Sim, sigamos.
Como o balé está associado à perfeição de movimentos complexos, é muito fácil se frustrar nessa atividade. Tenha a pessoa a idade que tiver.
E existem, sim, limitações que o corpo vai impondo no decorrer do tempo. As articulações vão ficando mais presas, os músculos mais frouxos, o exato oposto do que precisamos como bailarinos, aliás.
Nesse cenário, o adulto tende a se frustrar mais, claro.
E frustração pode causar ansiedade: será que essa limitação é definitiva?
E frustração pode causar desânimo: será que vale a pena tanto sacrifício?
Como desistir do balé seria desistir de mim, acho que criei mecanismos de sobrevivência à frustração, para olhar com esperança para o movimento.
Colegas que começaram muito cedo, hoje, na fase adulta, vivem dizendo: ah, não consigo mais fazer isso, não consigo mais fazer aquilo.
Como comecei agora, e ainda não testei todos os meus limites, sempre penso: AINDA não consigo fazer isso, AINDA não consigo fazer aquilo.
E tenho uma fé danada no potencial do corpo. E tenho uma fé danada no potencial que a vida tem de nos surpreender.
Se não tentarmos de verdade, como saberemos onde poderíamos ter chegado se não comprássemos o discurso da limitação? Como saberemos que a limitação AINDA não era irreversível?
Jean Marie, meu mestre de balé na Sauer, costuma dizer que a dificuldade está muito mais na mente do que no corpo.
E concordo cada vez mais com isso.
Converso muito com as minhas células. E sei que elas me entendem. Converso muito com o universo, que parece entender minha paixão também.
Se a trajetória em busca de um sonho é antes de mais nada uma trajetória em busca de si mesmo, que a paixão nos permita esse mergulho no autoconhecimento, porque o “sonho” é um chamado que se justifica em si mesmo, é o que o universo pode ter nos conferido como propósito de existir.
Tudo o que não quero é voltar ao tempo em que tinha saudade de mim, saudade do que poderia ter sido. Não quero, nunca mais, olhar o tempo como inimigo.
Sim, sigamos.