Olá, nesta postagem pretendo expressar a minha opinião sobre um assunto que, hoje em dia, considero muito importante: o da formação de professores de dança em nível superior.
Como disse na postagem anterior, ainda não existe nenhuma regulamentação que exija que nós, professores da área, sejamos licenciados em dança para lecionarmos em escolas livre (academias e escolas de dança). Em geral, começamos a trabalhar seriamente como artistas muito cedo e, por vezes, nos tornamos professores antes mesmo de terminarmos qualquer graduação.
Quando meus alunos adultos entram na minha sala de aula, não percebo uma preocupação nesse sentido. Nunca ninguém me perguntou se eu tinha uma graduação, quiçá uma licenciatura. Observo que, quando eu falo da minha experiência como bailarina profissional, os meus alunos ficam estimulados. Já quando falo da minha formação universitária (Fisioterapia) e da minha pesquisa com a dança no mestrado (Educação Física), eles ficam surpresos, acham interessante e no máximo perguntam sobre aquela “dorzinha”…(risos). O que me leva a crer que não existe, ainda, uma expectativa dos alunos adultos de que os seus professores sejam licenciados em dança.
Desde o começo do ensino da técnica do balé clássico, com a criação da Academia Real de Dança na França, na segunda metade do século XVII, sob os auspícios de Luís XIV, esta nobre arte foi passada de forma oral pelos grandes mestres da dança que foram, antes de tudo, bailarinos. Por que hoje deveria ser diferente? Por que acho importante a graduação em dança?
Porque reunir os saberes sempre amplia a dimensão do trabalho. Acredito que muitos professores que não são licenciados em dança (eu não sou) podem e ensinam muito bem o balé. É preciso deixar claro que considero imprescindível o talento para ensinar e ter passado pelo aprendizado prático do balé de alto nível para ensinar a técnica. Nenhuma licenciatura pode dar a experiência do balé e nem a vocação para o ensino. Sempre digo isso aos meus alunos na Universidade. Mas, com certeza a soma do teórico com o empírico vai engrandecer o ensino do balé. Disciplinas como Estética, Filosofia, Anatomia, Fisiologia, Pedagogia, entre tantas outras, podem abrir novas perspectivas. Posso já imaginar que profissionais incríveis teremos no futuro.
Estudar a dança, o corpo em todas as suas possibilidades, é maravilhoso e só vai agregar mais valor ao trabalho do professor de dança. A oferta de graduações em Dança vem crescendo muito neste século. Hoje, no Brasil, temos 33 cursos de licenciatura em Dança (e-Mec), sendo que o primeiro curso foi criado há mais de cinquenta anos na Universidade Federal da Bahia.
Mais uma vez eu digo que é preciso estar antenado com o nosso tempo. O aprendizado da dança, atualmente, requer mais conhecimentos acerca do corpo e suas funcionalidades, e da contextualização da dança, no tempo e no espaço, dentro de sala de aula. O mundo está cada vez mais globalizado e especializado e a dança acompanha a sociedade em que vive. Que a licenciatura em Dança possa ser mais uma ferramenta para os professores do balé clássico para que possamos evoluir sempre.
Termino citando a excelente pesquisadora Mariana Monteiro: “Todo balé, quando assim se denomina, está implicitamente reconhecendo-se como herdeiro de uma tradição. O conceito de balé estaria expressando uma autoconsciência da dança ocidental que se percebe como uma ruína que vive e revive em compromisso estreito com o passado, embora sempre renovado” *.
Até a próxima.
* MONTEIRO, Mariana. “Balé, tradição e ruptura” In: PEREIRA, Roberto; SOTER, Silvia (orgs.). Lições de Dança 1. Rio de Janeiro: UniverCidade Ed. 2006.