Por 17 anos eu fui professora de Ballet Clássico de uma grande escola no Rio de Janeiro e trabalhei justamente com a iniciação às pontas, e ao longo desses anos pude acompanhar muitas histórias bem sucedidas de bailarinas que realizaram o sonho de dançar nas pontas.
Posso afirmar tranquilamente que um item importante para sucesso com as sapatilhas de ponta é uma boa preparação técnica da aluna em conjunto com a escolha do momento ideal para início das aulas de ponta e de sapatos de ponta adequados. Orientações que serão dadas pelo seu professor.
Normalmente relaciona-se o início das aulas de ponta à idade da bailarina, mas hoje sabemos que essa decisão está associada a uma avaliação muito mais abrangente.
A idade ideal, segundo a literatura cientifica, é entre 10/11 anos. Isso porque indica que a criança já terá suas estruturas ósseas mais fortes e uma musculatura mais desenvolvida para estabilizar as articulações e suportar o peso do corpo. Mas sabemos que cada criança tem um tempo de desenvolvimento, ou seja, podemos ter crianças com 9 anos mais fortes do que meninas de 13, por exemplo. Por isso a avaliação da idade deve ser acompanhada de uma avaliação física, também.
Uma segunda avaliação importante é a vivência e o conhecimento técnico. Se uma criança começa no ballet aos sete anos de idade, aos 10 ela já terá três anos de trabalho físico e desenvolvimento da técnica básica do ballet, o que é um grande diferencial para o início das pontas. Quando iniciamos o ballet mais tarde, aos 9 anos, teremos pouco tempo de experiência técnica de ballet. O mesmo raciocínio é valido para as bailarinas adultas, que apesar de já terem os ossos formados e força muscular desenvolvida, precisam de tempo para desenvolver as habilidades técnicas.
Antes de tentar se apoiar, se elevar ou girar nas pontas, é importante que ela consiga fazer tudo isso e muito mais, na meia ponta. É preciso ter bom domínio do corpo, boa estabilidade no tronco, quadris, joelhos e pés, a mobilidade ideal no tornozelo e pés e domínio dos movimentos da técnica, como relevés e piqués, por exemplo.
Tendo alcançado todos esses objetivos, passamos para um segundo momento importante, a escolha da sapatilha adequada!
Hoje o mito que as sapatilhas de ponta são as grandes vilãs para os pés das bailarinas já caiu por terra. Em pleno século XXI, temos sapatilhas para todos os tipos de pés: largos, estreitos, com muito arco, pouco arco, dedos curtos, dedos longos, pouco calcanhar, muito calcanhar. Sapatilhas não precisam mais machucar os pés das bailarinas.
E mais importante: sapatilha de ponta não é um enfeite, ela é um instrumento de trabalho!
A escolha do sapato de ponta deve ser técnica, baseada na estrutura anatômica da bailarina, e não porque ela acha mais bonito ou igual a que a bailarina “tal” usa. Essa escolha será responsável por 50% do sucesso do trabalho de pontas, acredite!
É preciso escolher bem a ponteira, saber costurar a fita e o elástico, preparar bem um sapato. Até a escolha da ponteira e a forma como costuramos a fita no sapato pode variar de acordo com a anatomia da bailarina.
Uma sapatilha adequada vai garantir à bailarina menos bolhas nos dedos, maior durabilidade, mais conforto para os metatarsos, melhor alinhamento do pé, melhor estética, e sem dúvida, permitirá uma melhor evolução técnica.
Muitas vezes esse encontro não acontece de pronto, a bailarina experimenta alguns modelos até que ela acerta, e encontra seu PAR PERFEITO, e serão felizes para sempre.