Como já falei aqui inúmeras vezes, sou uma fã ardorosa da técnica clássica e suas repercussões no corpo e na mente dos seus praticantes. Retomando os temas relativos ao ensino do ballet para os adultos, um dos meus focos de trabalho, escolhi, nesta postagem, falar sobre o trabalho de coordenação nas aulas de ballet. Coordenar o corpo (tronco, braços, pernas, cabeça) com a música, e dar sentido ao movimento, considero um esforço sem comparação. Nenhum outro trabalho físico que conheço tem esta peculiaridade.
Obviamente, não vou conseguir expressar aqui todo o trabalho de coordenação que é aplicado em uma aula de ballet. Por isso, optei por exemplificar como ensino a coordenação dos port de brás com o trabalho de pernas nos pliés que vão dar o refinamento do exercício, como já falei na minha quinta postagem para este blog. Eu peço aos meus alunos que façam os exercícios da barra dos pliés e fondus sempre coordenando os membros superiores com os membros inferiores e a cabeça.
Para principiantes que já passaram por um período de frente para a barra, atentos apenas ao trabalho dos membros inferiores, ao se posicionar de lado para a barra, eu oriento para que façam, por exemplo, o seguinte exercício. Na primeira posição dos pés: Um demi plié em quatro tempos, um elevé em quatro tempos, repete o demi plié em quatro tempos, mais um degagé ao lado em dois tempos e desce na segunda posição dos pés em dois tempos e repete tudo na segunda posição dos pés. Na preparação musical, os braços saem da preparatória (ou bras bas) para a segunda posição dos braços, passando pela primeira com a cabeça acompanhando o caminho do braço. Antes de iniciar o demi plié, o antebraço que está na segunda posição faz uma pronação (allongé), a cabeça acompanha este movimento junto com uma leve suspensão do corpo (uma inspiração). Então, as pernas começam a fletir e o braço chega na preparatória coincidindo com o máximo de flexão do joelho e, ao estender as pernas, o braço vai para a primeira posição. No élevé, o braço abre para a segunda posição (lembrando que a cabeça está acompanhando todo o movimento dos braços). Repete o demi-plié como já foi explicado e, no degagé o braço abre na segunda posição e permanece lá para repetir o exercício na segunda posição dos pés.
Tudo isso, logicamente, dentro do tempo musical estipulado pelo professor e ainda com um controle de cada movimento. Muita coisa? Não. Ainda é o começo. À medida que o trabalho vai evoluindo, se faz necessário expressar o prazer da execução do passo. É aí que aparece o caráter artístico de cada um. Sugiro mais tarde um certo “atraso” da cabeça e dos braços em relação às pernas para dar um efeito de suavidade.
Enfim, muito trabalho a fazer, não? Acredito que os apaixonados por esta técnica gostam também destes desafios diários que o ballet propõe. Assim as conquistas ficam mais “saborosas”.