Olá,
Finalizando a minha série sobre o trabalho na barra, nesta postagem o objetivo é refletir sobre o exercício do battement developpé.
Habitualmente chamado de developpé nas salas de aula de balé é, conforme a mestra Vaganova, um movimento de adágio e com tempo lento. Aragão e Caminada (2006, p. 142) traduzem a palavra developpé como desenvolvido, desdobrado.
Considerado por muitos o “terror da barra”, por se caracterizar, em geral, pelo esforço da elevação dos membros inferiores em alturas superiores a 90º, acredito ser um exercício de extrema importância muscular. É na hora do developpé que a força muscular isométrica (para sustentar o membro inferior elevado) dos flexores ou extensores da coxa serão usados de forma intensa, bem como a força excêntrica ao descer controladamente o mesmo, além do trabalho incrível do equilíbrio, já que o executante está apoiado em apenas uma perna, a qual está em rotação externa.
Esse exercício também vai potencializar os movimentos suaves e controlados dos bailarinos, dando a eles a possibilidade de elevar o membro inferior usando uma força enorme e parecer que não está fazendo nenhum esforço com a parte superior do corpo. A respeito desse tipo de controle, sempre lembro aos meus alunos que esse deve ser um dos principais focos do aprendizado, pois a técnica do balé clássico requer gestos suaves e delicados característicos da nobreza, na qual ela foi desenvolvida. Aqui a dissociação entre o trabalho de coordenação de braços e pernas e cabeças é um teste. Portanto, o exercício do battement developpé é um dos momentos cruciais para enfrentar esse desafio.
Nas aulas para iniciantes adultos, observo sempre uma grande ansiedade em querer fazer grandes elevações e nesse anseio, muitas vezes acontece um erro muito comum que é o da mobilização da pelve para atingir o fim desejado. Ocorrem básculas laterais, anteversão e retroversão da pelve. Explico então que o objetivo é sim elevar o mais alto possível o membro inferior, porém a pelve não vai iniciar o movimento. Quem inicia o movimento à frente e ao lado são os flexores da coxa (com ênfase no iliopsoas) e atrás os extensores da coxa (com ênfase no grande glúteo e no bíceps da coxa).
Para conseguir esse grau de controle e consciência do isolamento da articulação do quadril e dos movimentos da pelve, começo sempre trabalhando esses exercícios no chão, assim, amenizada a ação da gravidade sobre os membros inferiores, fica mais fácil para o aluno identificar e mais tarde controlar essa elevação. Enfatizo que separar as partes é uma das características mais significativas da técnica do balé clássico e essa consciência corporal, esse controle é de extrema utilidade para o bailarino. Quanto mais ele se conhece e se domina, mais ferramentas ele terá para usar em sua dança.
Para os alunos mais adiantados explico que a partir de uma certa altura (depende de cada corpo) será inevitável que a pelve acompanhe o movimento, principalmente atrás. Brinco que não temos as pernas da boneca Barbie, que pode fazer uma circundução completa sem mexer a pelve… felizmente ou infelizmente!!! Além de que, existem pessoas com maiores e outras com menores possibilidades anatômicas para grandes elevações. As características ósseas do acetábulo e da angulação da cabeça do fêmur determinam muito dessas possibilidades nas elevações do membro inferior à frente e ao lado. Já atrás, além das características ósseas, deve se levar em conta também o tamanho do membro inferior, do tronco e do espaço existente entre as últimas costelas e a pelve (crista ilíaca)
Como sempre reforçado, a rotação externa, a plantiflexão dos pés com eversão, a manutenção dos músculos abdominais para a postura correta do bailarino, devem estar presentes em todos os exercícios. Finalizo com essa postagem, minhas considerações sobre o trabalho da barra, visto que nos exercícios do battement tendus, jetés, já abordei os grand battements. Pretendo a partir de agora fazer reflexões sobre alguns exercícios do centro. Até breve! Beijos, Helô