para o cinema, criou possibilidades inéditas de aproximação e interação, entre as companhias, seus integrantes e admiradores e vêm conquistando um público fiel e maior a cada temporada.
Para quem não sabe, a inovação das transmissões para as salas de cinema foi de Peter Gelb, ex-diretor geral do Metropolitan Opera House, de Nova Iorque.
Segundo ele, as transmissões para os cinemas foram idealizadas para revitalizar plateias e fomentar novos públicos para as montagens do Met Opera.
Para Gelb, elas pareciam a coisa mais lógica a fazer para dar continuidade ao histórico da parceria de estabelecidahá mais de 80 anos, entre o Met e as chamadas “mídias de massa”. (Em 1930, as matinês de domingo do Met Opera passaram a ser transmitidas pelo rádio, o meio mais “moderno” da época.)
Outra questão apontada por Gelb na defesa das transmissões está relacionada aos custos:
“Os custos para se operacionalizar uma montagem e manter uma companhia nos moldes e padrões técnicos e artísticos do Metropolitan Opera House nunca decrescem e a única alternativa para atingirmos o faturamento necessário para manter a companhia é um mix balanceado de receitas provenientes: da venda de ingressos, das doações e de novas formas de faturamento”.
A iniciativa deu tão certo que, em pouco tempo, atraiu a atenção de outras modalidades de artes cênicas.
Companhias de teatro e de dança começaram a transmitir algumas das montagens da temporada para o público mundial, presente nos cinemas ou acessível pela internet.
Assim surgiram as temporadas para os cinemas do Royal Opera House, do Ballet Bolshoi, do Ballet da Ópera de Paris e de outras companhias de dança.
Cada uma é viabilizada por contrato específico de transmissão e exibida por uma rede diferente de cinemas. No Brasil, por exemplo, a temporada do Royal Opera House (que inclui as montagens do Royal Ballet) são exibidas em salas da rede Cinemark e as do Teatro Bolshoi, pela rede UCI Cinemas.
Recentemente tanto o Bolshoi quanto o ROH (Royal Opera House) divulgaram as temporadas 2014–2015 de dança nos cinemas.
Seguindo a tendência de transformar eventos locais em acontecimentos para públicos mundiais, a noite de despedida do bailarino Nicolas Le Riche, do Ballet da Ópera de Paris, foi transmitida, ao vivo pela internet para o mundo todo.
Este link para visualização permanecerá ativo até janeiro de 2015 para quem quiser rever este momento especial de encerramento de uma carreira admirável.
Novos lançamentos
Outros efeitos benéficos das transmissões foram: o aumento da velocidade com a qual novos títulos são lançados no mercado de home video (DVD e Blue Ray) e o surgimento de vários serviços de “assinaturas digitais” para acesso destes conteúdos.
O Ballet Bolshoi lançou nos últimos anos vários títulos novos em DVD ou Blu Ray. Todos eles “reaproveitamentos” das captações feitas para as transmissões para os cinemas.
O mesmo aconteceu com o Royal Opera House, que chegou ao ponto de comprar o selo “Opus Arte”, para otimizar os custos de captação e distribuição das gravações.
Assinaturas Digitais
Hoje há também canais de “TV online” dedicados exclusivamente às artes.
Baseados em um sistema de assinatura, esses canais disponibilizam espetáculos gravados e ao vivo, a partir de teatros e salas de concertos de todo o mundo. MEDICI TV, ARTE CONCERT e CLASSICAL TV e CULTURE BOX são alguns exemplos.
No Brasil, a Osesp (SP) e a OSB (RJ) têm transmitido alguns de seus concertos pela internet, disponibilizando os acessos a partir do próprio site, ou a partir de canais como o Medici TV.
A tecnologia está permitindo que nós, os amantes de ballets, concertos ou óperas enfrentemos barreiras cada vez menores para acompanhar, vivenciar e colecionar os lançamentos deste universo.
Possibilitam a interação e o fortalecimento dos vínculos entre as companhias e seu público, mantendo-as “presentes” de várias formas, com a maior constância possível, na mente de seus apreciadores;
Por último e não menos importante: elas possibilitam que, a partir de uma mesma captação, seja feita a distribuição/comercialização nos mais variados formatos e suportes, constituindo várias fontes de faturamento que colaboram para cobrir os custos crescentes das produções e assegurar a continuidade da oferta das montagens de ballets, concertos e óperas, em padrões cada vez mais altos, de encenação.
É claro também que NADA substitui o prazer de “cumprir o ritual” de ir ao teatro, procurar o seu assento e desfrutar da atmosfera mágica que envolve uma apresentação presencial. É uma emoção única a cada espetáculo!
É inegável porém que, para quem gosta e está impossibilitado de comparecer fisicamente por questões financeiras ou geográficas, estas novas formas de acesso são úteis, válidas e permitem, a sua maneira, uma experiência genuína e emocionante do que acontece nas artes mundo afora!
Eu sou super a favor. Vou sempre que posso! E você ? Já viu alguma transmissão nos cinemas ou na internet? O que achou?
Links úteis:
Informações sobre a temporada 2014–2015 do ROH nos cinemas
http://www.roh.org.uk/news/royal-opera-house-live-cinema-season-201415
Informações sobre a temporada 2014–2015 do Ballet Bolshoi nos cinemas: http://www.pathelive.com/fr/saisons/bolshoi-2014–2015
Despedida do Nicolas Le Riche
http://www.youtube.com/watch?v=nBucdEPLjWg
Entrevista de Peter Gelb para o Los Angeles Times sobre o Met Live in HD: