Nesta postagem pretendo refletir um pouco sobre o ensino do ballet para adultos, tendência que vem surgindo nas academias de dança nos últimos anos.
A primeira vez que tive contato com o ensino de ballet para adultos foi em Brasília, no final dos anos 70. A dona da escola que eu estudava e ensinava abriu uma turma para as mães que quisessem aprender a técnica clássica, e eu fui substituí-la um dia. Como só dava aulas para crianças, percebi logo que era preciso encontrar uma forma diferente de ensinar os adultos.
Porém, logo depois comecei a minha vida como bailarina profissional e abandonei temporariamente o ensino do ballet. Quando retornei para Brasília, quinze anos depois, propus abrir uma turma exclusiva para adultos iniciantes. No início o pessoal não acreditava muito que fosse dar certo, mas foi ótimo, deu frutos e eu me encantei com este universo. Gostei tanto que, quando voltei a morar no Rio, abri uma turma de iniciantes assim que pude e, desde então, não parei mais.
Hoje, dou aulas de ballet para adultos iniciantes e iniciados e pretendo continuar com esta atividade, pois me dá um imenso prazer. Tenho um ótimo retorno dos alunos e percebo da parte deles uma disponibilidade enorme para o difícil trabalho do ballet.
Questionando um pouco sobre o por quê do aumento pela procura por aulas de ballet para adultos, cheguei a algumas considerações que compartilho com vocês.
Teoricamente, o aprendizado da técnica para o adulto não visa levar o aluno ao mercado de trabalho da dança. Isso torna as aulas mais leves, onde cada um pode progredir no seu próprio tempo, sem o estresse de ser um profissional. Em geral, as escolas que oferecem o ballet clássico visam a profissionalização dos alunos. Para tal, é inevitável que se inicie jovem. Afinal, quando chegamos à fase adulta, em princípio, já devemos ter uma profissão escolhida e apreendida.
Mas a pulga ainda fica atrás da orelha: se um adulto tivesse a disponibilidade de tempo que uma criança ou um adolescente para fazer as aulas, poderia atingir um nível técnico que o possibilitasse se tornar um profissional?
Continuando minhas impressões, percebo também uma procura dos alunos pelo trabalho físico do ballet. Realmente, a técnica clássica pode oferecer um trabalho apuradíssimo de coordenação, apuro estético, resistência muscular e flexibilidade. Todo esse trabalho físico, associado à execução dos exercícios codificados e de difícil execução dentro da música, é de um esforço ímpar. Ora, nada melhor do que unir o útil ao agradável e associar o trabalho rigoroso da técnica clássica ao prazer de dançar.
No mundo contemporâneo, percebo que as pessoas estão mais disponíveis ao aprendizado durante todas as fases de sua vida e sem vergonha de tentar. Isso é maravilhoso, pois nos liberta ao novo, ao desconhecido e, consequentemente, nos faz crescer como seres humanos. Que o ballet possa receber a todos, dar prazer, contribuir para que os corpos e mentes sejam mais coesos, flexíveis, harmônicos e dançantes.