Ouço com certa frequência “comecei a dançar desde os três anos de idade”, enquanto eu me esforço muito para poder falar que danço há três anos. Começar a dançar ballet mais tarde é uma mistura de “Em busca do tempo perdido” com “Tudo tem seu tempo”. Um lugar para fazer “bugar” qualquer GPS. Esse é o meu lugar! E para entender um lugar estranho, as vezes é necessário recalcular a rota.
Na época do colégio, sempre tínhamos que escrever (e também ler em voz alta) redações sobre Férias e Natal. Eu ouvia as redações das outras crianças, cheias de rotinas super ocupadas com atividades fantásticas, enquanto eu tinha feito coisas muito simples, uma ou duas no máximo.
Essas pequenas coisas eram muito significativas para mim e me faziam pensar se as outras crianças realmente gostavam de fazer tudo aquilo que as redações delas contavam ou se elas faziam tudo aquilo para poder ter muitas coisas para escrever.
Iniciante, básico, intermediário, avançado (as vezes subdividido em nível I e nível II) e até baby class. Tudo isso e nada ao mesmo tempo. Quando o assunto é nível no ballet, eu me sinto assim, como se estivesse no colégio, naquela aula de redação. Tenho pouco para dizer, mas estar fazendo o que estou fazendo significa muito pra mim.
Sou muito perdido para os níveis avançados, velho demais para o baby class, muito inconformado para o básico/ iniciante e ainda lento para o intermediário. Faço todas essas aulas e teoricamente não tenho perfil para fazer nenhuma delas.
Então qual é o meu lugar? Sou aprendiz de bailarino, isso significa que tenho outro jeito de aprender, outro tempo, outro caminho. Preciso me lembrar que eu não posso me medir com a mesma régua de quem começou a dançar desde criança. Eu sou um “sem nível” e está tudo bem!