Entrevista com Nelma Darzi, diretora da Escola Petit Danse e responsável pelo Projeto Social Dançar a Vida.
Ensinar a dançar sim, mas sempre investindo na busca da integração plena do ser humano com a sociedade. Sem — é claro — nunca deixar de levar em conta disciplina, estímulo ao trabalho em equipe, solidariedade, formação de valores e atitudes ético-sociais. Com esse objetivo nasceu o Projeto Social Dançar a Vida, criado em 1999, pela professora Nelma Darzi, diretora artística da Escola Petit Danse, em parceria com a Escola Municipal Barão de Itacuruçá. Existe melhor caminho do que a dança para se alcançar qualidade de vida em diversos sentidos?
Não, não existe. E assim nasceu o sonho. Assim o sonho tomou forma. Assim todos prosseguiram, fiéis a tudo que sonharam, buscando e descobrindo novos talentos, acendendo a luz do futuro para quem não conseguia sequer acreditar no amanhã. Mas o amanhã aconteceu. E o amanhã – para os alunos da professora Nelma – é agora.
O Projeto – que atualmente atende 170 alunos com bolsa de estudo integral para o curso de formação profissional, além de assistência médica gratuita e apoio no ensino escolar — recebe crianças e adolescentes de diversos pontos do Rio de Janeiro, onde ficam as comunidades de baixa renda como o Morro da Formiga, Borel, Salgueiro, Tijuquinha e Rio das Pedras. Além disso, Dançar a vida, atualmente reconhecido como uma organização não governamental faz um pas-des-deux constante com a Escola de Dança Petite Danse, na formação para bailarinos pelo Conselho Estadual do Rio de Janeiro.
Em 2009, com a realização do espetáculo Villa Lobos, Uma Canção de Amor, assistido por mais de 30.000, pessoas o grupo ganhou o apoio do BNDES, através da Lei Rouanet de Incentivo a Cultura, para realizar 72 apresentações em diversos teatros e lonas culturais. O sucesso foi tão grande que a temporada acabou dando origem a Companhia Jovem Dançar a Vida, essencial para que os alunos ficassem ainda mais motivados e a poucos passos da etapa final de profissionalização. Mas outras parcerias luxuosas também estavam por vir. A Eletrobrás, por exemplo, uniu-se ao BNDES para que Nos passos da dança, segunda produção da nova companhia, ganhasse forma. E a Loja Ana Botafogo – que a princípio vende camisetas de marca própria — orgulha-se de também de fazer parte da realização deste sonho, abrindo um espaço para a revenda das camisetas do Projeto, parte da linha de produtos Dançar a Vida, criada em 2013. E assim a vida continuará a dançar sempre a mais linda de todas as músicas.
- Como e quando surgiu a ideia de criar o Dançar a vida?
Em 1999 iniciei uma turma com 24 alunos da Escola municipal Barão de Itacuruça na Tijuca. Eu mesma dava as aulas, pois sempre vontade de fazer um trabalho social. No final do ano os professores da escola ficaram encantados com a transformação no comportamento das crianças e decidiram me ajudar como voluntários.
- Demorou muito tempo para que o sonho virasse realidade?
No início eu dava as aulas somente para cumprir aquela vontade em realizar uma ação social, mas depois de 3 anos, consegui levar um dos alunos para um festival internacional em Nova York. Nesse festival ele recebeu uma bolsa de estudos para ingressar na escola do San Francisco Ballet na Califórnia. A partir desse resultado, percebi que poderia fazer muito mais por esses jovens, além de dar aulas de ballet. Percebi que poderia oferecer uma oportunidade de trabalho através de uma formação profissional correta e consciente.
- Qual a maior dificuldade que a senhora enfrentou na realização do seu sonho?
Primeiramente a parte financeira, pois não tinha nenhum dinheiro para iniciar a escola, só tinha o sonho de ter uma escola de dança, mas não tinha nenhuma verba disponível para isso. Foi então que meus pais deixaram a casa em que moravam para eu iniciar com o trabalho da escola de dança. No início eu fazia tudo: dava aulas, limpava o chão, atendia na secretaria,etc.
Depois dessa fase, o segundo problema foi com a legalização do espaço. Foram 4 anos lutando com a prefeitura e secretaria de educação para conseguir legalizar como uma escola de formação profissional para bailarinos.
- Em algum momento teve vontade de desistir?
Em nenhum momento. Por incrível que pareça, cada problema que aparecia me dava mais vontade de criar ideias para resolve-los e seguir em frente
- Qual a sua maior alegria desde que o Dançar a vida começou?
Foi quando assisti no cinema uma apresentação ao vivo da Cia do Royal Ballet de Londres e a nossa ex aluna Mayara Magri estava no elenco. Era ao vivo, então no início mostravam as coxias, os bailarinos se aquecendo e quando vi a Mayara se alongando fazendo o sinal da cruz (hábito que tinha sempre que ia entrar em cena), o maestro afinando os instrumento, toda aquela grandiosidade me emocionou, me deu uma alegria tão grande que o choro veio seguido de um sentimento de tamanha felicidade que não sei como descrever com palavras.
- O que a senhora ainda acha que falta para o projeto? Ou não falta nada?
Falta muita coisa. Gostaria que o projeto tivesse um espaço maior para que pudéssemos atender mais crianças, algum apoio financeiro seria também muito importante, pois muitas crianças não conseguem participar das viagens do grupo por falta de condições financeiras e não conseguimos pagar para tantos alunos. Hoje o projeto atende a 186 bolsistas. Um alojamento maior também é fundamental, pois atendemos jovens de todas as regiões do Brasil e o nosso alojamento já está com o número máximo.
- E qual seria agora a próxima etapa?
No momento estamos desenvolvendo uma marca de produtos de dança chamada “Dançar a Vida, onde toda a renda será doada para manutenção do projeto. Na linha de produtos estão: blusas, camisetas, bolsas e cadernos.
8. Como a senhora definiria a importância da dança em sua vida e na vida de seus alunos?
É a inspiração da minha vida. O meu trabalho é a dança e quando a gente ama o que faz, só nos resta ajudar outras pessoas a conseguirem alcançar os seus sonhos e quando conseguimos isso, aí vem a felicidade e realização.
Acho que pra vida deles é também assim, uma forma de se descobrirem como pessoas e artistas.
A gente só tem a aplaudir esse lindo trabalho e torcer para que ele revele cada vez mais bailarinos!