São Paulo Companhia de Dança, essa pérola

Inicio 2013 reno­vado, colo­rido, ins­pi­rado pela minha mag­ní­fica expe­ri­ên­cia com a São Paulo Companhia de Dança durante todo 2012. Sorrio, ao lem­brar já com sau­da­des, do tra­ba­lho lindo, árduo e sério que jun­tos fizemos.

Me senti de novo no Zurich Ballet, pela inten­si­dade, vari­e­dade e riqueza do que se faz ali, um reper­tó­rio que já tes­te­mu­nha a gran­deza dessa jovem com­pa­nhia. A SPCD dança Balanchine, Pederneiras, Cranko, Duato, só pra citar alguns pou­cos. E QUE pou­cos, não..?! Uma com­pa­nhia fun­dada em 2008 e que já tem esse peso só pode mere­cer todas as aten­ções, do público e dos res­pon­sá­veis por mantê-la e esti­mu­lar cada vez mais seu cres­ci­mento

Com a com­pa­nhia em 2010

Aula para os rapazes

Estive com eles pela pri­meira vez em 2010 por uma semana como pro­fes­sor con­vi­dado, o que se tor­nou um caso de amor à pri­meira vista. Foi esse breve período que ori­gi­nou o con­vite das dire­to­ras Iracity Cardoso e Inês Bogéa pra que eu pas­sasse um ano tra­ba­lhando com eles como pro­fes­sor e ensai­a­dor. Assim foi meu 2012 .! Adicionei mais uma ale­gria à minha car­reira, mais um orgu­lho e uma feli­ci­dade, junto aos meus com­pa­nhei­ros de tra­ba­lho da SPCD.
Ali reen­con­trei artis­tas com os quais já havia tra­ba­lhado antes, conheci novos talen­tos e fiz ami­gos. Trocar minha expe­ri­ên­cia, ori­en­tar esse time de bai­la­ri­nos de um talento ímpar foi deleite purís­simo. Me ver em cena atra­vés deles uma emo­ção.

Theme and Variations de George Balanchine

Karina Moreira e Joca Antunes ensaiam BACHIANA de Rodrigo Pederneiras

Além de cida­des como Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre e Recife, via­ja­mos por grande parte do inte­rior de São Paulo, uma dezena de cida­des no mínimo. Na capi­tal fize­mos tem­po­rada em 4 tea­tros e mui­tas esco­las, num exce­lente pro­grama edu­ca­tivo que está ins­pi­rando novos artis­tas e novas pla­téias. Ahh, Holanda e Alemanha abri­ram a turnê 2012, em feve­reiro. É exa­ta­mente disso que pre­cisa um bai­la­rino, “ todo artista tem de ir aonde o povo está ”. Por isso me senti nova­mente na Europa, den­tro de São Paulo! Com eles tive uma das minhas gran­des feli­ci­da­des na vida, que divido aqui com vocês.

Remontei pra com­pa­nhia o Grand Pas de Deux de Don Quichotte, um dos mai­o­res clás­si­cos dan­ça­dos pelo mundo. E numa con­versa com Inês Bogéa (que assu­miu sozi­nha a dire­ção da com­pa­nhia a par­tir de maio) sur­giu a idéia de um pro­grama cha­mado “Dois a Dois”, com minha remon­ta­gem de Don Quichotte e o Grand Pas de Deux de O Quebra-Nozes , suge­rido por ela. Quem mais senão a mes­tra Tatiana Leskova para remon­tar essa linda obra? Convite feito por Inês e aceito por D. Tânia o resto foi his­tó­ria. Trabalhar (mais uma vez) ao lado da mes­tra Leskova foi muito espe­cial pra mim.

Essa remon­ta­gem entrou como parte impor­tante das come­mo­ra­ções dos seus 90 anos, com­ple­ta­dos em 06/12/2012. Muitas entre­vis­tas em jor­nais e pro­gra­mas de TV, lan­ça­mento de livro com fotos de sua bri­lhante car­reira pelo mundo e claro, uma linda festa no dia do ani­ver­sá­rio. Acompanhei isso tudo, mas sei que é no estú­dio, tra­ba­lhando duro com os bai­la­ri­nos que Tatiana Leskova encon­tra vigor e ins­pi­ra­ção. Privilégio todo nosso apren­der com essa lenda viva da Dança. E o “Dois a Dois”, um dos a dos que mos­tra esti­los dife­ren­tes den­tro do bal­let clás­sico, foi sucesso por onde pas­sou! C hapeau pra com­pa­nhia por isso.

Paula Penachio e Norton Fantinel em Don Quichotte

Luiza Lopes e Diego de Paula em O Quebra-Nozes

Eu e Tatiana Leskova em turnê com a companhia


Agora, feliz de volta ao Rio de Janeiro e à minha casa, o Theatro Municipal, chego com a estra­nha e boa sen­sa­ção de que “saí” de casa vol­tando… Prova de que sou um artista, que meu cora­ção sem­pre falará muito alto, por vezes gri­tando mais que a razão, sem­pre em nome da Arte, claro. Prova de que as opor­tu­ni­da­des lin­das que tenho na vida fazem de mim o homem/artista que sou, indis­so­lú­veis um do outro. Isso no ano em que com­pleto 30 anos de car­reira artís­tica pro­fis­si­o­nal (e inin­ter­rupta!) só pode me dei­xar feliz. Como dizem Chico Buarque e Edu Lobo numa can­ção escrita pro pri­meiro espe­tá­culo pro­fis­si­o­nal que fiz na vida, em 1983, “O Grande Circo Místico” , junto ao Ballet Teatro Guaíra:

Ir dei­xando a pele em cada palco
E não olhar pra trás
E nem jamais
Jamais dizer
Adeus…”

Vida longa à São Paulo Companhia de Dança. Eu os amo e essa casa será sem­pre minha. Juntos sem­pre. Obrigado Iracity Cardoso e Inês Bogéa por esse mag­ní­fico ano. E um cari­nho espe­cial aos artista bai­la­ri­nos, meus com­pa­nhei­ros de tra­ba­lho, os pul­mões dessa com­pa­nhia. A ver­da­deira razão de tudo isso exis­tir. Feliz con­ti­nu­a­ção pra todos em 2013. Axé!

Por: Manoel Francisco – atua como maitre de ballet e repetiteur junto ao Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e como convidado de festivais e companhias nacionais e estrangeiras.

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