O monólogo idealizado pela atriz Beth Goulart sobre a vida e a obra de Clarice Lispector traduz-se em uma bela homenagem a uma das escritoras mais importantes e “polêmicas” de todos os tempos.
Uma personalidade marcante um ser humano acima do seu tempo fez da própria dor veículo de transcendência.
A obra de Clarice é um convite ao autoconhecimento, daí tantas indagações e afirmações às vezes um pouco distorcidas do seu fim.
Penso que a obra de Clarice é surpreendentemente comum a todos os leitores e ao mesmo tempo inédita e inovadora, pois trazer em palavras o lado sombrio pelo qual passamos é sempre desconfortável à primeira vista, mas na verdade fascinante num segundo estágio.
Quem de nós não se viu na personagem Joana?
Não era intenção da própria Clarice abrir o seu eu, mas era inevitável deixar suas impressões pessoais em cada texto escrito.
No monólogo assinado por Beth Goulart – “Simplesmente eu. Clarice Lispector”, encontramos uma verdadeira composição harmônica entre a atriz e a escritora.
Essa composição tem como tema principal a Cultura do Encontro, onde intérprete e escritora chegam através da arte ao universo individual do público, capacitando-o à transformação. Uma proposta bastante razoável para se refletir na atualidade globalizada.
Esse monólogo é um dos trabalhos mais importantes dentro do Teatro Brasileiro porque cumpre o verdadeiro papel da arte do artista, quem vem a ser questionar, instigar, provocar, valendo — se do seu maior veículo que vem a ser a emoção.
“…Alivia minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe, porque, na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária…”
Esse momento do monólogo em que a atriz personifica a escritora numa prece é o clamor de todos nós, na busca constante do entendimento da nossa própria vida.
É verdadeiramente o que buscamos, pois o encontro parte de nós com o outro.
Ah… Clarice Lispector, que genialidade a sua em provocar em seus leitores uma nova leitura, um novo olhar, consequentemente, novas descobertas nesse reinventar cotidiano que se chama vida.
Obrigada Beth Goulart, por sua ousadia em protagonizar a voz do inconsciente coletivo através do mundo das palavras de Clarice Lispector.
Por: Wellen Barros é cantora Lírica integrante dos Corpos Artísticos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.