Em diversos momentos no blog já comentei sobre a carga pesada e além do limite corporal exigida na prática do balé clássico. Obviamente, outros estilos de dança também promovem isso, porém, é claramente perceptível no segmento clássico a busca e a demanda pela quebra constante da barreira física. Se não for assim, “não serve”.
Em meu outro post sobre os ensinamentos, questionei muito a ideia da valorização da dor nas aulas de balé clássico e nesse novo texto que compartilho com vocês, destaco outra questão minha sobre essa arte: a consciência corporal com relação aos movimentos da dança clássica.
É de conhecimento geral que os movimentos praticados no balé clássico são antinaturais. Sim, acho que você já deve ter percebido que não fomos feitos para andar com os pés para fora (o famoso en dehor), jogar nossas pernas acima de 90º (os lindos grand battements), arquearmos nossas costas para trás (os incríveis cambrés) ou alongarmos nossas virilhas a ponto de esticarmos simultaneamente uma perna na frente e outra atrás (o maravilhoso grand ècart).
Diante disso, a possibilidade de se machucar para alcançar a tão almejada “perfeição” do balé aumenta drasticamente.
Então, como prevenir? Como me comportar para que eu tente, dentro dessa realidade, não me machucar e ainda aprimorar minha performance? Acredito que, antes de tudo, é preciso entender como funciona o nosso corpo. Depois de 26 anos de dança, consegui perceber que pouco se fala e se ensina sobre movimento humano natural, ou seja: você compreende como seu corpo funciona e por que ele se mexe de determinada maneira?
A falta de exercícios que promovem o entendimento, o resgate e a manutenção dos gestos naturais do corpo faz muita diferença quando se precisa aplicar movimentos que fogem da naturalidade. Muitas bailarinas, por começarem desde cedo na dança, não conseguem identificar que os movimentos exigidos no balé clássico são, na verdade, antinaturais e, por isso, precisam de mais cuidado.
É mais do que comum vermos bailarinas que, por não terem essa consciência, se machucam. Alguns exemplos: tentam colocar a perna na cabeça jogando o peso para o joelho, flexionando-o levemente para frente; ou, para ter uma primeira posição 100% en dehor, joga o peso para a frente do pé (no dedão) e não para trás (no dedo mindinho por meio da rotação da pélvis), também machucando o joelho posteriormente.
Além da exigência exacerbada, a corrida para se ter meninas cada vez mais novas com técnicas de alunas adultas avançadas pode fazer com que elas cresçam com mais propensão à lesões e com vícios difíceis de serem cortados. Isso ocorre, porque, muitas vezes, a prática é baseada na repetição do que visualizam e não com a consciência e a diferenciação entre os padrões naturais do corpo e antinaturais artísticos do balé.
Assim, o primeiro passo é o autoconhecimento. Saiba como é o seu corpo, como ele se desloca, os seus limites e aplique essa sabedoria na execução dos movimentos do balé clássico. Espere seu tempo, fortifique seu corpo adequadamente, para que você dance de maneira mais saudável, prolongada e segura (sabendo exatamente como está executando a dança).
E aí, você sabe como seu corpo se movimenta!?