Você começa querendo o mundo — não necessariamente naquela ilusão de ser profissional, mas quer ser perfeita. Eu não queria a fama de “bailarina adulta”, eu queria que a dança entrasse na minha vida de forma que parecesse que sempre esteve lá. Ser o melhor que eu pudesse ser e não me contentar com o começo tardio — e nem usar isso como desculpa pra falhas. A preocupação resultava em pressão. Mas a vida acontece e, quando você cresce um pouco mais, percebe que não é bem assim que é bacana de se levar, por mais que o ballet seja uma paixão. Quando tudo o que você tem são poucas horas e dois dias da semana, chegando atrasada e “catando cavaco” pra acompanhar, tudo se transforma. Os valores mudam. Mas o curioso é que o ballet se manteve na minha vida muito mais forte do que eu podia imaginar. Ele virou um universo paralelo, particular, no qual espanto demônios, no qual eu esqueço do mundo lá fora. Algo muito mais precioso do que eu poderia desejar. Eu entendi que ainda posso dar o meu melhor, mesmo com pouco tempo. E a cada novo ensaio, numa coreografia da turma do avançado, a cada subida nas pontas, pirueta bem terminada, a cada novo passo, eu sinto que estou no meu lugar, vivendo o ballet como ele deve ser pra mim. Sinto que sou a bailarina que sempre quis ser.
Texto originalmente publicado no blog Meia Ponta. Acesse o canal do Meia Ponta no Youtube.