La Fille Mal Gardée

La Fille Mal Gardée – que pode ser tra­du­zido como “a filha mal cri­ada” — é o bal­let mais velho no reper­tó­rio atual dan­çado nos tea­tros. Originalmente ele foi con­ce­bido e core­o­gra­fado por Jean Dauberval, um impor­tante coreó­grafo do século XVIII.

Aluno de Noverre, os per­so­na­gens dos bal­lets de Dauberval não eram deu­ses ou heróis, mas sim, repre­sen­tan­tes das clas­ses mais sim­ples da soci­e­dade. Com suas fra­que­zas e vícios, con­di­ções de vida pre­cá­rias, sem inte­res­ses glo­bais e aspi­ra­ções, que caíam fre­quen­te­mente em situ­a­ções cômi­cas, os per­so­na­gens con­se­guiam sair delas, não atra­vés de for­ças supe­ri­o­res ou com a ajuda de gran­des heróis, mas atra­vés da sua pró­pria cri­a­ti­vi­dade, ale­gria, inte­li­gên­cia e astúcia.

Talvez nenhum outro bal­let da his­tó­ria tenha pas­sado por tan­tas mudan­ças desde a sua pri­meira estreia, em 1º de Julho de 1789. São vários títu­los e músi­cas até che­gar­mos às duas ver­sões que mais conhe­ce­mos hoje; a de Alexander Gorsky e a de Sir Frederick Ashton .

Conta a his­tó­ria que a ins­pi­ra­ção para o enredo veio de uma gra­vura que Dauberval viu em uma loja de Bordeaux. A gra­vura repro­du­zia a pin­tura do artista Pierre-Antoine Baudouin: Le reprimande/Une jeune fille que­rel­lée par sa mère (A repri­menda / Uma jovem bri­gou com sua mãe). A pin­tura mos­tra uma jovem cho­rando, com as rou­pas desa­li­nha­das, sendo repre­en­dida por uma mulher mais velha (pro­va­vel­mente sua mãe) em um celeiro de feno, enquanto seu amante pode ser visto no fundo subindo as escadas.

Le Reprimande de Pierre Antoine Baudouin.

Le bal­let de la Paille”, como foi cha­mado ori­gi­nal­mente, conta a his­tó­ria de Lison (hoje Lise) e Colin (Colas atu­al­mente) e as suas peri­pé­cias para con­ven­cer a mãe de Lison, a viúva Ragotte (hoje – viúva Simone), a acei­tar o romance dos dois.

As ver­sões:

  • 1789 – estreia no Grand Theatre de Bordeaux, França.
  • 1791 – Primeira apre­sen­ta­ção inglesa, no Pantheon Theatre, feita por Dauberval e com o título de La Fille Mal Gardée.
  • 1800 – Primeira mon­ta­gem no Teatro Imperial Bolshoi em Moscou, por Giuseppe Solomoni.
  • 1803 – Montado na velha Opera de Paris por Eugéne Hus, o pri­meiro Colin da ver­são de Dauberval.
  • 1808 – A ver­são de Hus é levada para Vienna por Jean-Pierre Aumer, apre­sen­tado no “Ballett des Imperialen Hoftheater Nächst der Burg”.
  • 1818 – Montado no Teatro Imperial de São Petersburgo por Charles Didelot, com o título de Le Pracaution Inutile (como o bal­let ainda é cha­mado na Rússia), com música de Catterino Cavos.
  • 1828 – Remontada em Paris. Aumer ins­truiu o com­po­si­tor Ferdidand Hérold para adap­tar a música ori­gi­nal de 1789. Novos temas de óperas de Jan-Paul Egide Martini e Gaetano Donizetti foram adicionados.
  • 1828 – Remontada a ver­são de Aumer no tea­tro Imperial de São Petersburgo por Jules Perrot, na música de Cesare Pugni.
  • 1837 – A bai­la­rina da Opera de Paris Fanny Elssler insiste numa nova adap­ta­ção do Grand Pas de deux com suas árias favo­ri­tas de “L’Elisis d’Amore” de Donizetti.
  • 1864 – Montagem em Berlim por Paul Taglioni no Königliches Opernhaus, com o título “Das Schlecht Bewachte Mädchen” (A filha mal guar­dada).  Uma nova música foi cri­ada pelo com­po­si­tor resi­dente da opera de Berlim, Peter Ludwig Hertel. O bal­let foi um grande sucesso, mantendo-se no reper­tó­rio por vários anos.
  • 1885 – Marius Petipa e Lev Ivanov deci­dem levar a ver­são de Taglioni para o Teatro Imperial em São Petersburgo, com o título Le Precaution Inutile, onde Virginia Zucchi vira uma lenda como Lise. O bal­let per­ma­ne­ceu no reper­tó­rio até a Revolução Russa em 1917.

Versões recen­tes:

Alexander Gorsky mon­tou sua ver­são, base­ada na ver­são Petipa/Ivanov em Moscou, em 1903.

A mais famosa das ver­sões é, sem dúvida, a de Sir Frederick Ashton, que estreou em 28 de Janeiro de 1960. O com­po­si­tor e regente da Royal Opera House, John Lanchbery, fez uma nova par­ti­tura, baseando-se na música de Hérold, com pas­sa­gens da música ori­gi­nal de 1789, um número da par­ti­tura de Hertel (que é uti­li­zada na Dança com Tamancos), uti­li­zou o Pas de Deux de Fanny Elssler e, por fim, compôs alguns novos núme­ros. Mais de 22 com­pa­nhias de dança no mundo, incluindo o Bolshoi e a Opera de Paris, man­tém no seu reper­tó­rio a ver­são de Ashton de “La Fille Mal Gardée”.

A pri­meira apre­sen­ta­ção de La Fille Mal Gardée no Brasil acon­te­ceu no Teatro Municipal do Rio de Janeiro no dia 24 de Julho de 1928, com a Companhia de Dança de Anna Pavlova.

Personagens:

Lise/Lisa – a filha mal guardada.

Colas/Colin – o amado de Lise.

Viúva Simone – a mãe de Lise, tra­di­ci­o­nal­mente dan­çada por um homem.

Alain – o pre­ten­dente rico de Lise.

Thomas – O pai de Alain.

O Notário da aldeia.

 Enredo: Lise e Colas se amam e que­rem casar, mas a viúva Simone quer que a sua filha se case com o jovem rico Alain, filho de Thomas. Thomas e a viúva com­bi­nam o casa­mento dos seus filhos. Thomas e Alain levam a viúva Simone e Lise para um pique­ni­que no campo. Os tra­ba­lha­do­res rurais dan­çam ao redor de um mas­tro com fitas, e as garo­tas dan­çam de taman­cos com a viúva Simone.  Começa uma tem­pes­tade, todos se dis­per­sam e Alain é car­re­gado pela força do vento em seu guarda-chuva aberto.

Mãe e filha retor­nam pra casa. A viúva quer que Lise sente-se no tear para tecer, mas a moça pre­fere tecer enquanto dança, quase enfor­cando a mãe.  Após um tempo a mãe pede para Lise dan­çar, pegando um tam­bo­rim para tocar. Quando a viúva está dor­mindo Lise tenta pegar a chave no seu bolso, mas não con­se­gue. Os tra­ba­lha­do­res tra­zem a colheita e então a viúva sai de casa, dei­xando a filha tran­cada. Lise pensa em Colas e sonha  estar casada com ele, com vários filhos — a famosa cena mímica “When I am mar­ried” (quando eu esti­ver casada). Colas salta de trás da pilha de trigo e os dois tro­cam len­ços como um sím­bolo do seu amor. Passos pesa­dos anun­ciam o retorno da viúva Simone e Lise esconde Colas em seu quarto, retor­nando logo após para as suas tare­fas. A viúva Simone ordena a filha a subir e colo­car o seu ves­tido de noiva, já que Thomas e Alain esta­vam a cami­nho. Lise está cheia de medo, mas sua mãe a leva para o quarto e a tranca dentro.

Thomas e Alain che­gam com o Notário. Eles assi­nam o con­trato nup­cial e a viúva dá a chave do quarto de Lise para Alain ir busca-la. Lá ele vê Lise, ves­tida de noiva, com Colas. Com raiva, pai, filho e o notá­rio vão embora. Colas e Lise implo­ram à viúva Simone que con­si­dere um noi­vado entre os dois, ela acaba con­cor­dando e todos cele­bram. Todos vão saindo, a casa vai ficando vazia e calma, até que Alain retorna para bus­car o seu guarda-chuva, que ele esqueceu.

Fatos curi­o­sos:

Uma das carac­te­rís­ti­cas da ver­são de Ivanov era o uso de gali­nhas de ver­dade. Em uma noite em que Olga Preobrajenskaya dan­çava o papel de Lise, dizem que sua rival na época, Mathilde Kschessinkaya, sol­tou todas as gali­nhas no palco durante a vari­a­ção dela.  Muitas das gali­nhas caí­ram no fosso da orques­tra, no colo dos músi­cos, mas Preobrajenskaya con­ti­nuou dan­çando, como se nada tivesse acontecido.

La Fille Mal Gardée é tra­di­ci­o­nal­mente dan­çado em 2 atos, mas devida à com­pli­cada troca de cená­rios, às vezes ele é apre­sen­tado em três atos.

A cena mímica “when I am mar­ried” (quando esti­ver casada), cuja cri­a­ção é atri­buída a Petipa, foi ensi­nada a Ashton por Tamara Karsavina, que apren­deu com o seu pro­fes­sor Pavel Gerdt, que dan­çou como Colas com as melho­res bai­la­ri­nas da sua época, incluindo Virginia Zucchi.

Virginia Zucchi na ver­são de Petipa/Ivanov, 1885

Dança do Galo e das Galinhas

A ordem do Ballet segundo a par­ti­tura de 1960 de Lanchbery:

1º Ato

1.Introdução

2. Dança do galo e das galinhas

3. Lise e a fita (Pas de Ruban)

4. Colas

4 a. Solo de Colas

5. Colas e Simone

6. Aldeões

7. Simone e Lise

8. Lise e Colas (Pas de Ruban)

9. Garotas da aldeia

10. Thomas e Alain

11.Fora para a Colheita

12. Colas (rea­fir­ma­ção do N. 4)

13. Piquenique

14. Dança da flauta

15. Briga

16. O Pas de deux de Fanny Elssler

17.Simone

17 a. Dança de Tamancos

18. Dança com mastro

19. Tempestade e Finale

 

2º Ato

 

20. Overture (abertura)

21. Lise e Simone

22. Fiação

23. Dança do Tamborim

24. Colheitadores

25. Quando esti­ver casada

26. O retorno de Simone

27. Thomas, Alain e o Notário

28.Consternação e Perdão

29.Pas de deux

30. Final

Anúncio da pri­meira apre­sen­ta­ção na Inglaterra, 1791

A pri­meira Lise da his­tó­ria: Mme Theodore Dauberval

Pas de Ruban

Dança de Tamancos

Dança de Tamancos

Pas de Ruban

22 janeiro 2013

La Sylphide

Por

O bal­let “La Sylphide” foi revo­lu­ci­o­ná­rio e deter­mi­nante para o desen­vol­vi­mento pos­te­rior da arte do bal­let em sua forma de espe­tá­culo. Após a revo­lu­ção fran­cesa em 1789, o sen­ti­mento de que a exis­tên­cia não mais era fácil e har­mo­ni­osa na atmos­fera anô­nima e opres­siva da revo­lu­ção indus­trial, deu-se ori­gem ao pen­sa­mento Romântico: a dua­li­dade entre o mundo real e dos sonhos.

La Sylphide foi o pri­meiro bal­let a expres­sar com­ple­ta­mente a filo­so­fia Romântica, onde o herói está pres­tes a sucum­bir den­tro do “sta­tus quo”, mas desiste de tudo para bus­car a ver­da­deira feli­ci­dade. Ele intro­duz uma visão lírica de um mundo sobre­na­tu­ral, para­lelo à rea­li­dade, povo­ado por seres tão impal­pá­veis quanto os sonhos. Ao per­der o sonho, o herói tam­bém perde a sua vida.

O bal­let La Sylphide foi core­o­gra­fado por Filippo Taglioni, espe­ci­al­mente para a sua filha, a legen­dá­ria Marie Taglioni. O libreto escrito pelo tenor Adolphe Nourrit, que teve a ideia ini­cial do bal­let, foi ins­pi­rado no conto de Charles Nodier “Trilby, ou Le lutin d’Argail”. No livro, a his­tó­ria é sobre um duende e a esposa de um pes­ca­dor, mas para o bal­let, os sexos dos pro­ta­go­nis­tas foram tro­ca­dos, pas­sando a ser sobre um fazen­deiro e uma “fada” — isso daria mais opor­tu­ni­dade de explo­rar a dança da bailarina.

Com música do com­po­si­tor fran­cês Jean-Madeleine Schneitzhoeffer, o bal­let estreou em 12 de Março de 1832 na Salle Le Poletier da Ópera de Paris. Foi um grande sucesso e Marie Taglioni tornou-se, de ime­di­ato, a “divina Taglioni”.

 Marie Taglioni em La Sylphide, 1832.

No espe­tá­culo exposto em dois atos, o pri­meiro retrata a vida mun­dana em algum lugar da Escócia, enquanto o segundo ato acon­tece em uma flo­resta e apre­senta seres sobre­na­tu­rais. Pela pri­meira vez, a dança teve mais espaço que a pan­to­mima e os movi­men­tos foram pen­sa­dos e com­pos­tos como forma de trans­mi­tir o enredo da his­tó­ria. Também, pela pri­meira vez, a sapa­ti­lha de ponta foi uti­li­zada como forma de trans­mis­são das ideias, parte da com­po­si­ção do per­so­na­gem. A Sílfide — Taglioni — se apre­sen­tou fazendo uso desta téc­nica do iní­cio ao fim do bal­let, téc­nica que mais tarde foi cha­mada de “dança clássica”.

Para o Segundo Ato, foi dese­nhado um ves­tido que des­cia um pouco mais baixo do joe­lho, feito de mate­rial trans­pa­rente e de cor branca. Esse figu­rino, assi­nado por Eugène Lami, tornou-se o pri­meiro tutu de bal­let, e o ato em si, asso­ci­ado ao tutu, deu ori­gem a uma das mar­cas do bal­let român­tico: “les bal­lets blancs” – ou balés bran­cos, onde pelo menos um dos atos da obra, ou toda ela, se passa em um mundo ine­xis­tente ou ambi­ente neu­tro, com os seus per­so­na­gens ves­tindo basi­ca­mente branco. Em geral, é dan­çado pelo corps de bal­let feminino.

Em 1834, den­tre os espec­ta­do­res de “Le Sylphide” em Paris, estava August Bournonville, coreó­grafo e bai­la­rino do Teatro Imperial de Copenhague. Ele se encan­tou pela obra e dois anos mais tarde, em 1836, resol­veu montá-la na Dinamarca. A ideia ini­cial era remon­tar a ver­são ori­gi­nal de Taglioni, mas a Ópera de Paris cobrou um preço muito alto pela par­ti­tura de Schneitzhoeffer, invi­a­bi­li­zando os pla­nos e empur­rando a solu­ção para uma nova ver­são. É a ver­são de Bournonville, estre­ada em 28 de Novembro de 1836, com música de Herman Severin Løvenskiold, que mais conhe­ce­mos hoje. Esse espe­tá­culo nunca saiu de car­taz no Royal Danish Ballet.

O coreó­grafo fran­cês Pierre Lacotte ten­tou remon­tar a ver­são ori­gi­nal de Taglioni, em 1972, para a Ópera de Paris. Como a core­o­gra­fia ori­gi­nal já havia se per­dido, ele se baseou em notas, dese­nhos e expli­ca­ções arqui­va­das da época da cri­a­ção do bal­let. A core­o­gra­fia de Lacotte é no estilo da época, mas com­ple­ta­mente nova, o que lhe ren­deu algu­mas crí­ti­cas como sendo não autêntica.

A ver­são de Lacotte é a mais dan­çada pelas com­pa­nhias bra­si­lei­ras. Segundo o site do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a pri­meira mon­ta­gem deste bal­let no mais impor­tante palco do país foi durante a dire­ção de Emilio Kalil, que foi de 1995 a 1998.

Personagens:

James Ruben: um fazen­deiro escocês.

A Sílfide: uma fada, um espí­rito das flo­res­tas nórdicas.

Gurn: amigo de James.

Effie: A noiva de James.

Madge: a feiticeira.

A mãe de Effie.

Enredo:

Ato I – Uma casa de fazenda escocesa.

James, um fazen­deiro esco­cês, irá se casar com uma moça cha­mada Effie. Na noite de vés­pera do casa­mento, James dorme em uma cadeira perto da lareira. Uma Sílfide apa­rece e dança o seu amor por ele, depois lhe dá um beijo. James acorda e fica encan­tado pela visão. Ele tenta segurá-la, mas ela voa pela cha­miné. Ele acorda o seu amigo Gurn, que diz não ter visto nada, e lem­bra James que hoje é o dia do seu casamento.

Effie chega com a sua mãe e madri­nhas. A bruxa Madge apa­rece no lugar onde a Sílfide foi vista por último — perto da cha­miné. James vai até lá e fica desa­pon­tado por não ser a Sílfide. Ele tenta expul­sar a bruxa, mas é con­tido pelos con­vi­da­dos que que­rem que ela leia a sorte deles. Dentre as pre­vi­sões, Madge diz a Effie que ela se casará com Gurn, e diz que James ama outra pes­soa. O noivo, furi­oso, expulsa a bruxa de casa.

Enquanto todos se arru­mam para o casa­mento, James fica a sós na sala, quando Sílfide rea­pa­rece. Ela con­fessa o seu amor por ele, que acaba não resis­tindo, e a beija. Observando escon­dido à cena, está Gurn, que secre­ta­mente ama Effie. Gurn vai atrás de Effie para con­tar o que ele tinha visto, mas ao retor­na­rem, a Sílfide já tinha desaparecido.

Começa o casa­mento, Sílfide rea­pa­rece, pega a ali­ança de James e foge para a flo­resta. James, apai­xo­nado, larga tudo pra trás e corre atrás dela. Effie fica deso­lada em lágrimas.

Ato II – A flo­resta encantada.

O Segundo Ato começa com Madge e outras bru­xas dan­çando em volta de um cal­dei­rão onde ingre­di­en­tes estão sendo joga­dos. De den­tro do cal­dei­rão, Madge tira uma echarpe. James e a Sílfide entram, ela mos­tra a ele o seu mundo, con­vi­dando as outras Sílfides a entre­te­rem James dan­çando. Todos eles dan­çam, mas a Sílfide sem­pre evita as apro­xi­ma­ções e os abra­ços de James. Todas voam para outra parte da floresta.

No mesmo momento, os con­vi­da­dos do casa­mento de James com Effie pro­cu­ram por ele na flo­resta. Gurn acha o cha­péu de James, mas Madge diz para ele não con­tar nada a Effie, e o sugere pedir Effie em casa­mento. Ele assim o faz e ela aceita.

James encon­tra Madge, que lhe dá a echarpe dizendo que se ele colocá-la ao redor da Sílfide, as suas asas cai­rão, fazendo com que ela não possa mais voar. Sílfide entra e per­mite que James lhe colo­que o pre­sente, mas quando isso acon­tece, as suas asas caem e ela morre nos bra­ços dele. As outras Sílfides levam o seu corpo sem vida embora.

Madge entra e mos­tra a James o que ele per­deu: ao fundo, pode-se ver as fes­ti­vi­da­des do casa­mento de Effie e Gurn. Ele sucumbe, caindo no chão. O bal­let ter­mina com a Bruxa triun­fando sobre o corpo de James. O mal vence.

Fatos curi­o­sos:

Em 1836, o com­po­si­tor Løvenskiold tinha ape­nas 21 anos. Marie Taglioni tinha 28.

O momento em que Gurn encon­tra o cha­péu de James, e Madge diz para ele pedir Effie em casa­mento, foi intro­du­zido por Bournonville.

O elenco ori­gi­nal na ver­são de Talgioni foi Marie Taglioni e Joseph Mazilier. Na ver­são de Bournonville: Lucile Grahn e o pró­prio August Bournonville.

Em 1892, Marius Petipa remon­tou a ver­são de Taglioni no Teatro Imperial em São Petersburgo, adi­ci­o­nando música de Riccardo Drigo. A vari­a­ção com­posta por Drigo para a bai­la­rina Varvara Nikitina, que inter­pre­tava o papel de Sílfide, foi depois, em 1904, colo­cada por Ana Pavlova no Grand Pas Classique do bal­let Paquita.  É hoje a vari­a­ção dan­çada pela bai­la­rina líder. (Segundo o site em inglês da Wikipedia)

Na ver­são de Johan Kubborg, feita para o Royal Ballet de Londres em 2005, Madge, no final, levanta um pouco a sua saia mos­trando parte de um tutu, suge­rindo que ela mesma era uma Sílfide caída.

O bal­let La Sylphide é cons­tan­te­mente con­fun­dido com o bal­let “Les Sylphides”. Les Sylphides tam­bém é um bal­let blanc, core­o­gra­fado por Mikhail Fokin com música de Frédéric Chopin, orques­trada em 1892 por Alexander Glazunov. A suíte foi inti­tu­lada “Chopiniana Op. 46”, título pelo qual o bal­let “Les Sylphides” tam­bém ficou conhe­cido. Na Rússia, inclu­sive, ele é muito mais conhe­cido como Chopiniana.

 

A ordem do bal­let na par­ti­tura de Severin Løvenskiold:

Ato I

  • Overture (aber­tura)
  • Introdução
  • A entrada de Effie
  • James – Effie – Madge. Cena da lei­tura da sorte
  • James e a Sílfide – Cena da Janela
  • Chegada dos con­vi­da­dos – Pas d’Ecossaise
  • Pas de Deux – Reel
  • Finale

 

Ato II

 

  • Cena da Bruxa
  • James e Sílfide – Cena da Floresta
  • A Sílfide chama pelas outras Sílfides
  • A cena das Sílfides – Divertissement
  • James per­se­guindo a Sílfide
  • Gurn – a bruxa – Effie
  • James e a bruxa – a echarpe
  • Finale
  • Finale: Pas de Deux

 

Leonid Sarafanov e Evgenia Obraztsova. Foto: Natasha Razina

 

Emma-Jane Maguire e Steven Mcrae

 Gudrun Bojesen / Danish National Ballet. Foto: Martin Mydtskov Rønne

 Cena da Janela: Jeremy Ransom e Fiona Tonkin / Australian Ballet, 1989

 Ballo della Regina / La Sylphide – The Royal Ballet

  Natalia Osipova e Viacheslav Lopatin/Bolshoi 2008. Foto: Damir Yusupov

 Evgenia Obraztsova e Leonid Sarafanov

  La Sylphide / The Royal Danish Ballet, 2004. Foto: Alexandra Tomalonis

 Roman Rykine e Erica Cornejo/ Boston Ballet

 

Versão Pierre Lacotte / Ópera de Paris, 1972:

 

Versão Bournonville / Royal Danish Ballet, 1988:

Ellen Price, 1903 – Variação inicial:

 

Ana Silvério é formada em “Coreografia, Metodologia e Pedagogia da Dança” na cidade de São Petersburgo, Rússia. Tradutora do livro de A.I.Vaganova “Fundamentos da Dança Clássica”. É coreógrafa, professora, bailarina e pesquisadora da ciência da dança. Mantém a página Ana Silva e Silvério
14 janeiro 2013

São Paulo Companhia de Dança, essa pérola

Por

Inicio 2013 reno­vado, colo­rido, ins­pi­rado pela minha mag­ní­fica expe­ri­ên­cia com a São Paulo Companhia de Dança durante todo 2012. Sorrio, ao lem­brar já com sau­da­des, do tra­ba­lho lindo, árduo e sério que jun­tos fizemos.

Me senti de novo no Zurich Ballet, pela inten­si­dade, vari­e­dade e riqueza do que se faz ali, um reper­tó­rio que já tes­te­mu­nha a gran­deza dessa jovem com­pa­nhia. A SPCD dança Balanchine, Pederneiras, Cranko, Duato, só pra citar alguns pou­cos. E QUE pou­cos, não..?! Uma com­pa­nhia fun­dada em 2008 e que já tem esse peso só pode mere­cer todas as aten­ções, do público e dos res­pon­sá­veis por mantê-la e esti­mu­lar cada vez mais seu cres­ci­mento

Com a com­pa­nhia em 2010

Aula para os rapazes

Estive com eles pela pri­meira vez em 2010 por uma semana como pro­fes­sor con­vi­dado, o que se tor­nou um caso de amor à pri­meira vista. Foi esse breve período que ori­gi­nou o con­vite das dire­to­ras Iracity Cardoso e Inês Bogéa pra que eu pas­sasse um ano tra­ba­lhando com eles como pro­fes­sor e ensai­a­dor. Assim foi meu 2012 .! Adicionei mais uma ale­gria à minha car­reira, mais um orgu­lho e uma feli­ci­dade, junto aos meus com­pa­nhei­ros de tra­ba­lho da SPCD.
Ali reen­con­trei artis­tas com os quais já havia tra­ba­lhado antes, conheci novos talen­tos e fiz ami­gos. Trocar minha expe­ri­ên­cia, ori­en­tar esse time de bai­la­ri­nos de um talento ímpar foi deleite purís­simo. Me ver em cena atra­vés deles uma emo­ção.

Theme and Variations de George Balanchine

Karina Moreira e Joca Antunes ensaiam BACHIANA de Rodrigo Pederneiras

Além de cida­des como Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre e Recife, via­ja­mos por grande parte do inte­rior de São Paulo, uma dezena de cida­des no mínimo. Na capi­tal fize­mos tem­po­rada em 4 tea­tros e mui­tas esco­las, num exce­lente pro­grama edu­ca­tivo que está ins­pi­rando novos artis­tas e novas pla­téias. Ahh, Holanda e Alemanha abri­ram a turnê 2012, em feve­reiro. É exa­ta­mente disso que pre­cisa um bai­la­rino, “ todo artista tem de ir aonde o povo está ”. Por isso me senti nova­mente na Europa, den­tro de São Paulo! Com eles tive uma das minhas gran­des feli­ci­da­des na vida, que divido aqui com vocês.

Remontei pra com­pa­nhia o Grand Pas de Deux de Don Quichotte, um dos mai­o­res clás­si­cos dan­ça­dos pelo mundo. E numa con­versa com Inês Bogéa (que assu­miu sozi­nha a dire­ção da com­pa­nhia a par­tir de maio) sur­giu a idéia de um pro­grama cha­mado “Dois a Dois”, com minha remon­ta­gem de Don Quichotte e o Grand Pas de Deux de O Quebra-Nozes , suge­rido por ela. Quem mais senão a mes­tra Tatiana Leskova para remon­tar essa linda obra? Convite feito por Inês e aceito por D. Tânia o resto foi his­tó­ria. Trabalhar (mais uma vez) ao lado da mes­tra Leskova foi muito espe­cial pra mim.

Essa remon­ta­gem entrou como parte impor­tante das come­mo­ra­ções dos seus 90 anos, com­ple­ta­dos em 06/12/2012. Muitas entre­vis­tas em jor­nais e pro­gra­mas de TV, lan­ça­mento de livro com fotos de sua bri­lhante car­reira pelo mundo e claro, uma linda festa no dia do ani­ver­sá­rio. Acompanhei isso tudo, mas sei que é no estú­dio, tra­ba­lhando duro com os bai­la­ri­nos que Tatiana Leskova encon­tra vigor e ins­pi­ra­ção. Privilégio todo nosso apren­der com essa lenda viva da Dança. E o “Dois a Dois”, um dos a dos que mos­tra esti­los dife­ren­tes den­tro do bal­let clás­sico, foi sucesso por onde pas­sou! C hapeau pra com­pa­nhia por isso.

Paula Penachio e Norton Fantinel em Don Quichotte

Luiza Lopes e Diego de Paula em O Quebra-Nozes

Eu e Tatiana Leskova em turnê com a companhia


Agora, feliz de volta ao Rio de Janeiro e à minha casa, o Theatro Municipal, chego com a estra­nha e boa sen­sa­ção de que “saí” de casa vol­tando… Prova de que sou um artista, que meu cora­ção sem­pre falará muito alto, por vezes gri­tando mais que a razão, sem­pre em nome da Arte, claro. Prova de que as opor­tu­ni­da­des lin­das que tenho na vida fazem de mim o homem/artista que sou, indis­so­lú­veis um do outro. Isso no ano em que com­pleto 30 anos de car­reira artís­tica pro­fis­si­o­nal (e inin­ter­rupta!) só pode me dei­xar feliz. Como dizem Chico Buarque e Edu Lobo numa can­ção escrita pro pri­meiro espe­tá­culo pro­fis­si­o­nal que fiz na vida, em 1983, “O Grande Circo Místico” , junto ao Ballet Teatro Guaíra:

Ir dei­xando a pele em cada palco
E não olhar pra trás
E nem jamais
Jamais dizer
Adeus…”

Vida longa à São Paulo Companhia de Dança. Eu os amo e essa casa será sem­pre minha. Juntos sem­pre. Obrigado Iracity Cardoso e Inês Bogéa por esse mag­ní­fico ano. E um cari­nho espe­cial aos artista bai­la­ri­nos, meus com­pa­nhei­ros de tra­ba­lho, os pul­mões dessa com­pa­nhia. A ver­da­deira razão de tudo isso exis­tir. Feliz con­ti­nu­a­ção pra todos em 2013. Axé!

Manoel Francisco atua como maitre de ballet e repetiteur junto ao Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e como convidado de festivais e companhias nacionais e estrangeiras.
2 janeiro 2013

La Fille Mal Gardée

Por

La Fille Mal Gardée – que pode ser tra­du­zido como “a filha mal cri­ada” — é o bal­let mais velho no reper­tó­rio atual dan­çado nos tea­tros. Originalmente ele foi con­ce­bido e core­o­gra­fado por Jean Dauberval, um impor­tante coreó­grafo do século XVIII.

Aluno de Noverre, os per­so­na­gens dos bal­lets de Dauberval não eram deu­ses ou heróis, mas sim, repre­sen­tan­tes das clas­ses mais sim­ples da soci­e­dade. Com suas fra­que­zas e vícios, con­di­ções de vida pre­cá­rias, sem inte­res­ses glo­bais e aspi­ra­ções, que caíam fre­quen­te­mente em situ­a­ções cômi­cas, os per­so­na­gens con­se­guiam sair delas, não atra­vés de for­ças supe­ri­o­res ou com a ajuda de gran­des heróis, mas atra­vés da sua pró­pria cri­a­ti­vi­dade, ale­gria, inte­li­gên­cia e astúcia.

Talvez nenhum outro bal­let da his­tó­ria tenha pas­sado por tan­tas mudan­ças desde a sua pri­meira estreia, em 1º de Julho de 1789. São vários títu­los e músi­cas até che­gar­mos às duas ver­sões que mais conhe­ce­mos hoje; a de Alexander Gorsky e a de Sir Frederick Ashton .

Conta a his­tó­ria que a ins­pi­ra­ção para o enredo veio de uma gra­vura que Dauberval viu em uma loja de Bordeaux. A gra­vura repro­du­zia a pin­tura do artista Pierre-Antoine Baudouin: Le reprimande/Une jeune fille que­rel­lée par sa mère (A repri­menda / Uma jovem bri­gou com sua mãe). A pin­tura mos­tra uma jovem cho­rando, com as rou­pas desa­li­nha­das, sendo repre­en­dida por uma mulher mais velha (pro­va­vel­mente sua mãe) em um celeiro de feno, enquanto seu amante pode ser visto no fundo subindo as escadas.

Le Reprimande de Pierre Antoine Baudouin.

Le bal­let de la Paille”, como foi cha­mado ori­gi­nal­mente, conta a his­tó­ria de Lison (hoje Lise) e Colin (Colas atu­al­mente) e as suas peri­pé­cias para con­ven­cer a mãe de Lison, a viúva Ragotte (hoje – viúva Simone), a acei­tar o romance dos dois.

As ver­sões:

  • 1789 – estreia no Grand Theatre de Bordeaux, França.
  • 1791 – Primeira apre­sen­ta­ção inglesa, no Pantheon Theatre, feita por Dauberval e com o título de La Fille Mal Gardée.
  • 1800 – Primeira mon­ta­gem no Teatro Imperial Bolshoi em Moscou, por Giuseppe Solomoni.
  • 1803 – Montado na velha Opera de Paris por Eugéne Hus, o pri­meiro Colin da ver­são de Dauberval.
  • 1808 – A ver­são de Hus é levada para Vienna por Jean-Pierre Aumer, apre­sen­tado no “Ballett des Imperialen Hoftheater Nächst der Burg”.
  • 1818 – Montado no Teatro Imperial de São Petersburgo por Charles Didelot, com o título de Le Pracaution Inutile (como o bal­let ainda é cha­mado na Rússia), com música de Catterino Cavos.
  • 1828 – Remontada em Paris. Aumer ins­truiu o com­po­si­tor Ferdidand Hérold para adap­tar a música ori­gi­nal de 1789. Novos temas de óperas de Jan-Paul Egide Martini e Gaetano Donizetti foram adicionados.
  • 1828 – Remontada a ver­são de Aumer no tea­tro Imperial de São Petersburgo por Jules Perrot, na música de Cesare Pugni.
  • 1837 – A bai­la­rina da Opera de Paris Fanny Elssler insiste numa nova adap­ta­ção do Grand Pas de deux com suas árias favo­ri­tas de “L’Elisis d’Amore” de Donizetti.
  • 1864 – Montagem em Berlim por Paul Taglioni no Königliches Opernhaus, com o título “Das Schlecht Bewachte Mädchen” (A filha mal guar­dada).  Uma nova música foi cri­ada pelo com­po­si­tor resi­dente da opera de Berlim, Peter Ludwig Hertel. O bal­let foi um grande sucesso, mantendo-se no reper­tó­rio por vários anos.
  • 1885 – Marius Petipa e Lev Ivanov deci­dem levar a ver­são de Taglioni para o Teatro Imperial em São Petersburgo, com o título Le Precaution Inutile, onde Virginia Zucchi vira uma lenda como Lise. O bal­let per­ma­ne­ceu no reper­tó­rio até a Revolução Russa em 1917.

Versões recen­tes:

Alexander Gorsky mon­tou sua ver­são, base­ada na ver­são Petipa/Ivanov em Moscou, em 1903.

A mais famosa das ver­sões é, sem dúvida, a de Sir Frederick Ashton, que estreou em 28 de Janeiro de 1960. O com­po­si­tor e regente da Royal Opera House, John Lanchbery, fez uma nova par­ti­tura, baseando-se na música de Hérold, com pas­sa­gens da música ori­gi­nal de 1789, um número da par­ti­tura de Hertel (que é uti­li­zada na Dança com Tamancos), uti­li­zou o Pas de Deux de Fanny Elssler e, por fim, compôs alguns novos núme­ros. Mais de 22 com­pa­nhias de dança no mundo, incluindo o Bolshoi e a Opera de Paris, man­tém no seu reper­tó­rio a ver­são de Ashton de “La Fille Mal Gardée”.

A pri­meira apre­sen­ta­ção de La Fille Mal Gardée no Brasil acon­te­ceu no Teatro Municipal do Rio de Janeiro no dia 24 de Julho de 1928, com a Companhia de Dança de Anna Pavlova.

Personagens:

Lise/Lisa – a filha mal guardada.

Colas/Colin – o amado de Lise.

Viúva Simone – a mãe de Lise, tra­di­ci­o­nal­mente dan­çada por um homem.

Alain – o pre­ten­dente rico de Lise.

Thomas – O pai de Alain.

O Notário da aldeia.

 Enredo: Lise e Colas se amam e que­rem casar, mas a viúva Simone quer que a sua filha se case com o jovem rico Alain, filho de Thomas. Thomas e a viúva com­bi­nam o casa­mento dos seus filhos. Thomas e Alain levam a viúva Simone e Lise para um pique­ni­que no campo. Os tra­ba­lha­do­res rurais dan­çam ao redor de um mas­tro com fitas, e as garo­tas dan­çam de taman­cos com a viúva Simone.  Começa uma tem­pes­tade, todos se dis­per­sam e Alain é car­re­gado pela força do vento em seu guarda-chuva aberto.

Mãe e filha retor­nam pra casa. A viúva quer que Lise sente-se no tear para tecer, mas a moça pre­fere tecer enquanto dança, quase enfor­cando a mãe.  Após um tempo a mãe pede para Lise dan­çar, pegando um tam­bo­rim para tocar. Quando a viúva está dor­mindo Lise tenta pegar a chave no seu bolso, mas não con­se­gue. Os tra­ba­lha­do­res tra­zem a colheita e então a viúva sai de casa, dei­xando a filha tran­cada. Lise pensa em Colas e sonha  estar casada com ele, com vários filhos — a famosa cena mímica “When I am mar­ried” (quando eu esti­ver casada). Colas salta de trás da pilha de trigo e os dois tro­cam len­ços como um sím­bolo do seu amor. Passos pesa­dos anun­ciam o retorno da viúva Simone e Lise esconde Colas em seu quarto, retor­nando logo após para as suas tare­fas. A viúva Simone ordena a filha a subir e colo­car o seu ves­tido de noiva, já que Thomas e Alain esta­vam a cami­nho. Lise está cheia de medo, mas sua mãe a leva para o quarto e a tranca dentro.

Thomas e Alain che­gam com o Notário. Eles assi­nam o con­trato nup­cial e a viúva dá a chave do quarto de Lise para Alain ir busca-la. Lá ele vê Lise, ves­tida de noiva, com Colas. Com raiva, pai, filho e o notá­rio vão embora. Colas e Lise implo­ram à viúva Simone que con­si­dere um noi­vado entre os dois, ela acaba con­cor­dando e todos cele­bram. Todos vão saindo, a casa vai ficando vazia e calma, até que Alain retorna para bus­car o seu guarda-chuva, que ele esqueceu.

Fatos curi­o­sos:

Uma das carac­te­rís­ti­cas da ver­são de Ivanov era o uso de gali­nhas de ver­dade. Em uma noite em que Olga Preobrajenskaya dan­çava o papel de Lise, dizem que sua rival na época, Mathilde Kschessinkaya, sol­tou todas as gali­nhas no palco durante a vari­a­ção dela.  Muitas das gali­nhas caí­ram no fosso da orques­tra, no colo dos músi­cos, mas Preobrajenskaya con­ti­nuou dan­çando, como se nada tivesse acontecido.

La Fille Mal Gardée é tra­di­ci­o­nal­mente dan­çado em 2 atos, mas devida à com­pli­cada troca de cená­rios, às vezes ele é apre­sen­tado em três atos.

A cena mímica “when I am mar­ried” (quando esti­ver casada), cuja cri­a­ção é atri­buída a Petipa, foi ensi­nada a Ashton por Tamara Karsavina, que apren­deu com o seu pro­fes­sor Pavel Gerdt, que dan­çou como Colas com as melho­res bai­la­ri­nas da sua época, incluindo Virginia Zucchi.

Virginia Zucchi na ver­são de Petipa/Ivanov, 1885

Dança do Galo e das Galinhas

A ordem do Ballet segundo a par­ti­tura de 1960 de Lanchbery:

1º Ato

1.Introdução

2. Dança do galo e das galinhas

3. Lise e a fita (Pas de Ruban)

4. Colas

4 a. Solo de Colas

5. Colas e Simone

6. Aldeões

7. Simone e Lise

8. Lise e Colas (Pas de Ruban)

9. Garotas da aldeia

10. Thomas e Alain

11.Fora para a Colheita

12. Colas (rea­fir­ma­ção do N. 4)

13. Piquenique

14. Dança da flauta

15. Briga

16. O Pas de deux de Fanny Elssler

17.Simone

17 a. Dança de Tamancos

18. Dança com mastro

19. Tempestade e Finale

 

2º Ato

 

20. Overture (abertura)

21. Lise e Simone

22. Fiação

23. Dança do Tamborim

24. Colheitadores

25. Quando esti­ver casada

26. O retorno de Simone

27. Thomas, Alain e o Notário

28.Consternação e Perdão

29.Pas de deux

30. Final

Anúncio da pri­meira apre­sen­ta­ção na Inglaterra, 1791

A pri­meira Lise da his­tó­ria: Mme Theodore Dauberval

Pas de Ruban

Dança de Tamancos

Dança de Tamancos

 

Pas de Ruban

Dança do Galo e das Galinhas

22 janeiro 2013

La Sylphide

Por

O bal­let “La Sylphide” foi revo­lu­ci­o­ná­rio e deter­mi­nante para o desen­vol­vi­mento pos­te­rior da arte do bal­let em sua forma de espe­tá­culo. Após a revo­lu­ção fran­cesa em 1789, o sen­ti­mento de que a exis­tên­cia não mais era fácil e har­mo­ni­osa na atmos­fera anô­nima e opres­siva da revo­lu­ção indus­trial, deu-se ori­gem ao pen­sa­mento Romântico: a dua­li­dade entre o mundo real e dos sonhos.

La Sylphide foi o pri­meiro bal­let a expres­sar com­ple­ta­mente a filo­so­fia Romântica, onde o herói está pres­tes a sucum­bir den­tro do “sta­tus quo”, mas desiste de tudo para bus­car a ver­da­deira feli­ci­dade. Ele intro­duz uma visão lírica de um mundo sobre­na­tu­ral, para­lelo à rea­li­dade, povo­ado por seres tão impal­pá­veis quanto os sonhos. Ao per­der o sonho, o herói tam­bém perde a sua vida.

O bal­let La Sylphide foi core­o­gra­fado por Filippo Taglioni, espe­ci­al­mente para a sua filha, a legen­dá­ria Marie Taglioni. O libreto escrito pelo tenor Adolphe Nourrit, que teve a ideia ini­cial do bal­let, foi ins­pi­rado no conto de Charles Nodier “Trilby, ou Le lutin d’Argail”. No livro, a his­tó­ria é sobre um duende e a esposa de um pes­ca­dor, mas para o bal­let, os sexos dos pro­ta­go­nis­tas foram tro­ca­dos, pas­sando a ser sobre um fazen­deiro e uma “fada” — isso daria mais opor­tu­ni­dade de explo­rar a dança da bailarina.

Com música do com­po­si­tor fran­cês Jean-Madeleine Schneitzhoeffer, o bal­let estreou em 12 de Março de 1832 na Salle Le Poletier da Ópera de Paris. Foi um grande sucesso e Marie Taglioni tornou-se, de ime­di­ato, a “divina Taglioni”.

 Marie Taglioni em La Sylphide, 1832.

No espe­tá­culo exposto em dois atos, o pri­meiro retrata a vida mun­dana em algum lugar da Escócia, enquanto o segundo ato acon­tece em uma flo­resta e apre­senta seres sobre­na­tu­rais. Pela pri­meira vez, a dança teve mais espaço que a pan­to­mima e os movi­men­tos foram pen­sa­dos e com­pos­tos como forma de trans­mi­tir o enredo da his­tó­ria. Também, pela pri­meira vez, a sapa­ti­lha de ponta foi uti­li­zada como forma de trans­mis­são das ideias, parte da com­po­si­ção do per­so­na­gem. A Sílfide — Taglioni — se apre­sen­tou fazendo uso desta téc­nica do iní­cio ao fim do bal­let, téc­nica que mais tarde foi cha­mada de “dança clássica”.

Para o Segundo Ato, foi dese­nhado um ves­tido que des­cia um pouco mais baixo do joe­lho, feito de mate­rial trans­pa­rente e de cor branca. Esse figu­rino, assi­nado por Eugène Lami, tornou-se o pri­meiro tutu de bal­let, e o ato em si, asso­ci­ado ao tutu, deu ori­gem a uma das mar­cas do bal­let român­tico: “les bal­lets blancs” – ou balés bran­cos, onde pelo menos um dos atos da obra, ou toda ela, se passa em um mundo ine­xis­tente ou ambi­ente neu­tro, com os seus per­so­na­gens ves­tindo basi­ca­mente branco. Em geral, é dan­çado pelo corps de bal­let feminino.

Em 1834, den­tre os espec­ta­do­res de “Le Sylphide” em Paris, estava August Bournonville, coreó­grafo e bai­la­rino do Teatro Imperial de Copenhague. Ele se encan­tou pela obra e dois anos mais tarde, em 1836, resol­veu montá-la na Dinamarca. A ideia ini­cial era remon­tar a ver­são ori­gi­nal de Taglioni, mas a Ópera de Paris cobrou um preço muito alto pela par­ti­tura de Schneitzhoeffer, invi­a­bi­li­zando os pla­nos e empur­rando a solu­ção para uma nova ver­são. É a ver­são de Bournonville, estre­ada em 28 de Novembro de 1836, com música de Herman Severin Løvenskiold, que mais conhe­ce­mos hoje. Esse espe­tá­culo nunca saiu de car­taz no Royal Danish Ballet.

O coreó­grafo fran­cês Pierre Lacotte ten­tou remon­tar a ver­são ori­gi­nal de Taglioni, em 1972, para a Ópera de Paris. Como a core­o­gra­fia ori­gi­nal já havia se per­dido, ele se baseou em notas, dese­nhos e expli­ca­ções arqui­va­das da época da cri­a­ção do bal­let. A core­o­gra­fia de Lacotte é no estilo da época, mas com­ple­ta­mente nova, o que lhe ren­deu algu­mas crí­ti­cas como sendo não autêntica.

A ver­são de Lacotte é a mais dan­çada pelas com­pa­nhias bra­si­lei­ras. Segundo o site do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a pri­meira mon­ta­gem deste bal­let no mais impor­tante palco do país foi durante a dire­ção de Emilio Kalil, que foi de 1995 a 1998.

Personagens:

James Ruben: um fazen­deiro escocês.

A Sílfide: uma fada, um espí­rito das flo­res­tas nórdicas.

Gurn: amigo de James.

Effie: A noiva de James.

Madge: a feiticeira.

A mãe de Effie.

Enredo:

Ato I – Uma casa de fazenda escocesa.

James, um fazen­deiro esco­cês, irá se casar com uma moça cha­mada Effie. Na noite de vés­pera do casa­mento, James dorme em uma cadeira perto da lareira. Uma Sílfide apa­rece e dança o seu amor por ele, depois lhe dá um beijo. James acorda e fica encan­tado pela visão. Ele tenta segurá-la, mas ela voa pela cha­miné. Ele acorda o seu amigo Gurn, que diz não ter visto nada, e lem­bra James que hoje é o dia do seu casamento.

Effie chega com a sua mãe e madri­nhas. A bruxa Madge apa­rece no lugar onde a Sílfide foi vista por último — perto da cha­miné. James vai até lá e fica desa­pon­tado por não ser a Sílfide. Ele tenta expul­sar a bruxa, mas é con­tido pelos con­vi­da­dos que que­rem que ela leia a sorte deles. Dentre as pre­vi­sões, Madge diz a Effie que ela se casará com Gurn, e diz que James ama outra pes­soa. O noivo, furi­oso, expulsa a bruxa de casa.

Enquanto todos se arru­mam para o casa­mento, James fica a sós na sala, quando Sílfide rea­pa­rece. Ela con­fessa o seu amor por ele, que acaba não resis­tindo, e a beija. Observando escon­dido à cena, está Gurn, que secre­ta­mente ama Effie. Gurn vai atrás de Effie para con­tar o que ele tinha visto, mas ao retor­na­rem, a Sílfide já tinha desaparecido.

Começa o casa­mento, Sílfide rea­pa­rece, pega a ali­ança de James e foge para a flo­resta. James, apai­xo­nado, larga tudo pra trás e corre atrás dela. Effie fica deso­lada em lágrimas.

Ato II – A flo­resta encantada.

O Segundo Ato começa com Madge e outras bru­xas dan­çando em volta de um cal­dei­rão onde ingre­di­en­tes estão sendo joga­dos. De den­tro do cal­dei­rão, Madge tira uma echarpe. James e a Sílfide entram, ela mos­tra a ele o seu mundo, con­vi­dando as outras Sílfides a entre­te­rem James dan­çando. Todos eles dan­çam, mas a Sílfide sem­pre evita as apro­xi­ma­ções e os abra­ços de James. Todas voam para outra parte da floresta.

No mesmo momento, os con­vi­da­dos do casa­mento de James com Effie pro­cu­ram por ele na flo­resta. Gurn acha o cha­péu de James, mas Madge diz para ele não con­tar nada a Effie, e o sugere pedir Effie em casa­mento. Ele assim o faz e ela aceita.

James encon­tra Madge, que lhe dá a echarpe dizendo que se ele colocá-la ao redor da Sílfide, as suas asas cai­rão, fazendo com que ela não possa mais voar. Sílfide entra e per­mite que James lhe colo­que o pre­sente, mas quando isso acon­tece, as suas asas caem e ela morre nos bra­ços dele. As outras Sílfides levam o seu corpo sem vida embora.

Madge entra e mos­tra a James o que ele per­deu: ao fundo, pode-se ver as fes­ti­vi­da­des do casa­mento de Effie e Gurn. Ele sucumbe, caindo no chão. O bal­let ter­mina com a Bruxa triun­fando sobre o corpo de James. O mal vence.

Fatos curi­o­sos:

Em 1836, o com­po­si­tor Løvenskiold tinha ape­nas 21 anos. Marie Taglioni tinha 28.

O momento em que Gurn encon­tra o cha­péu de James, e Madge diz para ele pedir Effie em casa­mento, foi intro­du­zido por Bournonville.

O elenco ori­gi­nal na ver­são de Talgioni foi Marie Taglioni e Joseph Mazilier. Na ver­são de Bournonville: Lucile Grahn e o pró­prio August Bournonville.

Em 1892, Marius Petipa remon­tou a ver­são de Taglioni no Teatro Imperial em São Petersburgo, adi­ci­o­nando música de Riccardo Drigo. A vari­a­ção com­posta por Drigo para a bai­la­rina Varvara Nikitina, que inter­pre­tava o papel de Sílfide, foi depois, em 1904, colo­cada por Ana Pavlova no Grand Pas Classique do bal­let Paquita.  É hoje a vari­a­ção dan­çada pela bai­la­rina líder. (Segundo o site em inglês da Wikipedia)

Na ver­são de Johan Kubborg, feita para o Royal Ballet de Londres em 2005, Madge, no final, levanta um pouco a sua saia mos­trando parte de um tutu, suge­rindo que ela mesma era uma Sílfide caída.

O bal­let La Sylphide é cons­tan­te­mente con­fun­dido com o bal­let “Les Sylphides”. Les Sylphides tam­bém é um bal­let blanc, core­o­gra­fado por Mikhail Fokin com música de Frédéric Chopin, orques­trada em 1892 por Alexander Glazunov. A suíte foi inti­tu­lada “Chopiniana Op. 46”, título pelo qual o bal­let “Les Sylphides” tam­bém ficou conhe­cido. Na Rússia, inclu­sive, ele é muito mais conhe­cido como Chopiniana.

 

A ordem do bal­let na par­ti­tura de Severin Løvenskiold:

Ato I

  • Overture (aber­tura)
  • Introdução
  • A entrada de Effie
  • James – Effie – Madge. Cena da lei­tura da sorte
  • James e a Sílfide – Cena da Janela
  • Chegada dos con­vi­da­dos – Pas d’Ecossaise
  • Pas de Deux – Reel
  • Finale

 

Ato II

 

  • Cena da Bruxa
  • James e Sílfide – Cena da Floresta
  • A Sílfide chama pelas outras Sílfides
  • A cena das Sílfides – Divertissement
  • James per­se­guindo a Sílfide
  • Gurn – a bruxa – Effie
  • James e a bruxa – a echarpe
  • Finale
  • Finale: Pas de Deux

 

Leonid Sarafanov e Evgenia Obraztsova. Foto: Natasha Razina

 

Emma-Jane Maguire e Steven Mcrae

 Gudrun Bojesen / Danish National Ballet. Foto: Martin Mydtskov Rønne

 Cena da Janela: Jeremy Ransom e Fiona Tonkin / Australian Ballet, 1989

 Ballo della Regina / La Sylphide – The Royal Ballet

  Natalia Osipova e Viacheslav Lopatin/Bolshoi 2008. Foto: Damir Yusupov

 Evgenia Obraztsova e Leonid Sarafanov

  La Sylphide / The Royal Danish Ballet, 2004. Foto: Alexandra Tomalonis

 Roman Rykine e Erica Cornejo/ Boston Ballet

 

Versão Pierre Lacotte / Ópera de Paris, 1972:

 

Versão Bournonville / Royal Danish Ballet, 1988:

Ellen Price, 1903 – Variação inicial:

 

Ana Silvério é formada em “Coreografia, Metodologia e Pedagogia da Dança” na cidade de São Petersburgo, Rússia. Tradutora do livro de A.I.Vaganova “Fundamentos da Dança Clássica”. É coreógrafa, professora, bailarina e pesquisadora da ciência da dança. Mantém a página Ana Silva e Silvério
14 janeiro 2013

São Paulo Companhia de Dança, essa pérola

Por

Inicio 2013 reno­vado, colo­rido, ins­pi­rado pela minha mag­ní­fica expe­ri­ên­cia com a São Paulo Companhia de Dança durante todo 2012. Sorrio, ao lem­brar já com sau­da­des, do tra­ba­lho lindo, árduo e sério que jun­tos fizemos.

Me senti de novo no Zurich Ballet, pela inten­si­dade, vari­e­dade e riqueza do que se faz ali, um reper­tó­rio que já tes­te­mu­nha a gran­deza dessa jovem com­pa­nhia. A SPCD dança Balanchine, Pederneiras, Cranko, Duato, só pra citar alguns pou­cos. E QUE pou­cos, não..?! Uma com­pa­nhia fun­dada em 2008 e que já tem esse peso só pode mere­cer todas as aten­ções, do público e dos res­pon­sá­veis por mantê-la e esti­mu­lar cada vez mais seu cres­ci­mento

Com a com­pa­nhia em 2010

Aula para os rapazes

Estive com eles pela pri­meira vez em 2010 por uma semana como pro­fes­sor con­vi­dado, o que se tor­nou um caso de amor à pri­meira vista. Foi esse breve período que ori­gi­nou o con­vite das dire­to­ras Iracity Cardoso e Inês Bogéa pra que eu pas­sasse um ano tra­ba­lhando com eles como pro­fes­sor e ensai­a­dor. Assim foi meu 2012 .! Adicionei mais uma ale­gria à minha car­reira, mais um orgu­lho e uma feli­ci­dade, junto aos meus com­pa­nhei­ros de tra­ba­lho da SPCD.
Ali reen­con­trei artis­tas com os quais já havia tra­ba­lhado antes, conheci novos talen­tos e fiz ami­gos. Trocar minha expe­ri­ên­cia, ori­en­tar esse time de bai­la­ri­nos de um talento ímpar foi deleite purís­simo. Me ver em cena atra­vés deles uma emo­ção.

Theme and Variations de George Balanchine

Karina Moreira e Joca Antunes ensaiam BACHIANA de Rodrigo Pederneiras

Além de cida­des como Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre e Recife, via­ja­mos por grande parte do inte­rior de São Paulo, uma dezena de cida­des no mínimo. Na capi­tal fize­mos tem­po­rada em 4 tea­tros e mui­tas esco­las, num exce­lente pro­grama edu­ca­tivo que está ins­pi­rando novos artis­tas e novas pla­téias. Ahh, Holanda e Alemanha abri­ram a turnê 2012, em feve­reiro. É exa­ta­mente disso que pre­cisa um bai­la­rino, “ todo artista tem de ir aonde o povo está ”. Por isso me senti nova­mente na Europa, den­tro de São Paulo! Com eles tive uma das minhas gran­des feli­ci­da­des na vida, que divido aqui com vocês.

Remontei pra com­pa­nhia o Grand Pas de Deux de Don Quichotte, um dos mai­o­res clás­si­cos dan­ça­dos pelo mundo. E numa con­versa com Inês Bogéa (que assu­miu sozi­nha a dire­ção da com­pa­nhia a par­tir de maio) sur­giu a idéia de um pro­grama cha­mado “Dois a Dois”, com minha remon­ta­gem de Don Quichotte e o Grand Pas de Deux de O Quebra-Nozes , suge­rido por ela. Quem mais senão a mes­tra Tatiana Leskova para remon­tar essa linda obra? Convite feito por Inês e aceito por D. Tânia o resto foi his­tó­ria. Trabalhar (mais uma vez) ao lado da mes­tra Leskova foi muito espe­cial pra mim.

Essa remon­ta­gem entrou como parte impor­tante das come­mo­ra­ções dos seus 90 anos, com­ple­ta­dos em 06/12/2012. Muitas entre­vis­tas em jor­nais e pro­gra­mas de TV, lan­ça­mento de livro com fotos de sua bri­lhante car­reira pelo mundo e claro, uma linda festa no dia do ani­ver­sá­rio. Acompanhei isso tudo, mas sei que é no estú­dio, tra­ba­lhando duro com os bai­la­ri­nos que Tatiana Leskova encon­tra vigor e ins­pi­ra­ção. Privilégio todo nosso apren­der com essa lenda viva da Dança. E o “Dois a Dois”, um dos a dos que mos­tra esti­los dife­ren­tes den­tro do bal­let clás­sico, foi sucesso por onde pas­sou! C hapeau pra com­pa­nhia por isso.

Paula Penachio e Norton Fantinel em Don Quichotte

Luiza Lopes e Diego de Paula em O Quebra-Nozes

Eu e Tatiana Leskova em turnê com a companhia


Agora, feliz de volta ao Rio de Janeiro e à minha casa, o Theatro Municipal, chego com a estra­nha e boa sen­sa­ção de que “saí” de casa vol­tando… Prova de que sou um artista, que meu cora­ção sem­pre falará muito alto, por vezes gri­tando mais que a razão, sem­pre em nome da Arte, claro. Prova de que as opor­tu­ni­da­des lin­das que tenho na vida fazem de mim o homem/artista que sou, indis­so­lú­veis um do outro. Isso no ano em que com­pleto 30 anos de car­reira artís­tica pro­fis­si­o­nal (e inin­ter­rupta!) só pode me dei­xar feliz. Como dizem Chico Buarque e Edu Lobo numa can­ção escrita pro pri­meiro espe­tá­culo pro­fis­si­o­nal que fiz na vida, em 1983, “O Grande Circo Místico” , junto ao Ballet Teatro Guaíra:

Ir dei­xando a pele em cada palco
E não olhar pra trás
E nem jamais
Jamais dizer
Adeus…”

Vida longa à São Paulo Companhia de Dança. Eu os amo e essa casa será sem­pre minha. Juntos sem­pre. Obrigado Iracity Cardoso e Inês Bogéa por esse mag­ní­fico ano. E um cari­nho espe­cial aos artista bai­la­ri­nos, meus com­pa­nhei­ros de tra­ba­lho, os pul­mões dessa com­pa­nhia. A ver­da­deira razão de tudo isso exis­tir. Feliz con­ti­nu­a­ção pra todos em 2013. Axé!

Manoel Francisco atua como maitre de ballet e repetiteur junto ao Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e como convidado de festivais e companhias nacionais e estrangeiras.
2 janeiro 2013

La Fille Mal Gardée

Por

La Fille Mal Gardée – que pode ser tra­du­zido como “a filha mal cri­ada” — é o bal­let mais velho no reper­tó­rio atual dan­çado nos tea­tros. Originalmente ele foi con­ce­bido e core­o­gra­fado por Jean Dauberval, um impor­tante coreó­grafo do século XVIII.

Aluno de Noverre, os per­so­na­gens dos bal­lets de Dauberval não eram deu­ses ou heróis, mas sim, repre­sen­tan­tes das clas­ses mais sim­ples da soci­e­dade. Com suas fra­que­zas e vícios, con­di­ções de vida pre­cá­rias, sem inte­res­ses glo­bais e aspi­ra­ções, que caíam fre­quen­te­mente em situ­a­ções cômi­cas, os per­so­na­gens con­se­guiam sair delas, não atra­vés de for­ças supe­ri­o­res ou com a ajuda de gran­des heróis, mas atra­vés da sua pró­pria cri­a­ti­vi­dade, ale­gria, inte­li­gên­cia e astúcia.

Talvez nenhum outro bal­let da his­tó­ria tenha pas­sado por tan­tas mudan­ças desde a sua pri­meira estreia, em 1º de Julho de 1789. São vários títu­los e músi­cas até che­gar­mos às duas ver­sões que mais conhe­ce­mos hoje; a de Alexander Gorsky e a de Sir Frederick Ashton .

Conta a his­tó­ria que a ins­pi­ra­ção para o enredo veio de uma gra­vura que Dauberval viu em uma loja de Bordeaux. A gra­vura repro­du­zia a pin­tura do artista Pierre-Antoine Baudouin: Le reprimande/Une jeune fille que­rel­lée par sa mère (A repri­menda / Uma jovem bri­gou com sua mãe). A pin­tura mos­tra uma jovem cho­rando, com as rou­pas desa­li­nha­das, sendo repre­en­dida por uma mulher mais velha (pro­va­vel­mente sua mãe) em um celeiro de feno, enquanto seu amante pode ser visto no fundo subindo as escadas.

Le Reprimande de Pierre Antoine Baudouin.

Le bal­let de la Paille”, como foi cha­mado ori­gi­nal­mente, conta a his­tó­ria de Lison (hoje Lise) e Colin (Colas atu­al­mente) e as suas peri­pé­cias para con­ven­cer a mãe de Lison, a viúva Ragotte (hoje – viúva Simone), a acei­tar o romance dos dois.

As ver­sões:

  • 1789 – estreia no Grand Theatre de Bordeaux, França.
  • 1791 – Primeira apre­sen­ta­ção inglesa, no Pantheon Theatre, feita por Dauberval e com o título de La Fille Mal Gardée.
  • 1800 – Primeira mon­ta­gem no Teatro Imperial Bolshoi em Moscou, por Giuseppe Solomoni.
  • 1803 – Montado na velha Opera de Paris por Eugéne Hus, o pri­meiro Colin da ver­são de Dauberval.
  • 1808 – A ver­são de Hus é levada para Vienna por Jean-Pierre Aumer, apre­sen­tado no “Ballett des Imperialen Hoftheater Nächst der Burg”.
  • 1818 – Montado no Teatro Imperial de São Petersburgo por Charles Didelot, com o título de Le Pracaution Inutile (como o bal­let ainda é cha­mado na Rússia), com música de Catterino Cavos.
  • 1828 – Remontada em Paris. Aumer ins­truiu o com­po­si­tor Ferdidand Hérold para adap­tar a música ori­gi­nal de 1789. Novos temas de óperas de Jan-Paul Egide Martini e Gaetano Donizetti foram adicionados.
  • 1828 – Remontada a ver­são de Aumer no tea­tro Imperial de São Petersburgo por Jules Perrot, na música de Cesare Pugni.
  • 1837 – A bai­la­rina da Opera de Paris Fanny Elssler insiste numa nova adap­ta­ção do Grand Pas de deux com suas árias favo­ri­tas de “L’Elisis d’Amore” de Donizetti.
  • 1864 – Montagem em Berlim por Paul Taglioni no Königliches Opernhaus, com o título “Das Schlecht Bewachte Mädchen” (A filha mal guar­dada).  Uma nova música foi cri­ada pelo com­po­si­tor resi­dente da opera de Berlim, Peter Ludwig Hertel. O bal­let foi um grande sucesso, mantendo-se no reper­tó­rio por vários anos.
  • 1885 – Marius Petipa e Lev Ivanov deci­dem levar a ver­são de Taglioni para o Teatro Imperial em São Petersburgo, com o título Le Precaution Inutile, onde Virginia Zucchi vira uma lenda como Lise. O bal­let per­ma­ne­ceu no reper­tó­rio até a Revolução Russa em 1917.

Versões recen­tes:

Alexander Gorsky mon­tou sua ver­são, base­ada na ver­são Petipa/Ivanov em Moscou, em 1903.

A mais famosa das ver­sões é, sem dúvida, a de Sir Frederick Ashton, que estreou em 28 de Janeiro de 1960. O com­po­si­tor e regente da Royal Opera House, John Lanchbery, fez uma nova par­ti­tura, baseando-se na música de Hérold, com pas­sa­gens da música ori­gi­nal de 1789, um número da par­ti­tura de Hertel (que é uti­li­zada na Dança com Tamancos), uti­li­zou o Pas de Deux de Fanny Elssler e, por fim, compôs alguns novos núme­ros. Mais de 22 com­pa­nhias de dança no mundo, incluindo o Bolshoi e a Opera de Paris, man­tém no seu reper­tó­rio a ver­são de Ashton de “La Fille Mal Gardée”.

A pri­meira apre­sen­ta­ção de La Fille Mal Gardée no Brasil acon­te­ceu no Teatro Municipal do Rio de Janeiro no dia 24 de Julho de 1928, com a Companhia de Dança de Anna Pavlova.

Personagens:

Lise/Lisa – a filha mal guardada.

Colas/Colin – o amado de Lise.

Viúva Simone – a mãe de Lise, tra­di­ci­o­nal­mente dan­çada por um homem.

Alain – o pre­ten­dente rico de Lise.

Thomas – O pai de Alain.

O Notário da aldeia.

 Enredo: Lise e Colas se amam e que­rem casar, mas a viúva Simone quer que a sua filha se case com o jovem rico Alain, filho de Thomas. Thomas e a viúva com­bi­nam o casa­mento dos seus filhos. Thomas e Alain levam a viúva Simone e Lise para um pique­ni­que no campo. Os tra­ba­lha­do­res rurais dan­çam ao redor de um mas­tro com fitas, e as garo­tas dan­çam de taman­cos com a viúva Simone.  Começa uma tem­pes­tade, todos se dis­per­sam e Alain é car­re­gado pela força do vento em seu guarda-chuva aberto.

Mãe e filha retor­nam pra casa. A viúva quer que Lise sente-se no tear para tecer, mas a moça pre­fere tecer enquanto dança, quase enfor­cando a mãe.  Após um tempo a mãe pede para Lise dan­çar, pegando um tam­bo­rim para tocar. Quando a viúva está dor­mindo Lise tenta pegar a chave no seu bolso, mas não con­se­gue. Os tra­ba­lha­do­res tra­zem a colheita e então a viúva sai de casa, dei­xando a filha tran­cada. Lise pensa em Colas e sonha  estar casada com ele, com vários filhos — a famosa cena mímica “When I am mar­ried” (quando eu esti­ver casada). Colas salta de trás da pilha de trigo e os dois tro­cam len­ços como um sím­bolo do seu amor. Passos pesa­dos anun­ciam o retorno da viúva Simone e Lise esconde Colas em seu quarto, retor­nando logo após para as suas tare­fas. A viúva Simone ordena a filha a subir e colo­car o seu ves­tido de noiva, já que Thomas e Alain esta­vam a cami­nho. Lise está cheia de medo, mas sua mãe a leva para o quarto e a tranca dentro.

Thomas e Alain che­gam com o Notário. Eles assi­nam o con­trato nup­cial e a viúva dá a chave do quarto de Lise para Alain ir busca-la. Lá ele vê Lise, ves­tida de noiva, com Colas. Com raiva, pai, filho e o notá­rio vão embora. Colas e Lise implo­ram à viúva Simone que con­si­dere um noi­vado entre os dois, ela acaba con­cor­dando e todos cele­bram. Todos vão saindo, a casa vai ficando vazia e calma, até que Alain retorna para bus­car o seu guarda-chuva, que ele esqueceu.

Fatos curi­o­sos:

Uma das carac­te­rís­ti­cas da ver­são de Ivanov era o uso de gali­nhas de ver­dade. Em uma noite em que Olga Preobrajenskaya dan­çava o papel de Lise, dizem que sua rival na época, Mathilde Kschessinkaya, sol­tou todas as gali­nhas no palco durante a vari­a­ção dela.  Muitas das gali­nhas caí­ram no fosso da orques­tra, no colo dos músi­cos, mas Preobrajenskaya con­ti­nuou dan­çando, como se nada tivesse acontecido.

La Fille Mal Gardée é tra­di­ci­o­nal­mente dan­çado em 2 atos, mas devida à com­pli­cada troca de cená­rios, às vezes ele é apre­sen­tado em três atos.

A cena mímica “when I am mar­ried” (quando esti­ver casada), cuja cri­a­ção é atri­buída a Petipa, foi ensi­nada a Ashton por Tamara Karsavina, que apren­deu com o seu pro­fes­sor Pavel Gerdt, que dan­çou como Colas com as melho­res bai­la­ri­nas da sua época, incluindo Virginia Zucchi.

Virginia Zucchi na ver­são de Petipa/Ivanov, 1885

Dança do Galo e das Galinhas

A ordem do Ballet segundo a par­ti­tura de 1960 de Lanchbery:

1º Ato

1.Introdução

2. Dança do galo e das galinhas

3. Lise e a fita (Pas de Ruban)

4. Colas

4 a. Solo de Colas

5. Colas e Simone

6. Aldeões

7. Simone e Lise

8. Lise e Colas (Pas de Ruban)

9. Garotas da aldeia

10. Thomas e Alain

11.Fora para a Colheita

12. Colas (rea­fir­ma­ção do N. 4)

13. Piquenique

14. Dança da flauta

15. Briga

16. O Pas de deux de Fanny Elssler

17.Simone

17 a. Dança de Tamancos

18. Dança com mastro

19. Tempestade e Finale

 

2º Ato

 

20. Overture (abertura)

21. Lise e Simone

22. Fiação

23. Dança do Tamborim

24. Colheitadores

25. Quando esti­ver casada

26. O retorno de Simone

27. Thomas, Alain e o Notário

28.Consternação e Perdão

29.Pas de deux

30. Final

Anúncio da pri­meira apre­sen­ta­ção na Inglaterra, 1791

A pri­meira Lise da his­tó­ria: Mme Theodore Dauberval

Pas de Ruban

Dança de Tamancos

Dança de Tamancos

 

Pas de Ruban

Dança do Galo e das Galinhas

Variação de Lise

Variação mas­cu­lina

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