Como analisar o movimento humano sem parar para observá-lo e, principalmente, perceber em que ambiente ele se encontra? Os hábitos e as vivências diárias influenciam fortemente a maneira como nos movemos e, consequentemente, nossa dança.
Rudolf Laban (bailarino e coreógrafo húngaro) foi um dos pioneiros a mudar seu olhar para o corpo e compreender a movimentação como efeito do cotidiano.
Com a revolução industrial, entre os séculos XVIII e XIX, a padronização e a repetição motora se tornaram fatores de orientação do comportamento social. Cidades cresciam, embora os espaços se tornassem menores, limitando a manifestação corporal. Porém, estamos no século XXI e parece que nada mudou, não é?! Quantas horas passamos sentados em frente ao computador, a televisão, conversando no bar com os amigos? Quantas horas estamos parados no nosso dia?
Laban percebeu que era necessário haver uma renovação na linguagem do movimento e criou metodologia de ensino da dança com base em quatro aspectos: criação, notação, apreciação e educação. Claro, que tudo isso aliado à compreensão do corpo e integrado com a personalidade do indivíduo. Contrário ao fluxo da padronização, o coreógrafo objetivava enaltecer a individualidade e a singularidade das pessoas.
É nesse momento que surge a grande sacada de Laban: explorar a movimentação através do desenvolvimento do movimento natural, de maneira espontânea e livre. O corpo é desconstruído, quebrando a limitação adquirida pelas regras de padrão e comportamento social. Ninguém precisa ensinar a um bebê como ele engatinha. Ele simplesmente encontra maneiras de fazer isso, naturalmente. Então, por que não resgatar essa forma de movimentação impensada e sensitiva?
Embora ainda não seja muito disseminado entre as aulas de preparação para a dança, o movimento natural pode ser grande aliado para compreendermos como nosso corpo se move, além de promover liberdade individual. A autodescoberta promove a facilidade para encarar desafios e complexidades motoras. Por isso, é importante deixar o corpo se manifestar sozinho, sem “raciocinar”.
Claro que para isso ocorrer, é fundamental receber estímulos, já que nosso repertório motor é desenvolvido a partir de nossa história e nossas experiências.
Então, vamos lá. Domine a conscientização corporal, o contato entre as partes do corpo, o peso (troca entre pesado e leve), o entendimento do espaço e a noção de ritmo (rápido e lento). Com essas dinâmicas, conseguimos enriquecer nossos repertórios motores.
Não restrinja seus movimentos. Liberte-os! Improvise! Sinta! Deixe fluir e não pense que está errado. Não existe movimento errado, existe apenas movimento. Quando você estiver livre da padronização e se permitir ser versátil, a dança sairá naturalmente, sem esforços, sem dificuldades. Busque o movimento que há em você!