“A Fonte Bakhchisarai” (lê-se “Bartissarai”) faz parte do início do gênero que dominou o ballet soviético no período Stalin (1930–1950): o “Choreodrama” ou “Dramballet”.
Ballet em 4 atos, prólogo, 9 cenas e epílogo. Coreografado por Rotislav Zakharov, com música de Boris Assafiev e Libretto de Nikolay Volkov. O Ballet estreou em 1934.
Na Criméia, região Ucraniana recém-anexada à Rússia, tem uma cidade chamada Bakhchisaray (lê-se Bartissarai), que quer dizer “jardim-palácio”, na língua tártaro-criméia. Nessa cidade está localizado um palácio do século XVI que servia de residência para os Khans (Cãs) da Criméia. Nos jardins desse palácio existe uma fonte chamada “Fonte das lágrimas”.
Ao visitar o palácio, em 1820, o poeta Aleksandr Pushkin foi inspirado pela lenda de que a fonte era símbolo do luto do Khan Qirim Geray, que encomendou a fonte em 1764, após a morte da sua amada “concubina” Dilyara. Em 1924, Pushkin publicou a história em poema “A Fonte Bakhchisaray”.
Pushkin no palácio Bakhchisaray _irmaos_ChernetsovyPintura dos irmãos Chernetsovy. “Pushikin no Palácio Bakhchisaray”, 1837.
Historia da criação do Ballet
O compositor Assafiev (1894–1965) e o crítico de teatro e libretista Nikolay Volkov foram importantes ideólogos do gênero “Choreodrama”. Depois do sucesso da primeira parceria dos dois em “Chama de Paris” (1932), o tema escolhido foi o poema do grande poeta russo Pushkin. Sergey Radlov, então Diretor Artístico do Teatro Acadêmico de Ópera e Ballet de Leningrado (Kirov/Mariinsky) foi responsável pela direção do ballet, e o seu aluno na escola técnica de atores, Rostislav Zakharov (1907–1984), o coreógrafo.
Uma das principais características e diferenças no “Choreodrama” é a importância do trabalho do diretor artístico, que cuida minuciosamente do desenvolvimento da dramaturgia, em cada dança, em cada gesto. O realismo. Em geral, a dança só pela dança, com vários números que não movem o enredo e onde o corpo de baile participa massivamente, como os grandes “Divertissements” comuns nos ballets do Séc. 19, neste estilo praticamente deixam de existir. Choreodrama ou Dramballet significa: “dança dramática”. A literatura é a maior fonte desse gênero.
“Nossa intenção é construir um espetáculo coreográfico como uma ação de dramaturgia, onde cada dança carrega em si sentido e move adiante o enredo.” (R.Zakharov)
Libretto:
Personagens:
O nobre Adam – Senhor feudal polonês
Maria – a sua filha
Vatslav – noivo de Maria
Girey – Khan da Criméia
Zarema – sua esposa favorita
Nurali – chefe dos guerreiros tártaros
Prólogo
Isolado no palácio de Bakhchisaray, o Khan Geray (Girey) está curvado diante da fonte de mármore, construída em memória da “triste Maria”.
Ato 1:
Em um antigo castelo comemora-se o aniversário de Maria, filha de um senhor feudal polonês chamado Adam.
A nobre Maria deixa os convidados e vai se encontrar com o seu noivo Vatslav.
Da escuridão surge o espião da legião inimiga do Khan Girey. Ele mal teve tempo de se esconder nas plantas densas do parque, como guardas poloneses que o perseguem entram correndo.
Enquanto isso a festa continua. Sob os sons de uma Polonaise de gala, os convidados adentram o parque. A diversão termina com a entrada do chefe dos guardas, que está ferido e avisa sobre a incursão tártara. O nobre Adam convida os homens a pegarem suas armas. As mulheres se escondem no castelo. Expondo as espadas, os poloneses se preparam para se defenderem do ataque dos inimigos.
Os tártaros ateiam fogo ao castelo e matam os defensores do castelo. Sobrevivendo milagrosamente, Maria e Vatslav correm através das chamas do incêndio e do caos da batalha sangrenta, mas o caminho deles é bloqueado pelo líder da invasão – o Khan da Criméia Girey. Vatslav corre na direção de Girey, mas cai no mesmo momento, atingido pelo punhal do Khan. O Khan arranca o xale de Maria e fica imóvel, surpreendido pela sua beleza.
Yana Selina (Maria) e Ernest Latypov (Vatslav)
Ato II
Harém do Khan Girey no palácio Bakhchisaray. Dentre muitas concubinas, está a esposa predileta de Girey, Zarema.
Ressoam os trompetes de guerra. O Harém se prepara para recepcionar o seu senhor.
Os tártaros retornam com riquezas conquistadas e carregam cuidadosamente Maria.
Pensativo, Girey entra no Harém. Zarema tenta entreter o Khan sem sucesso, ele nem a percebe.
Mas no rosto de Girey a felicidade está expressa, e Zarema vê como uma ama guia a nova “captura” pelo salão, a nobre polonesa. Zarema entende que perdeu o amor de Girey.
Em vão as concubinas tentam animar o seu Senhor, Zarema tenta em vão conseguir o amor dele de volta. Colocando Zarema de lado, o Khan sai. Zarema fica em desespero.
Dança com os sinos de mão: Sofia Skoblikova-Ivanova. Zarema: Sofia Gumerova. Segunda Esposa de Girey: Yulia Kobzar.
Ato III
Um luxuoso quarto. Protegida por uma velha serviçal, a bela prisioneira do Khan definha-se. Uma lira é a única recordação que Maria tem da vida anterior, da liberdade e felicidade que se foi. Surge um mar de lembranças da terra natal e de Vatslav.
A chegada de Girey interrompe a imaginação de Maria. Ele pede para a moça receber o seu humilde amor e toda a riqueza que a ele pertence. Mas Maria apenas sente medo e repulsa por Girey, que matou o seu amado, parentes e amigos. Ele sai de forma humilde.
De madrugada, Zarema entra no quarto da nobre. Zarema faz fortes confissões à Maria e exige que a nobre afaste de si Girey.
Maria não compreende a fala temperamental de Zarema, que a assusta.
Zarema percebe o solidéu de Girey, que ele esqueceu ao visitar Maria. O que significa que Girey esteve lá.
Tomada pelo ciúme, Zarema corre para Maria com um punhal. Girey corre, mas é tarde, Zarema mata Maria.
Diálogo Zarema e Maria, assassinato de Maria.
Yana Selina (Maria) e Sofia Gumerova (Zarema)
Ato IV
Pátio do palácio do Khan Girey. Todos se curvam diante do Khan em um servilismo silencioso. Nada alegra e preocupa o Khan: nem o retorno dos tártaros após uma nova incursão, nem lindas moças recém capturadas.
Zarema é levada para o local da execução. Ao comando de Girey, ela é jogada no abismo.
O chefe dos guerreiros de Girey, Nurali, tenta distrair o seu Senhor e afastá-lo de pensamentos sombrios. Mas a dança dos guerreiros não traz o esquecimento.
Momento da execução de Zarema e dança dos guerreiros tártaros:
Epílogo
Girey está na “Fonte das Lágrimas”.
Um carretel de lembranças ressuscita repetidamente a imagem da bela Maria.
Video de 1953: “Estrelas do Ballet Russo”
Com Galina Ulanova (Maria) Maya Plisetskaya (Zarema), Petr Gusev (Girey), Iuri Jdanov (Vatslav) e Igor Belski (Nurali)
Fontes: Cyclowiki, Wikipedia, site do teatro Mariinski, Enciclopédia do Ballet.